"Deviam voltar para África". Comentário suspende trabalhos no parlamento francês

Comentário de deputado da extrema-direita causou indignação e levou à interrupção dos trabalhos do parlamento francês.
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A sessão do parlamento francês de quinta-feira foi tumultuosa depois de um deputado da extrema-direita ter dito "deviam voltar para África" quando um outro deputado negro questionava o governo sobre os imigrantes ilegais que tentam chegar à Europa. O comentário levou à interrupção dos trabalhos.

Carlos Martens Bilongo, deputado da França Insubmissa (LFI), partido de esquerda, questionava o governo sobre o pedido da ONG SOS Mediterrâneo para que Paris ajudasse 234 migrantes, resgatados no mar nos últimos dias, a encontrar um porto. "Eles deviam voltar para África", interrompeu Gregoire de Fournas, um deputado recém-eleito do Reagrupamento Nacional (RN) da líder da extrema-direita Marine Le Pen.

O incidente ocorreu numa altura em que o governo do presidente Emmanuel Macron está a ser criticado pelas políticas de imigração, sendo acusado deportar aqueles cujos pedidos de residência são negados.

O comentário considerado racista provocou revolta e indignação, com gritos de condenação, tendo alguns deputados exigido a saída do parlamento do deputado da extrema-direita.

A presidente da Assembleia Nacional, Yael Braun-Pivet, suspendeu a sessão depois de exigir saber quem tinha feito o comentário, numa intervenção extremamente rara no parlamento francês.

Mais tarde, De Fournas justificou o comentário ao dizer à estação de televisão BFM TV que o seu partido quer o fim de toda a imigração ilegal após um aumento do número de pessoas a tentar chegar a França, provenientes de África, nos últimos anos.

O deputado da extrema-direita acusou os representantes da França Insubmissa de "manipulação" e o seu partido, RN, também negou qualquer ataque pessoal a Bilongo, um professor de origem congolesa nascido em Paris.

Mais tarde, De Fournas pediu desculpas a Bilongo pelo "mal-entendido que os comentários causaram".

Jordan Bardella, favorito para assumir o lugar de Le Pen no congresso do RN neste fim de semana, insistiu que o deputado De Fournas estava a referir-se ao regresso dos barcos aos portos africanos e acusou a LFI e o governo de "extrema desonestidade".

"Grégoire de Fournas falou obviamente dos migrantes transportados em barcos pelas ONG", sublinhou Marine Le Pen numa mensagem publicada no Twitter.

O líder da LFI, Jean-Luc Melenchon, escreveu no Twitter que os comentários ultrapassaram o "intolerável" e que o deputado devia ser expulso da Assembleia Nacional.

Uma comissão parlamentar reúne-se esta sexta-feira para discutir o incidente, que pode levar De Fournas a ser punido com uma exclusão temporária da Assembleia Nacional.

O partido do presidente Macron recusa-se a participar noutras sessões parlamentares, a não ser que seja atribuída uma "pena pesada" ao deputado que proferiu a frase, fez saber o vice-presidente do partido no parlamento, Sylvain Maillard, no Twitter.

Um membro da comitiva de Macron disse que o presidente ficou "magoado" pelos comentários "intoleráveis", enquanto a primeira-ministra Elisabeth Borne pediu ao parlamento que sancione o deputado de extrema-direita, acrescentando: "o racismo não tem lugar na nossa democracia".

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