Imagem do cometa 3I/ATLAS captada pelo telescópio Hubble a 21 de julho de 2025
Imagem do cometa 3I/ATLAS captada pelo telescópio Hubble a 21 de julho de 2025 NASA, ESA, D. Jewitt (UCLA); Image Processing: J. DePasquale (STScI)

Cometa ou nave alienígena? O que se sabe do 3I/ATLAS, terceiro objeto interestelar a visitar o Sistema Solar

Desloca-se a cerca de 245 mil km/h, “a maior velocidade alguma vez detetada no Sistema Solar”, e investigador de Harvard diz que pode ser uma “assinatura tecnológica” de uma civilização avançada.
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Descoberto a 1 de julho pelo sistema Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System (ATLAS), no Havai, o cometa 3I/ATLAS é apenas o terceiro objeto confirmado vindo de fora do Sistema Solar, depois do Oumuamua, em 2017, e do 2I/Borisov, em 2019. Desde então, o cometa, detetado por esse sistema de rastreamento da NASA para objetos espaciais que possam apresentar risco de impacto com a Terra, tem alimentado tanto o entusiasmo científico como especulações mais ousadas sobre vida extraterrestre.

Segundo a NASA, o 3I/ATLAS desloca-se a cerca de 245 mil km/h, “a maior velocidade alguma vez detetada no Sistema Solar”, e segue uma trajetória hiperbólica que o levará a abandonar o nosso sistema no final do ano. A sua passagem oferece à comunidade científica uma oportunidade única de estudar material formado noutro sistema estelar, possivelmente há mais de 8 mil milhões de anos, como indicam cálculos de investigadores da Universidade de Oxford, o que faz deste “visitante” mais antigo do que o nosso sistema solar (cuja idade está estimada em cerca de 4,5 mil milhões de anos).

Estudos liderados por David Jewitt, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, apontam para um núcleo com menos de 3 km de raio, envolto numa camada de gelo, poeira e gás. E observações com o Telescópio Espacial Hubble revelam já emissão de poeira e uma cauda ténue, sinais de que o aquecimento solar está a influenciar o comportamento do cometa, mesmo a grande distância do Sol. Espera-se ainda que o telescópio James Webb permita, em breve, investigar a sua composição, procurando moléculas como água, dióxido de carbono e monóxido de carbono.

Nem todos se contentam com a explicação natural, no entanto. O astrofísico Avi Loeb, da Universidade de Harvard, e dois colegas britânicos propuseram num artigo de pré-publicação, ainda não revisto por pares, que o 3I/ATLAS poderia ser uma “assinatura tecnológica” de uma civilização avançada, apontando para a sua velocidade e trajetória invulgares, assim como “um brilho visível à frente, e não atrás, como é normal nos cometas”.

Com cerca de 20 quilómetros de diâmetro, o que o torna maior do que Manhattan, por exemplo, o 3I/ATLAS também é ecepcionalmente brilhante para o seu tamanho, diz o astrofísico. No entanto, segundo Loeb, a sua característica mais incomum é mesmo a trajetória.

"Se imaginarmos objetos a entrar no sistema solar de direções aleatórias, apenas um em 500 deles estaria tão bem alinhado com as órbitas dos planetas quanto este", disse à Fox News Digital.

 “Se a hipótese [de ser uma qualquer tecnologia alienígena] se revelar correta, as consequências poderão ser enormes para a humanidade”, escrevem Loeb e os seus dois colegas, Adam Hibberd e Adam Crowl.

Na verdade, esta não é a primeira vez que Loeb lança esta hipótese. Já quando foi detetado o Oumuamua, o primeiro objeto interestelar descoberto no Sistema Solar, o investigador de Harvard defendeu a teoria de poder tratar-se de uma tecnologia alienígena e chegou mesmo a angariar fundos para recolher detritos caídos no oceano Pacífico para os analisar em laboratório.

A maioria da comunidade de astrónomos, no entanto, mantém-se cética. Darryl Seligman, da Universidade de Michigan State, afirmou à Live Science que “todos os dados sugerem que se trata de um cometa vulgar ejetado de outro sistema estelar”.

Citada pela Euronews, Sara Webb, da Universidade de Tecnologia de Swinburne, nota, no entanto, que apesar de improvável “não é muito rebuscado pensar que outras civilizações, se é que existem, possam ter enviado os seus próprios veículos de exploração”, recordando que a humanidade já fez o mesmo com as sondas Voyager e Pioneer.

Existe algum risco de impacto?

De acordo com cálculos orbitais da NASA, não há qualquer risco de colisão com a Terra ou outros planetas. O ponto da trajetória do 3I/ATLAS mais próximo do nosso planeta ocorrerá a 19 de dezembro de 2025, a cerca de 270 milhões de quilómetros, equivalente a 1,8 vezes a distância da Terra ao Sol. A aproximação máxima ao Sol, prevista para 30 de outubro de 2025, será a 210 milhões de quilómetros.

Após estas passagens, o 3I/ATLAS continuará a afastar-se rapidamente, até desaparecer na escuridão do espaço interestelar.

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