Com provável vitória de um dos dois candidatos de direita, as eleições da Bolívia, de domingo, dia 17, vão decorrer, ainda assim, sob a sombra de Evo Morales, presidente do país sul-americano de 2006 a 2019 impedido, pelo Tribunal Constitucional, de concorrer a quarto mandato. “Mas continuarei lutando nas ruas e nas estradas”, disse nas últimas horas à agência AFP o líder indígena, que está foragido da Justiça.Desde 2024, Morales está refugiado em Lauca Eñe, uma pequena cidade da região de Cochabamba, para escapar de um mandado de prisão por suposto tráfico de menores enquanto era presidente, acusação que ele nega. “Vou defender-me, não me vou embora. Dizem: ‘Evo vai fugir para Cuba’. Eu não vou fugir”, disse o ex-presidente. Um tribunal ordenou a prisão de Morales em janeiro por suposto abuso de uma adolescente e, desde então, vive recluso, protegido por apoiantes.Nas sondagens mais recentes, Samuel Doria Medina, 66 anos, milionário que fez fortuna como presidente da maior cimenteira do país e se candidata pela quarta vez, lidera com 21,2% das intenções de voto. Logo atrás do candidato do Bloque de Unidad, coligação de partidos de direita, está Jorge “Tuto” Quiroga, presidente de 2001 a 2002, com 20%, representando o Libre, aliança conservadora. Os dois devem defrontar-se a 19 de outubro na segunda volta e devolver a Bolívia à direita, 20 anos depois. Eduardo del Castillo, do Movimiento al Socialismo (MAS), a formação pela qual Evo Morales venceu três eleições, está num discreto 7.º lugar com meros 1,5% das intenções de voto. Castillo foi ministro do governo cessante, liderado por Luis Arce, que depois de se incompatibilizar com Morales, anunciou que não se recandidataria.Outro nome de esquerda, Andrónico Rodríguez, o presidente do Senado que chegou a ser apontado como herdeiro político de Morales, está em 5.º nas pesquisas de opinião, com 5,5%, pela Alianza Popular. “Mas votar em Andrónico é como votar em Lucho [Luis Arce]”, disse Evo, que, sem aliados na disputa, apela ao voto nulo. “Estou com o meu povo, não abandonarei o povo boliviano”, disse ainda o histórico líder, que se exilou por um ano em 2019 após ser forçado a renunciar após protestos, sob acusações de fraude nas eleições daquele ano, dando lugar ao aliado Arce, que depois se recusou a sair do poder para abrir caminho ao antecessor, o que mergulhou o MAS numa enorme crise. Morales, que liderou protestos violentos e bloqueios de estradas contra Arce, a quem acusou de excluí-lo da disputa eleitoral em conluio com os juízes do país, promete agora não dar trégua ao próximo governo, provavelmente de direita, e que “regressará à batalha nas ruas e nas estradas”. .Presidente da Bolívia propõe 'desaparecimento' do Conselho de Segurança da ONU.Paraguai, uma joia no centro da América do Sul