Michelle Bolsonaro e os filhos políticos de Jair Bolsonaro, preso há 10 dias numa cela da Polícia Federal de Brasília a cumprir pena de 27 anos por golpe de Estado e outros crimes, estão em guerra aberta após um incidente político neste fim-de-semana. Com o espólio eleitoral do ex-presidente e as eleições de 2026 como pano de fundo, o conflito deixou expostas feridas na família e motivou reunião de emergência na liderança do Partido Liberal (PL), onde todos militam.O pretexto foi uma intervenção de Michelle, presidente do PL Mulher, no Ceará. Ela criticou a aliança da direção local do partido com Ciro Gomes, candidato presidencial em 1998, 2002, 2018 e 2022 que quer concorrer em 2026 a governador daquele estado. “Fazer aliança com um homem que é contra o maior líder da direita [referindo-se a Jair Bolsonaro] não dá, nós queremos pacificar, ter unidade e essa pessoa [Ciro Gomes] nunca levanta a bandeira branca, continua a dizer que a família é de ladrões, de bandidos, compara Bolsonaro a um ladrão de galinhas, então não tem como aliar, não existe isso”, disse a ex-primeira-dama do Brasil.O discurso contradisse e indispôs André Fernandes, presidente do PL no Ceará, que articulou essa aliança com o aval do próprio Jair Bolsonaro. “O próprio presidente Bolsonaro pediu, em viva voz, para ligarmos a Ciro Gomes a dizer que o apoiaríamos”, queixou-se Fernandes.O senador Flávio Bolsonaro, primogénito de Jair, saiu em defesa do líder cearense. “Michelle atropelou o presidente Bolsonaro (...) e a forma como se dirigiu [a André Fernandes] foi autoritária e constrangedora”, disse em entrevista ao jornal Metrópoles, onde explicou que o objetivo no Ceará é assinar um acordo pragmático com Ciro, uma vez que ambos têm o presidente Lula da Silva, com muita força na região, como adversário comum. “O meu irmão está certo”, acrescentou o vereador Carlos Bolsonaro, “temos de estar unidos em torno da liderança do meu pai e não nos deixar levar por outras forças”, escreveu nas redes, publicação partilhada pelo meio-irmão e também vereador Jair Renan. “O que foi feito foi Injusto e desrespeitoso com o André Fernandes”, disse, por sua vez, o deputado Eduardo.Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, ainda não se pronunciou mas marcou reunião de emergência da direção.Tanto Michelle como os enteados Flávio e Eduardo são especulados como presidenciáveis - ou, no mínimo, como concorrentes a vices - numa eventual candidatura de direita que pretenda aproveitar o capital político de Jair Bolsonaro. Michelle, com forte apelo no eleitorado evangélico, é quem mais pontua nas sondagens, Flávio é visto como o mais político e conciliador da família, e Eduardo, mesmo desgastado após promover aumento de tarifas dos EUA ao Brasil, autodeclarou-se pré-candidato. Já Carlos tem relação problemática antiga com a madrasta: ele deixou de a seguir nas redes sociais e ela disse que tenta “manter a distância” do segundo filho do marido. Após foto de Bolsonaro com a filha recém nascida de Nikolas Ferreira, deputado do PL, Carlos comentou “legal, o cara fazer isso com a sua filha e com a minha não”, no que foi lido como indireta a Michelle que pretenderia distanciar avô e neta. Flávio (44 anos), Carlos (42) e Eduardo (41) são filhos de Rogéria Nantes, primeira mulher do ex-presidente, e Jair Renan (27) é fruto do casamento com Ana Cristina Valle. Com Michelle, ele teve a quinta filha, Laura (15)..Bolsonaro derrete influência ao tentar derreter a pulseira