Funeral de um dos soldados mortos.
Funeral de um dos soldados mortos.EPA/ATED SAFADI

Como um drone do Hezbollah escapou à defesa de Israel e fez quatro mortos

Primeiro-ministro israelita prometeu, na visita à base militar atingida no domingo à noite, continuar a atacar o grupo xiita “sem piedade e em todas as partes do Líbano, incluindo Beirute”.
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Dos 1200 drones lançados contra Israel desde o início da guerra em Gaza, 221 terão conseguido passar os sistemas de defesa antiaérea. Um número muito menor atingiu zonas habitadas, causando danos ou fazendo vítimas. Mas bastou um para matar quatro soldados israelitas de 19 anos numa base no centro de Israel. E mostrar que o Hezbollah continua a ser um perigo, apesar de debilitado pelos ataques das últimas semanas contra as suas infraestruturas no Líbano e a morte de muitos dos seus líderes.

“As capacidades do Hezbollah continuam fortes e podem atingir no coração de Israel”, indicou uma fonte do grupo xiita libanês, citada pela Al-Jazeera, reivindicando o ataque em retaliação pelos bombardeamentos contra Beirute. “Continuaremos a atacar o Hezbollah sem piedade em todas as partes do Líbano, incluindo Beirute”, respondeu esta segunda-feira o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, numa visita à base perto de Binyamina. 

O drone atingiu a messe desta base de treino da brigada Gorani a cerca de 65 quilómetros da fronteira com o Líbano no domingo à noite, quando os militares das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) se juntavam para o jantar. Além dos mortos, houve 58 soldados que ficaram feridos - sete em estado grave. O ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, disse numa reunião do governo que apesar de o Hezbollah já ter perdido dois terços do seu arsenal de drones, basta um para causar danos significativos. 

Os drones são difíceis de detetar e destruir por serem pequenos, lentos, voarem a baixas altitudes e poderem mudar de direção de voo. Têm também muitas vezes componentes de plástico, o que faz com que tenham uma assinatura térmica menor do que os rockets ou mísseis para os quais está preparado o sofisticado sistema de defesa israelita - que inclui a Cúpula de Ferro (Iron Dome), a Funda de David e a Flecha 2 e 3. Um novo sistema de defesa, a laser, está a ser desenvolvido, mas só deverá estar pronto a usar em 2025.

Na segunda-feira ainda não era claro qual terá sido o drone usado pelo Hezbollah. Segundo o Ynet News seria um Sayyad 107, com 1,5 a 2 metros de envergadura de asas e capacidade para voar durante cem quilómetros. Mas o Jerusalem Post e o The Times of Israel falavam num Misrad, o nome dado pelo grupo xiita ao drone Ababil-T iraniano - o apoio de Teerão está na base do programa de drones do Hezbollah. O Misrad tem um alcance de 120 quilómetros, pode voar a três mil metros de altitude, alcançar uma velocidade máxima de 370 km/h e carregar até 40 quilos de explosivos.

O Hezbollah disse ter usado “um enxame de drones”, mas segundo os resultados preliminares da investigação (citados pelos media israelitas), só terá lançado três - e só dois para aquela área. Contudo, o ataque foi coordenado com o lançamento de rockets e mísseis, para manter as defesas antiaéreas ocupadas. Um dos drones terá sido destruído pela Marinha israelita e outro pela Cúpula de Ferro, segundo o The Times of Israel.

O terceiro foi detetado depois de ter entrado no território israelita vindo do mar e foi seguido por caças e helicópteros, que por duas vezes o terão tentado destruir. Mas acabou por desaparecer dos radares e pensou-se que se tinha despenhado. Ainda voltou a aparecer, mas por curto espaço de tempo e , meia hora depois, atingiu a base, sem que tivessem soado os alarmes. 

Segundo a imprensa israelita, por causa deste ataque, as IDF vão agora focar-se em destruir a liderança da Unidade 127, responsável pela produção, manutenção e a operação dos drones. do Hezbollah. Além disso, haverá uma alteração dos protocolos, alargando o raio de alerta (mesmo que isso possa levar a mais casos de falso alarme) e considerando ativos os objetos que desapareçam do radar até ser confirmado que não estão. 

Este não foi o primeiro drone a causar mortos entre os militares israelitas. Dez dias antes, um outro lançado desde o Iraque matou dois soldados numa base nos Montes Golã ocupados por Israel, fazendo ainda duas dúzias de feridos. Em julho, tinha sido um outro drone, lançado do Iémen, a atingir um edifício em Telavive, matando uma pessoa.

Enquanto procura aprender com este último ataque, Israel mantém os seus objetivos. A capital do Líbano não é bombardeada desde dia 11, havendo quem diga que Netanyahu terá sido pressionado a isso pelo presidente dos EUA, Joe Biden. A promessa de Bibi de uma resposta “sem piedade” até em Beirute poderá pôr à prova este alegado compromisso.

Esta segunda-feira, as IDF atingiram um edifício de apartamentos em Aito, uma localidade de maioria cristã no norte do país, longe dos principais redutos do Hezbollah no centro e no sul. Pelo menos 21 pessoas morreram, segundo a Cruz Vermelha libanesa. Já o Hezbollah lançou uma nova chuva de rockets contra Israel, fazendo soar as sirenes em mais de 180 localidades do centro do país. Pelo menos três mísseis foram intercetados pelo sistema de defesa, com as IDF a alegar ter destruído o lançador a partir de onde estes foram disparados. 

susana.f.salvador@dn.pt

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