Como o conflito na Ucrânia pode iniciar a III Guerra Mundial

Especialista norte-americano em assuntos militares aventa cinco situações em que a NATO pode entrar no conflito.
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Robert Farley é professor da Escola de Diplomacia Patterson na Universidade do Kentucky e especialista em assuntos militares, sendo autor de livros como Grounded: The Case of Abolishing the United States Air Force (2014) e Battleship Book (2016) e de artigos recentes como "Pode uma Ucrânia independente existir a par da Rússia?" ou "Como a América pode castigar a Rússia por uma invasão da Ucrânia".

No seu último artigo, publicado ontem no site de notícias militares norte-americano Real Clear Defense, Farley apresenta cinco cenários em que a situação na Ucrânia pode escalar num conflito entre a Rússia e a NATO, levando ao início da III Guerra Mundial. Mas este especialista salvaguarda que, em qualquer dos cenários, os dois lados do conflito terão várias oportunidades para voltar atrás e acalmar a situação.

A tomada de Kiev, Kharkiv e Odessa pode representar um perigo. De acordo com Robert Farley, ver estas cidades serem destruídas ao longo de semanas pode criar uma indignação pública de tal forma intensa no Ocidente que a NATO poderá estar disposta a correr o risco de uma intervenção militar. "Isso resultaria inicialmente numa zona de exclusão aérea em vez de ataques diretos contra forças russas na zona do conflito. A resposta russa definiria os termos para o resto do conflito", defende Farley.

A Rússia e a NATO têm negociado vários níveis de escalada desde o início da crise. Para este especialista em assuntos militares, se a Rússia achar que a situação diplomática ou militar está a atingir um determinado nível de escalada, poderá passar para o nível seguinte. "Militarmente, isso pode envolver o uso de uma arma nuclear na Ucrânia, um ataque contra outro país não-NATO, um grande ataque cibernético ou qualquer um dos vários outros cenários", diz Robert Farley. Perante este cenário, a NATO pode achar que deve intervir, seja apoiando diretamente a Ucrânia ou num teatro de operações diferente.

A Rússia tem-se mantido afastada das regiões da Ucrânia que fazem fronteiras com países da NATO, mas esta situação pode mudar, levando as forças ucranianas a fugirem e começarem a lançar ataques fora de portas, tendo ou não o aval da NATO, com o exército russo a sentir-se tentado a ripostar. "Infiltração, bombardeamentos ou ataques aéreos contra um país da NATO podem forçar uma resposta imediata de uma aliança profundamente preocupada com a sua credibilidade. Isso pode incluir ataques aéreos e de mísseis contra unidades responsáveis ao longo da fronteira", vaticina o norte-americano.

Seja para localizar ucranianos em fuga ou por acidente, um avião russo pode entrar no espaço aéreo da NATO, que é atualmente fortemente patrulhado por caças da organização. Neste cenário, a NATO poderia declarar uma zona de exclusão aérea parcial ao longo das fronteiras dos seus Estados-membros, levando a cabo ataques contra sistemas de mísseis terra-ar (SAM) da zona.

Para Robert Farley, "embora não saibamos tudo sobre as diretivas militares sob as quais os pilotos de ambos os lados operarão, poderíamos facilmente ver uma repetição do incidente de 2015 em que um F-16 turco derrubou um russo Su-24. A Rússia e a Turquia evitaram a escalada do conflito e, de facto, aproximaram-se politicamente nos anos seguintes, mas a situação política agora é muito mais tensa".

Até ao momento, a força aérea russa ainda não atacou nenhuma remessa de armas oriunda de países da NATO com destino à Ucrânia. Não é provável que estes comboios sigam com militares da NATO, mas neles pode estar um número representativo de ocidentais, nomeadamente combatentes voluntários. "A destruição de um ou vários comboios poderia despertar a simpatia do Ocidente pela intervenção direta, especialmente se parecesse que os ocidentais foram intencionalmente visados. A intervenção militar da NATO pode ser a declaração e o estabelecimento de um corredor para a Ucrânia", vaticina Robert Farley.

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