O sucesso da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), que arranca esta segunda-feira (10 de novembro) oficialmente às portas da Amazónia em Belém do Pará vai depender em primeiro lugar que “haja um acordo” e depois de “ações concretas”. Essa é a opinião da ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, que vai estar à frente das negociações por Portugal. “É preciso deixar as grandes declarações, a grande ambição e passar a ações concretas que sejam possíveis de começar a aplicar já. E ações concretas da mitigação, da redução das emissões, da adaptação às alterações climáticas e da transição justa”, disse ao DN. E sempre com a ideia de envolver as pessoas.O Brasil lançou a ideia de um “mutirão” global, usando a palavra de origem tupi que designa uma mobilização coletiva de pessoas para realizar um trabalho, seja agrícola ou de construção, com base na ajuda mútua e solidariedade. “A presidência da COP30 propõe via mutirão uma nova forma de governança climática: mais participativa, mais justa, mais solidária. Porque quando nos unimos em torno de um propósito comum, criamos algo maior. Um todo mais potente do que a soma de todas as partes”, dizem os brasileiros. “Temos que sair um bocadinho da bolha dos negociadores e daquela nomenclatura em que ninguém percebe o que é que nós estamos a dizer”, resumiu a ministra, reiterando a ideia de que as alterações climáticas são um conceito “irreversível” para as pessoas, que sofrem na pele os seus efeitos, seja por exemplo nos grandes incêndios ou nas cheias. Daí ser importante apostar na questão da adaptação, sem esquecer a mitigação, isto é, os esforços para reduzir as emissões. “É a hora da ação climática”, concorda o presidente da ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável , Francisco Ferreira, que também estará em Belém. “Há muito esta perspetiva que, mais uma vez, temos que passar à ação e não apenas ficar com os textos, com os documentos”, afirmou num briefing aos jornalistas.O Brasil colocou esta como a “COP da implementação”, com Francisco Ferreira a enumerar as duas prioridades: os novos compromissos dos países em termos de meta de redução de emissões e a concretização do financiamento. Em relação às Contribuições Nacionalmente Determinada (NDC’s na sigla inglesa), as terceiras desde o Acordo de Paris há dez anos, o que já está contabilizado fica “muito aquém” do necessário para cumprir a meta de limitar o aquecimento climático a 1,5ºC em comparação com níveis pré-industriais. Antes da COP30, a União Europeia chegou a acordo para uma redução de gases de efeito de estufa entre 66,25% e 72,5% até 2035 - sendo que só o segundo valor está em linha com os objetivos de Paris. A ministra admitiu que Portugal gostaria que houvesse só o segundo número, mas lembra que há países com dificuldades em chegar aos valores pedidos - como a Polónia, ainda muito dependente do carvão, por exemplo. E congratula-se com os 90% de meta (85% mais 5% de créditos internacionais) até 2040.Em relação ao financiamento, a ZERO diz que é preciso operacionalizar a nova meta decidida no ano passado na COP29 em Baku, com um roteiro para se atingir 1,3 biliões de dólares por ano, garantindo uma adequada repartição público-privada e onde o financiamento público deve ser de pelo menos de 300 mil milhões de dólares por ano.“É tempo de agir: a COP30 deve ser a COP da implementação, com ação real, financiamento desbloqueado e medidas de adaptação, para manter o aquecimento no limiar de 1,5 °C, proteger as populações mais vulneráveis e garantir uma transição que não deixe ninguém para trás”, defendeu o presidente da ZERO. Na questão da transição justa, Francisco Ferreira destaca o maior peso da sociedade civil, que desta vez vai poder pronunciar-se sem ser apenas à margem da conferência. Uma das apostas da presidência brasileira é no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) - para o qual Portugal já contribuiu com um milhão de euros, ajudando a que metade da meta inicial de 10 milhões de dólares já esteja garantida. A ideia é reunir recursos públicos e privados para investir em projectos que contribuam para a protecção das florestas tropicais e que, ao mesmo tempo, gerem lucro. A diferença entre o rendimento obtido e o valor pago aos investidores será utilizada para compensar financeiramente os países que preservam as suas florestas tropicais. Pavilhão português desenhado por Souto de Moura.A inauguração do pavilhão de Portugal na COP30 está marcada para as 15h30 locais (18h30 em Lisboa) desta segunda-feira (10 de novembro). O pavilhão, resultado da cooperação que existe entre a Agência para ao Clima e a Casa de Arquitetura em Matosinhos, foi desenhado pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura, tendo mobiliário do arquiteto Álvaro Siza Vieira. O tema é a água, que é uma das prioridades do Governo português, e a cerimónia de inauguração contará com a atuação de António Zambujo. O pavilhão vai acolher meia centena de eventos ao longo da COP30, sendo que dois ou três são promovidos pelo Governo e os restantes por universidades, ONGs, empresas, etc.