O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, vai ser recebido esta segunda-feira à noite pelo presidente norte-americano, Donald Trump, na Casa Branca. Na agenda do encontro está o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, que Israel e o Hamas continuam a negociar no Qatar, mas também celebrar a vitória sobre o Irão. Contudo, estas são apenas duas das sete frentes de guerra em que Israel diz estar envolvido. O ataque do 7 de outubro de 2023, no qual morreram cerca de 1200 pessoas e 240 foram feitas reféns, marcou o início da guerra na Faixa de Gaza - na qual já terão morrido mais de 57 mil palestinianos. Mas também nas restantes frentes. Desde então, Israel bombardeou o Líbano e o Iémen, o regime de Bashar al-Assad caiu na Síria e houve a “guerra dos 12 dias” com o Irão, atrasando meses (segundo alguns) ou dizimando completamente o programa nuclear (segundo os EUA). E se algumas das frente de guerra parecem estar mais calmas - fala-se da possível normalização das relações com a Síria - outras estão a reacender. Os Houthis afundaram de um navio no Mar Vermelho e continuam a lançar mísseis contra Israel, que respondeu bombardeando três portos do Iémen. Como estão afinal as sete frentes de guerra?.Netanyahu não cede e confia no apoio de Trump para um acordo à sua medida. Hamas e Faixa de GazaAntes da reunião com Netanyahu, Trump mostrava-se confiante de que será possível esta semana um acordo de cessar-fogo que permita a libertação dos reféns. O primeiro-ministro israelita não parecia disposto a ceder a um acordo que não garanta o fim do Hamas, mas a sua equipa continuava a negociar em Doha e rejeitava a ideia de um impasse. Contudo, as fontes palestinianas diziam à Reuters que a recusa da parte de Israel de permitir a entrada de ajuda humanitária de forma livre continua a ser um obstáculo. O Hamas não quer que a ajuda passe pela Fundação Humanitária de Gaza, financiada pelos EUA, considerando que os seus centros de distribuição são uma “armadilha mortal”. Segundo os números do governo do enclave, controlado pelo grupo terrorista, mais de 600 pessoas morreram ao tentar obter ajuda. Entretanto, o ministro da Defesa israelita, Israel Katz, revelou que o Governo de Netanyahu estará a planear criar um acampamento nas ruínas de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, para alojar 600 mil palestinianos que ficariam “livres” do Hamas. Contudo, uma vez que entrem nesse local, não vão poder voltar a sair.Cisjordânia e colonosEm paralelo à guerra na Faixa de Gaza, Israel intensificou as operações na Cisjordânia, alegando querer travar o terrorismo. E crescem os apelos em Israel para a anexação da Judeia e Samaria (os nomes pelos quais designam o território ocupado). Há um mês, foram aprovados 22 novos colonatos (entre a legalização de alguns ilegais, o alargamento de legais e a criação de outros) e continuam a nascer mais sem autorização. Além disso, a destruição de casas palestinianas prossegue a um ritmo elevado. Pelo menos mil palestinianos morreram neste território, seja em confrontos com os militares israelitas, quer na violência com os colonos. Os próprios soldados ficaram sob fogo há pouco mais de uma semana, quando colonos extremistas atacaram uma base militar. O Governo de Netanyahu reagiu reforçando a segurança das suas forças. Hezbollah no LíbanoApós quase um ano de trocas de tiros diários na fronteira com o Líbano, Israel lançou a sua operação surpresa contra o Hezbollah em setembro de 2024, fazendo detonar os pagers usados pelos membros do grupo xiita libanês para comunicar. Dias depois, Israel lançava uma campanha de bombardeamentos e assassinava o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e muitos outros dirigentes do grupo, iniciando uma invasão terrestre já em outubro. O cessar-fogo seria acordado já em novembro, mas Israel continua a bombardear o Líbano cada vez que considera