Maria Corina Machado é a principal voz da oposição venezuelana.
Maria Corina Machado é a principal voz da oposição venezuelana.by Juan BARRETO / AFP

Corina Machado rejeita novas eleições na Venezuela e oferece ata da oposição para revisão

A líder da oposição a Maduro garante que o resultado das eleições de 28 de julho "não é negociável".
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A líder da oposição venezuelana María Corina Machado rejeitou, em entrevista ao jornal espanhol El País, a realização de novas eleições e está disponível para mostrar os registos eleitorais aos quais a posição teve acesso.

María Corina Machado sublinha que o resultado das eleições presidenciais de 28 de julho "não é negociável" nem a "soberania popular" que, afirma, deu o seu apoio maioritário ao candidato da oposição, Edmundo González.

"Na mente de quem se pode realizar outra eleição? Aqui já houve uma, nos termos do regime, com uma campanha absolutamente desigual (...). As atas que temos são documentos oficiais da CNE [Conselho Nacional Eleitoral] e, segundo as suas regras, vencemos, o mundo sabe que vencemos", reitera a líder da oposição venezuelana.

Numa entrevista publicada este domingo no jornal espanhol El País, Corina Machado disse que "o desafio é fazer com que Maduro entenda que a sua melhor opção é aceitar os termos de uma transição negociada", solução com a qual, como ele expressa, "muitos países, muitos governos estão alinhados".

"Acredito que é uma posição que une todos os países do mundo quando dizem que devemos ter uma verificação imparcial das atas", afirmou, acrescentando que os que estão nas mãos da oposição "estão à disposição de quem quiser analisá-los, verificá-los".

"Podem fazê-lo já", acrescentou, apontando para uma "base de dados aberta".

Já sobre Maduro, disse que "podemos agora falar de transição" mas não tanto "de negociação".

"Para que haja negociação é necessário que ambas as partes queiram (...). É uma negociação para a transição, não para a partilha do poder ou de outras ideias que surgiram", disse.

Paralelamente, a tarefa é "deter a repressão" que Maduro exerce sobre a sociedade civil.

"Estamos a falar de Maduro, que se vangloria diariamente de ter mais de 2.000 detidos, estão a tirar testemunhas eleitorais das suas casas, procuram quem foi voluntário no dia das eleições", descreveu.

Nesta linha de pensamento, a líder da oposição na Venezuela admitiu até que possa ser presa, bem como o candidato da oposição Edmundo González.

"Na Venezuela tudo é possível, sinto que no seu desespero Maduro escolheu o caminho mais perigoso, entrincheirando-se, cercando-se de um alto comando militar. Acho que é um grande erro da sua parte e um enorme risco para os venezuelanos", afirmou.

Oposição alerta que Supremo não pode bloquear resultado das presidenciais

A principal coligação da oposição na Venezuela já alertou que o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) não pode impedir o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de publicar os dados das eleições presidenciais de 28 de julho.

A Sala Eleitoral do STJ "nunca poderá ser instrumentalizada para impedir a CNE de cumprir etapas fundamentais do processo eleitoral, ligadas à fiscalização dos resultados", disse, no sábado, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), em comunicado.

A oposição recordou que o Conselho não publicou as atas, ao contrário do que estava previsto no calendário eleitoral, e que as auditorias após as votações "foram interrompidas pela CNE sem qualquer justificação".

Após anunciar a reeleição do Presidente Nicolás Maduro a 29 de julho, o presidente da CNE, Elvis Amoroso, comprometeu-se publicamente a publicar no portal do Conselho, no espaço de horas os dados oficiais.

"13 dias depois, nenhum destes compromissos foi cumprido", lamentou a oposição.

A coligação insistiu que cabe à CNE "garantir a transparência e fiabilidade" das eleições, pelo que considera "inaceitável que o procedimento seja cerceado" para "colocar alegados resultados não auditados ou desagregados sob o manto da opacidade".

Horas antes, o STJ tinha anunciado a peritagem do material eleitoral dos partidos e candidatos das presidenciais de 28 de julho, cujos resultados são contestados pelos opositores.

A presidente do STJ, Caryslia Rodríguez, explicou que o tribunal vai realizar também uma peritagem sobre "o ciberataque massivo a que foi sujeito o sistema eleitoral venezuelano".

A peritagem, indicou ainda Rodríguez, tem como propósito "produzir uma sentença definitiva", que terá "o caráter de caso julgado", uma vez que o STJ "é a máxima instância judicial em matéria eleitoral, pelo que as suas decisões são inapeláveis e de acatamento obrigatório".

A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, realizou eleições presidenciais em 28 de julho, após as quais o CNE atribuiu a vitória a Maduro com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição reclama que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia, obteve quase 70% dos votos.

A oposição venezuelana e diversos países da comunidade internacional denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente, o que o CNE diz ser inviável devido a um "ciberataque" de que alegadamente foi alvo.

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