A Turquia prepara-se para acolher novas conversações de paz entre a Ucrânia e a Rússia na quinta-feira, um papel que já desempenhou logo em março de 2022, sem sucesso, tendo também servido, quatro meses depois, como mediador ao lado das Nações Unidas, aí com mais êxito, no acordo entre Moscovo e Kiev para desbloquear as exportações de grãos e fertilizantes dos portos ucranianos. Em setembro de 2022, a Turquia e a Arábia Saudita mediaram também uma grande troca de prisioneiros entre as duas partes. Além disso, nos últimos três anos, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, manteve uma série de encontros com Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky.“Devemos aproveitar esta oportunidade e a Turquia está pronta para prestar todo o tipo de apoio, incluindo negociações, para alcançar um cessar-fogo e uma paz duradoura”, assegurou Erdogan, no domingo, numa conversa telefónica com o russo Vladimir Putin e depois com o francês Emmanuel Macron. O líder turco descreveu ainda o encontro de quinta-feira como um “ponto de viragem histórico” para pôr fim ao conflito.Resta agora saber quem estará presente na quinta-feira em Istambul para negociar. A proposta de negociações “diretas e sem condições prévias” foi avançada no domingo pelo presidente russo, Vladimir Putin, que indicou também o dia e o local, adiando até lá a hipótese de um cessar-fogo.O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não tardou a garantir que irá “esperar por Putin na Turquia na quinta-feira”, dizendo ainda ter esperança “que desta vez os russos não procurem desculpas”.Uma incógnita é se o líder russo estará em Istambul ou não. Esta segunda-feira, o Kremlin garantiu que Putin estava a falar a sério sobre tentar encontrar a paz nas negociações que propôs na Turquia, mas não revelou quem representaria Moscovo. “Estamos empenhados numa procura séria de formas de uma solução pacífica a longo prazo”, afirmou Dmitry Peskov, referindo-se às negociações falhadas de 2022 na Turquia entre a Rússia e a Ucrânia. E acrescentou que “esta abordagem, que visa precisamente encontrar uma solução diplomática real para a crise ucraniana, eliminando as causas profundas do conflito e estabelecendo uma paz duradoura, encontrou compreensão e apoio por parte dos líderes de muitos países.”Já o presidente dos Estados Unidos, antes de iniciar a sua viagem ao Médio Oriente, deu esta segunda-feira a entender que poderia participar na reunião de quinta-feira “se achar que as coisas podem acontecer”, sugerindo que há “potencial para uma boa reunião”. Donald Trump disse ainda acreditar que “os dois líderes estarão lá” e que tem “ um pressentimento” de que a Rússia vai concordar com um cessar-fogo e que “coisas boas podem acontecer”.Esta insistência do líder norte-americano para que Ucrânia e Rússia iniciem imediatamente negociações de paz vai contra os planos da Europa para convencer Trump a impor sanções a Moscovo por recusar a proposta da Casa Branca para um cessar-fogo de 30 dias.Os ministros dos Negócios Estrangeiros de França, Alemanha, Itália, Polónia, Espanha, Reino Unido e a líder da diplomacia europeia estiveram esta segunda-feira reunidos em Londres, tendo concluído que “a Rússia não demonstrou qualquer intenção séria de fazer progressos”, acrescentando que “deve fazê-lo sem demora”. Um porta-voz do governo alemão sugeriu mesmo que Moscovo teria até ao fim do dia de ontem para se comprometer com um acordo, caso contrário arriscaria um regime de sanções mais rigoroso. “A linguagem dos ultimatos é inaceitável para a Rússia, não é apropriada. Não se pode falar com a Rússia nessa linguagem”, respondeu Peskov.