haver uma ameaça. Israel manteve cinco postos de controlo no sul do país, tendo o Hezbollah (que além de um grupo terrorista é também um partido político) sido obrigado a recuar para norte. Os israelitas dizem que só vão retirar quando o grupo xiita estiver completamente desarmado, mas o líder do Hezbollah, Naim Kassem, recusa fazê-lo (pelo menos totalmente) dizendo que precisa de armas para continuar a defender o Líbano de Israel. Entretanto, o enviado especial dos EUA Thomas Barrack esteve esta segunda-feira em Beirute, dizendo-se “incrivelmente satisfeito” com a resposta do Governo libanês à proposta para desarmar o Hezbollah - o plano é que isso aconteça em quatro meses.Pós-Assad na SíriaNetanyahu reivindicou parte do crédito pela queda, em dezembro, de Bashar al-Assad na Síria, considerando que a sua guerra nas outras frentes ajudou a debilitar o regime. Mas o rebelde islamita que conquistou Damasco e se senta agora na presidência, Ahmed al-Sharaa, não é o favorito de Israel - que aproveitou o caos para alargar a zona de segurança na fronteira, nos montes Golan, e destruir instalações militares ligadas ao anterior regime. Mas Al-Sharaa, que foi apoiado pela Turquia, tem vindo a conquistar espaço internacional e conseguiu que EUA (já se encontrou com Trump) e União Europeia retirassem as sanções à Síria. Os norte-americanos estarão precisamente a tentar negociar um acordo entre sírios e israelitas que pudesse acalmar a situação na fronteira, com Trump alegadamente a querer que a Síria faça parte dos acordos de Abrãao. Isso poderá ainda demorar, mas já houve negociações diretas entre Israel e Síria para um acordo de normalização das relações.Houthis no IémenOs rebeldes iemenitas, que chegado a acordo com os EUA para deixar de atacar os navios norte-americanos no Mar Vermelho, afundaram um navio de bandeira liberiana neste domingo. Foi o primeiro este ano. O Magic Seas foi atacado com mísseis e drones, e a tripulação obrigada a fugir.O acordo com os EUA não implicava o fim dos ataques a outros navios, nem mesmo do lançamento de mísseis contra Israel, que continuaram nos últimos meses. Os israelitas responderam no domingo com o bombardeamento de três portos iemenitas. Os Houthis continuam contudo a insistir nos seus ataques, estando “totalmente preparados para um confronto prolongado com Israel”. Milícias no IraqueDas sete frentes, tem sido a menos ativa, limitando-se ao lançamento de rockets e drones principalmente no início da guerra da Gaza contra alvos norte-americanos no Iraque e na Síria. Esses ataques acabaram contudo em janeiro de 2024, depois de três militares norte-americanos terem sido mortos.Mesmo durante a guerra contra o Irão, as milícias iraquianas apoiadas por Teerão limitaram-se a subir o nível da retórica e a lançar alguns rockets. Para isso contribui o facto dessas milícias fazerem parte da forças de defesa estatais do Iraque, estando a beneficiar económica e politicamente dessa ligação ao Estado e não querendo por isso em risco.Irão e o “eixo do mal”A guerra pode ser em sete frentes, mas há um eixo do mal em comum a muitas delas - o Irão. Teerão financia o Hamas e o Hezbollah, a quem também fornece armas, apoia os Houthis e as milícias xiitas no Iraque. Há anos que Netanyahu alertava para o programa nuclear iraniano, tendo decidido agora atacá-lo por considerar que este representava uma “ameaça existencial”.Depois de matar mais de uma dezena de cientistas e de dirigentes militares iranianos, Netanyahu conseguiu convencer Trump a atacar as três principais instalações nucleares do país, com o presidente dos EUA a considerar que o programa foi “aniquilado”. Mas existem dúvidas da capacidade de Teerão de recuperar o que perdeu.O cessar-fogo foi declarado, mas não são claros os pormenores. E Netanyahu espera obter de Trump a luz verde para voltar a atacar se os iranianos tentarem recuperar o programa nuclear.