As negociações na conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP27) chegaram a um potencial acordo para a criação de um fundo de compensação aos países mais pobres que são vítimas de condições climáticas agravadas pela poluição das nações ricas..O anúncio faz ressurgir a esperança de que a 27.ª conferência internacional sobre o clima, que hoje de manhã parecia à beira do fracasso, consiga ser bem-sucedida.."Antes não conseguir qualquer acordo do que ficar com um mau acordo", afirmou, esta manhã, o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans.."Estamos preocupados com algumas das coisas que vimos e ouvimos nas últimas 12 horas", disse, acrescentando que o objetivo dos europeus é manter o limite do aquecimento global em 1,5º Celsius (C), o objetivo mais ambicioso do acordo de Paris..A presidência egípcia, criticada pela morosidade das negociações, acabou, no entanto, por publicar, no início da tarde de hoje, um muito aguardado projeto de texto final..A proposta ainda terá de ser discutida pelos negociadores dos quais 200 países reunidos em Sharm el-Sheikh, no Egito, mas basicamente reafirma os objetivos do Acordo de Paris de 2015, que visa limitar o aquecimento global a uma temperatura média "bem abaixo de 2°C" em relação à era pré-industrial e, se possível, ficar nos 1,5°C..O texto destaca que os impactos das alterações climáticas serão bem menos significativos se a variação for de 1,5°C e mostra a importância de "continuar os esforços" para respeitar este limite..Em relação à energia, o acordo defende o fim de "subsídios ineficientes a combustíveis fósseis", mas não promete o abandono do petróleo ou do gás..O texto também reafirma o objetivo de fechar gradualmente as centrais a carvão -- meta estipulada no ano passado em Glasgow --, mas agora acrescenta um apelo à aceleração do desenvolvimento de energias renováveis durante esta década..Esta conferência, que deveria ter terminado na noite de sexta-feira, esteve muito tempo sem consenso sobre as compensações a dar aos países que já sofrem danos devido às alterações climáticas, mas o texto apresenta uma proposta sobre o tema..O documento propõe estabelecer "novas formas de financiamento para ajudar os países em desenvolvimento" a "mobilizar recursos novos e adicionais"..Além disso, acrescenta uma reivindicação emblemática para os países pobres altamente expostos às alterações climáticas: a "criação de um fundo de resposta a perdas e danos", cujo funcionamento e financiamento terão de ser elaborados por um "comité de transição" até à COP28, a realizar nos Emirados Árabes Unidos no final de 2023..O tema dos danos já causados pelas alterações climáticas está, mais do que nunca, no centro dos debates após as inundações históricas que atingiram recentemente o Paquistão e a Nigéria..Os "facilitadores" deste 'dossier', no centro da fricção Norte-Sul, publicaram uma proposta de resolução com três opções, uma das quais resulta na criação de um fundo cujo funcionamento exato será depois determinado..A opção foi considerada, na sexta-feira, "aceitável com algumas mudanças" por Sherry Rehman, a ministra paquistanesa para as Alterações Climáticas e atual presidente do poderoso grupo de negociação G77 (países m desenvolvimento) + China..Os países ricos resistem, há anos, à ideia de um financiamento específico, mas a União Europeia abriu um precedente na quinta-feira ao aceitar o princípio de um "fundo de resposta para perdas e danos", reservado "aos mais vulneráveis" com " uma base alargada de contribuintes", insinuando que a China, que se tornou consideravelmente mais rica nos últimos 30 anos, deve contribuir também..Mas nem a China nem os Estados Unidos divulgaram ainda a sua posição..Os atuais compromissos dos diversos países estão longe de permitir o cumprimento do objetivo de aumento da temperatura em 1,5°C relativamente à era pré-industrial..Segundo análises da ONU, os acordos permitem, na melhor das hipóteses, limitar o aquecimento a 2,4°C até ao final do século, o que coloca a humanidade em risco de atingir pontos de inflexão irreversíveis e causar um descontrolo total do clima.