Da emergência da pandemia para a crise da energia e da inflação

Von der Leyen deve anunciar medidas urgentes que passam pela criação de uma taxa sobre os lucros das empresas energéticas e um corte obrigatório no consumo.

Energia, inflação, guerra. Depois de dois discursos dominados pela pandemia da covid-19, a presidente da Comissão Europeia vai esta quarta-feira dirigir-se aos eurodeputados, e aos europeus em geral, com as populações preocupadas, já não por uma doença infecciosa e mortal, em 2020, ou sobre a distribuição das vacinas e a recuperação económica, em 2021, mas sobre as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia. Face a tudo isto, as empresas de energia irão ter de partilhar parte dos seus lucros, com uma "contribuição solidária".

Em relação aos preços da energia, Ursula von der Leyen reconhece que a Comissão Europeia tem de atuar de forma "rápida e coordenada". Num texto que a Bloomberg News revelou na segunda-feira, o retrato é o de que "o aumento dramático dos preços da eletricidade que se observa está a pressionar as famílias, as pequenas e médias empresas e a indústria, e corre o risco de causar danos sociais e económicos mais vastos", pelo que a dirigente alemã terá apresentado esta terça-feira um plano ao colégio de comissários, o qual será revelado no discurso.

Segundo a Bloomberg, será criada uma taxa "excecional e temporária" sobre os lucros adicionais das empresas da indústria do petróleo, do gás, do carvão e das refinarias. De acordo com as previsões da Comissão, estas empresas verão os lucros quintuplicarem neste ano, pelo que a "contribuição solidária" cairá bem junto dos cidadãos.

A outra medida que Von der Leyen deverá anunciar relativa à energia é sobre a redução do consumo. Segundo o documento, que era ainda uma versão não-final, há uma meta para a redução do consumo global e uma medida obrigatória de redução da procura durante determinadas horas de pico.

A sugestão de limitar o preço do gás russo ficará na gaveta. Vários países dependentes mostraram receio de que Vladimir Putin feche a torneira.

O objetivo poderá passar por reduzir o consumo entre três e quatro horas por dia da semana. Mas também pode incluir horas em que se espera que a produção de eletricidade a partir de energias renováveis seja baixa - "medidas excecionais para baixar os preços da energia", como advogou na véspera a primeira-ministra finlandesa Sanna Marin durante o seu discurso aos deputados sobre a Europa.

Ao que indica o The Guardian, a sugestão de limitar o preço do gás russo fica na gaveta. Vários países altamente dependentes dos fornecimentos de Moscovo mostraram-se receosos de que Vladimir Putin cumpra a ameaça de fechar a torneira por completo.

De acordo com o Eurobarómetro, 87% dos europeus quer que a UE invista de forma maciça em energias renováveis e percentagem análoga (86%) quer uma redução da dependência das fontes de energia russas. A maior preocupação, porém, é a subida do custo de vida (ao nível nacional e europeu) e a segunda o fornecimento de energia (idem), e com 51% dos inquiridos a dizer que a situação económica europeia é má.

O discurso de Von der Leyen não irá esgotar-se nestes temas. Com a presença da primeira dama ucraniana Olena Zelenska nas galerias, a presidente da Comissão não poderá deixar de renovar o apoio à Ucrânia, num momento em que no seu país o chanceler Olaf Scholz está cada vez mais isolado por não enviar para Kiev tanques e outro material. Também não vai esquecer-se de sinalizar o caminho europeu que a Ucrânia e a Moldávia, numa primeira linha, e a Geórgia, numa segunda, passaram a ter em junho.

Falta de transparência

A pandemia e a saúde dos europeus deverão continuar a receber atenção da dirigente, ou não fosse médica de formação. Sobre a democracia e Estado de Direito, as suas propostas - incluindo novas regras para o financiamento dos partidos políticos europeus - ficam manchadas pelo relatório do Tribunal de Contas Europeu sobre a compra de vacinas contra a covid à Pfizer.Segundo o documento, a presidente da Comissão recusou-se a esclarecer qual foi o seu papel nas negociações. "Não é uma situação que nós, no tribunal, normalmente nos deparamos", comentou ao Politico um membro do órgão com sede no Luxemburgo.

A transição energética para uma sociedade sem emissões de carbono será outro tema que ocupará Ursula von der Leyen.

cesar.avo@dn.pt

O jornalista viajou a convite do Parlamento Europeu.

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