O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse esta quinta-feira, 17 de julho, que Israel vai continuar a agir militarmente na Síria para garantir o cumprimento do que diz serem duas “linhas vermelhas”: a desmilitarização da área a sul de Damasco e a proteção da minoria drusa. As declarações de Netanyahu surgem após o presidente interino sírio, Ahmed al-Sharaa, ter anunciado um cessar-fogo com os drusos na região de Sueida, palco de violência sectária nos últimos dias, mas também ter acusado os israelitas de tentar dividir a sociedade síria.“O cessar-fogo foi assinado à força, não através de pedidos, não através de planos, mas pela força”, disse Netanyahu, num vídeo partilhado nas redes sociais, acusando Al-Sharaa de ter violado as “duas linhas vermelhas” de Israel. “Enviou o seu exército para sul de Damasco, numa área que devia ser desmilitarizada, e começou a massacrar os drusos. Não podíamos aceitá-lo”, afirmou. “Agimos e vamos continuar a agir se for necessário”, referiu. O presidente interino sírio enviou as forças de segurança para a região de Sueida, no sul da Síria, em resposta à violência sectária entre milícias drusas e tribos beduínas - nos últimos dias terão morrido mais de 350 pessoas, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. .Síria denuncia “agressão traiçoeira” de Israel após ataque a Damasco.Mas em vez de ajudarem a travar a violência, as forças de segurança foram acusadas de se aliar aos beduínos contra os drusos. O que desencadeou a resposta militar israelita (que incluiu um bombardeamento ao Ministério da Defesa em Damasco). Netanyahu disse que agiu a pedido dos “irmãos” drusos israelitas. O cessar-fogo alcançado entre as forças de Al-Sharaa e as milícias drusas (elas próprias divididas sobre o caminho a seguir) implicou a retirada das forças de segurança de Sueida. O presidente interino afirmou, numa declaração transmitida pela televisão síria, que a “responsabilidade” pela segurança na região foi transferida para os líderes religiosos e para algumas fações locais “com base no supremo interesse nacional”.Proteção aos drusosAl-Sharaa voltou entretanto a prometer proteger a minoria drusa, que considera parte essencial da sociedade síria. “Estamos ansiosos por responsabilizar aqueles que transgrediram e abusaram do nosso povo druso, porque estão sob a proteção e responsabilidade do Estado”, disse. Já em março, após o massacre de centenas de alauítas (minoria à qual pertencia o antigo presidente Bashar al-Assad) prometeu levar os responsáveis à justiça.Mas os críticos do presidente, um sunita que chegou a pertencer à Al-Qaeda e que derrubou o regime de Assad em dezembro, acusam-no de não ter o controlo sobre as suas forças. Desde que assumiu o poder, Al-Sharaa (que trocou o uniforme militar pelo fato e gravata) tem defendido a união dos sírios. Mas o seu Governo é dominado pelos sunitas, alguns dos quais jihadistas, o que gera desconfiança entre as minorias que, no anterior regime, gozavam de proteção. “A construção de uma nova Síria exige que todos nos mantenhamos unidos em apoio do nosso Estado, que nos comprometamos com os seus princípios e que coloquemos o interesse da nação acima de qualquer interesse pessoal ou limitado”, disse o presidente sírio. “Rejeitamos qualquer tentativa, estrangeira ou nacional, de semear a divisão nas nossas fileiras”, defendeu.“Israel, que tem consistentemente visado a nossa estabilidade e semeado a discórdia desde a queda do antigo regime, procura agora mais uma vez transformar a nossa terra sagrada num teatro de caos sem fim”, acrescentou. Israel, que ocupou os Montes Golã há quase meio século, aproveitou o vazio de poder pela queda de Assad para entrar ainda mais em território sírio e até construir bases militares. A zona desmilitarizada que Netanyahu exige vai dos Montes Golã até Jabal al-Druze (a montanha dos drusos).“Não vamos deixar que o sul da Síria se torne num bastião de terrorismo”, indicou o chefe do Estado Maior das IDF, Eyal Zamir, numa visita aos Golã. O general avisou ainda que “não há espaço para desordem perto da vedação fronteiriça”, depois de um milhar de drusos israelitas terem atravessado a fronteira fortemente fortificada na quarta-feira, para ir em apoio dos drusos sírios. Netanyahu pediu-lhes que não o fizessem, falando no risco de serem mortos e raptados, e que deixassem a situação nas mãos das IDF, tendo muitos deles já regressado. Contudo, ainda haverá dezenas na Síria. Houve também drusos sírios que cruzaram a fronteira para Israel, não sendo claro o que lhes irá acontecer. Apoio internacionalO acordo de cessar-fogo com os drusos foi mediado pela Turquia, com o apoio dos EUA e os países árabes. Al-Sharaa chegou ao poder com o apoio do presidente turco, que esta quinta-feira acusou Israel de “usar” os drusos” como desculpa para os seus saques na Síria”. Recep Tayyip Erdogan disse que “a Turquia insistirá para que a integridade territorial da Síria e a sua estrutura multicultural se mantenham como estão. Vemos tentativas de sabotar o cessar-fogo que alcançámos em Damasco, o que prova que Israel não quer a paz com a Síria”.Al-Sharaa já conseguiu a normalização das relações com os EUA e a União Europeia, que já aceitaram levantar muitas das sanções que tinham imposto ao regime de Assad. Falava-se que também estaria em negociações com Israel - país com que, tecnicamente, ainda está em guerra - não sendo claro o que vai acontecer agora. Entretanto, e apesar do cessar-fogo, a violência sectária não terá acabado na região de Sueida. Segundo os media estatais sírios, grupos armados drusos estariam a massacrar os beduínos - muitos dos quais tentavam fugir desta zona. Por seu lado, os beduínos estariam a planear um contra-ataque.