O presidente brasileiro, Lula da Silva, avisou esta quinta-feira (6 de novembro) que “a janela de oportunidades para agir” e combater as alterações climáticas “está a fechar-se rapidamente”. No início da Cúpula de Líderes, que antecede a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30) em Belém do Pará, Lula explicou que o planeta está a caminhar para um aumento de 2,5 graus Celsius na temperatura até ao final do século (a meta dos Acordos de Paris era ficar abaixo dos 1,5 graus), lamentando que “a desconfiança mútua e os interesses egoístas” estejam a prevalecer “sobre o bem comum”.No seu discurso diante de meia centena de chefes de Estado e Governo, o presidente brasileiro disse que “é o momento de levar a sério os alertas da ciência” e atacou as “forças extremistas que fabricam inverdades” sobre o clima para “obter ganhos eleitorais” - e condenando as gerações futuras a um planeta para sempre alterado pelo aumento das temperaturas. Um aparente recado para o homólogo norte-americano, Donald Trump, que não está em Belém e assinou em janeiro, no primeiro dia no regresso à Casa Branca, uma ordem executiva a anunciar a intenção de tirar os EUA do Acordo de Paris. Outros líderes, do campo da esquerda, foram mais diretos. O chileno, Gabriel Boric, disse que Trump “mentiu” quando disse que a crise climática não existe. Já o colombiano, Gustavo Petro, disse que ele “é contra a humanidade”. Quem também enviou um recado aos EUA foi o vice-primeiro-ministro chinês, Ding Xuexiang - o presidente Xi Jinping é outro dos ausentes. No discurso, defendeu que “precisamos de remover as barreiras comerciais” e “reforçar a colaboração internacional” para atingir as metas globais de sustentabilidade.“Bússola para a COP30”Lula falou da Cúpula de Líderes como ponto de partida para a COP30, que começa na segunda-feira, 10 de novembro, e decorre até dia 21. “As palavras ditas aqui serão bússola da jornada a ser percorrida pelas delegações”, referiu o presidente brasileiro. “As convergências já são conhecidas. O nosso objetivo é enfrentar as divergências”, reforçou Lula, considerando que para avançar é preciso superar “dois descompassos”. O primeiro desses “descompassos” é “a desconexão entre os salões diplomáticos e o mundo real”, defendendo que é “crucial” a participação da sociedade civil no debate. O segundo é o “descasamento com o contexto geopolítico”. Nesse ponto, lembrou que “rivalidades estratégicas e conflitos armados desviam a atenção e recursos que deviam ser destinados para enfrentar o aquecimento global”.Discursando antes de Lula, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, qualificou de “falha moral” e “negligência mortal” o atraso na luta contra as alterações climáticas, reiterando que a ONU não vai desistir da meta de limitar o aumento das temperaturas a 1,5 graus Celsius. Esta é uma “linha vermelha para a humanidade”, afirmou Guterres, dizendo que “falta coragem política” e instando os governantes a promover uma “mudança de paradigma fundamental” e trabalhar “com rapidez e em grande escala” para que os efeitos de passar esse limite possam ser minimizados.“Cada fração de grau a mais significa mais fome, mais deslocados, mais dificuldades económicas e mais vidas e ecossistemas perdidos. Cada ano acima de 1,5°C prejudicará as economias, aprofundará as desigualdades e infligirá danos irreversíveis - sendo os países em desenvolvimento, que menos contribuíram para isso, os mais afetados”, afirmou. Guterres reconheceu que os novos compromissos assumidos por cada país representam um avanço, mas “ainda estão muito abaixo do necessário”. A responsável pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), a argentina Celeste Saulo, disse no início do encontro que é agora “virtualmente impossível” limitar o aquecimento global a 1,5 graus acima dos níveis pré-industriais - uma meta estabelecida há uma década, no Acordo de Paris. “Não podemos reescrever as leis da física, mas podemos reescrever o nosso caminho”, defendeu, dizendo que é essencial cumprir essa meta até ao final do século. Os últimos dados da OMM, apresentados em Belém, indicam que este ano será o segundo ou o terceiro mais quente de que há registo, com uma temperatura média entre janeiro e agosto 1,42 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. .Portugal contribui para fundo das florestasLuís Montenegro anunciou que Portugal vai contribuir com um milhão de euros para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre. “Decidimos integrar os países fundadores deste movimento”, disse o primeiro-ministro português, em Belém. “É com muito entusiasmo e com o sentido de podermos dar um contributo que é decisivo para o futuro da humanidade, conscientes de que tudo aquilo que fizermos a favor da preservação da biodiversidade, dos ecossistemas, do equilíbrio ambiental, seja em que parte do planeta for, terá repercussão nas nossas vidas”, frisou. .Belém do Pará. Novos espaços e velhos problemas na COP da teimosia de Lula.Lula na abertura da COP30: "É o momento de levar a sério os alertas da ciência"