À medida que as autoridades e os meios de comunicação australianos adiantam mais pormenores sobre os autores do ataque terrorista executado no domingo, na praia de Bondi, em Sydney, mais questões se levantam sobre a aparente inação dos serviços de segurança. Por outro lado, a ligação entre o Estado Islâmico (EI) e Sajid e Naveed Akram, o pai e filho que alvejaram judeus presentes numa celebração do hanucá, matando 15 pessoas e ferindo dezenas, aparenta ser maior do que a bandeira encontrada no para-brisas do automóvel de Sajid. O grupo terrorista, que há meses sofreu um ataque dos Estados Unidos, volta a dar sinais de que está longe da sua extinção. “Parece haver indícios de que isto foi inspirado por uma organização terrorista, pelo Estado Islâmico”, disse o primeiro-ministro australiano. Anthony Albanese confirmou as informações partilhadas pelo Serviço de Imigração das Filipinas, de que os Akram chegaram àquele arquipélago no dia 1 de novembro, tendo como destino final a cidade de Davao, em Mindanao. Esta ilha, a segunda maior das Filipinas, é há décadas um caldeirão em que da minoria muçulmana emergiu um movimento armado de autodeterminação liderado pelo grupo Abu Sayyaf. Quer este, quer o Dawlah Islamiya — que em 2017 sitiou a cidade de Marawi durante cinco meses — têm ligações ao Estado Islâmico. No entanto, disse Albanese, não há neste momento “provas de conluio” entre os dois homens e os líderes locais afiliados ao EI..Terrorismo em família e um herói sírio no ataque de Bondi.A versão contada à estação australiana ABC é outra. Segundo um responsável pelo combate ao terrorismo, os Akram receberam formação de tipo militar e os investigadores estavam a analisar os seus laços com uma rede jihadista. Também foi revelado que os movimentos de Sajid e Naveed foram seguidos através dos cartões de telemóvel e dos movimentos dos seus cartões bancários — o que, a confirmar-se, levanta questões sobre a forma como os serviços de informações australianos (ASIO) terão aparentemente vigiado os dois homens no estrangeiro, para depois não o fazerem no próprio país. Da Índia veio ainda a informação de que Sajid era natural de Haiderabade, de onde emigrou em 1998. Segundo a polícia do estado de Telangana, a família de Akram parecia desconhecer a sua “radicalização”.Há um ano, com a queda do regime da família Assad, os EUA levaram a cabo um ataque aéreo que atingiu nada menos do que 75 alvos do EI na Síria para evitar que este se aproveitasse do vazio de poder. Nessa altura, a organização terrorista fundada há mais de uma década por Abu Bakr al-Baghdadi, parecia ter ficado tão ou mais fragilizado do que em 2019, quando os EUA declararam a derrota do califado que foi combatido, recorde-se, por uma aliança internacional que incluiu curdos, forças de países ocidentais, e iranianos (no Iraque). Em 2024, o EI fez em média 59 ataques por mês, e em janeiro executou apenas dois. Mas o grupo reorganizou-se e tem centrado a sua atividade no nordeste da Síria, onde ataca as Forças de Segurança da Síria (SDF), comandadas pelos curdos. No sábado, um ataque em Palmira matou dois soldados dos EUA e um intérprete, também norte-americano. O atacante, membro das SDF, será do Estado Islâmico. As autoridades locais estimam que o grupo fundamentalista islâmico terá entre 2500 e 3000 combatentes. Apesar de ter perdido a visibilidade que já teve online, está “a explorar a indignação emocional dos muçulmanos” relacionada com a guerra em Gaza como ferramentas de recrutamento, disse ao The Washington Post uma fonte árabe.Atentados recentes do Estado Islâmico ou por ele inspirados incluem o atropelamento em massa nas ruas de Nova Orleães, EUA, nas primeiras horas de 2025 (14 mortos); ou o ataque na sala de espetáculos Crocus, em Moscovo, em março de 2024 (149 mortos). O papel dos serviços de informações em impedir atentados tem sido cada vez crítico. Também em 2024, a CIA avisou as autoridades austríacas de que se preparava um do EI em Viena, num concerto de Taylor Swift. No sábado, a polícia alemã prendeu cinco pessoas (um egípcio, três marroquinos e um sírio) suspeitas de preparar um ataque terrorista num mercado de Natal. A polícia disse que o egípcio, imã numa mesquita em Dingolfing-Landau, na Baviera, tinha pedido que fosse realizado um ataque a um mercado de Natal "usando um veículo para matar ou ferir o maior número possível de pessoas". No ano passado, um atropelamento em massa num mercado de natal em Magdeburgo matou seis pessoas e feriu mais de 300. Em 2016, foram 12 as vítimas mortais num atentado com o mesmo modus operandi, em Berlim. Outros heróis com sortes diferentes O feito de Ahmed al-Ahmed, o imigrante sírio que desarmou o mais velho dos terroristas, foi reconhecido mundo fora. Mas o dono de uma frutaria não foi o único que arriscou a vida para tentar pôr fim à matança. Um refugiado do Médio Oriente, cuja identidade a advogada preferiu não revelar em declarações à CNN, deu um pontapé na arma que o atirador mais novo tinha na sua posse, depois de este ter sido atingido pela polícia. Na confusão, foi confundido com os atacantes, mas saiu ileso. Sorte inversa tiveram os Gurmans, casal judeu de origem russa que imigrou da URSS. Um vídeo mostra Boris em luta com Sajid Akram junto do automóvel deste, enfeitado com uma bandeira do Estado Islâmico no pára-brisas. Boris e Sofia Gurman foram mortos no seguimento da tentativa de desarmar o islamista.