Donald Trump esperava conversar com o seu homólogo chinês na terça-feira, à imagem do que aconteceu com a presidente mexicana e o primeiro-ministro canadiano, líderes de países cujas exportações para os EUA foram alvo de taxas aduaneiras, mas o telefonema não se realizou, segundo o The Wall Street Journal. Horas antes, Pequim anunciou medidas em resposta à taxa aduaneira adicional de 10% em todos os produtos. Mas fê-lo, segundo os analistas, de modo a deixar margem para que a situação não se agrave.No domingo, perante a notícia de que os produtos chineses importados pelos EUA passariam a ter uma sobretaxa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país comunista lamentou a medida e afirmou “não existir um vencedor nas guerras comerciais e tarifárias”. Na véspera, a Casa Branca acusou as autoridades chinesas de não terem tomado “as medidas necessárias para travar o fluxo de precursores químicos para cartéis criminosos conhecidos e para pôr termo ao branqueamento de capitais por organizações criminosas transnacionais”. Segundo o ministério chinês responsável pelas relações diplomáticas, o seu país é “um dos mais duros do mundo em matéria de luta contra os estupefacientes”, e quanto ao opioide em questão, o fentanilo, “é um problema para os Estados Unidos”, mas que “num espírito de humanidade e de boa vontade, a China deu apoio” aos americanos a pedido destes, em 2019. Segundo o porta-voz do MNE chinês, Pequim iniciou então “uma ampla cooperação contra o narcotráfico com os EUA”. “Os Estados Unidos têm de encarar e resolver a sua própria questão do fentanilo de uma forma objetiva e racional, em vez de ameaçar outros países com aumentos arbitrários das taxas aduaneiras.”.Fentanilo, o opioide fatal para milhares nos EUA que está no centro da guerra comercial. A retaliação chegou na terça-feira. O Ministério das Finanças informou que a partir de 10 de fevereiro iria passar a aplicar uma taxa de 15% no carvão e no gás natural liquefeito e de 10% sobre o petróleo bruto, as máquinas agrícolas, os automóveis de grande cilindrada e as carrinhas de caixa aberta. Além disso, vai controlar a exportação de minerais como o volfrâmio ou o telúrio e tecnologias relacionadas. Num comunicado à parte, Pequim anunciou que iria a iniciar uma investigação antimonopólio à Alphabet, a empresa detentora do Google. A empresa PVH, detentora de marcas de moda como Calvin Klein ou Tommy Hilfiger, e a empresa americana de biotecnologia Illumina foram colocadas numa lista de possíveis sanções.Mas os peritos olham para o alcance das medidas - aplicam-se a 20 mil milhões de dólares de importações de produtos dos EUA pela China, enquanto em sentido contrário as taxas aplicam-se a 450 mil milhões de dólares - e acreditam que a resposta foi dada para abrir espaço para negociações. Além disso olham para o que não está na lista, como produtos agrícolas, por exemplo, que foram alvo de retaliação aduaneira no primeiro mandato de Trump. “É um sinal enorme em como não querem aumentar isto”, comentou o antigo analista da CIA Dennis Wilder, citado pelo The Washington Post. “As taxas chinesas só entram em vigor daqui a cinco dias, o que é muito tempo no mundo de Trump. Vamos ver se o telefonema Trump-Xi se concretiza e se Pequim obtém um mês de adiamento como os parceiros do USMCA [Acordo Estados Unidos-México-Canadá]”, comentou Wendy Cutler, diplomata que foi vice-representante do Comércio dos EUA. “Também será elucidativo ver que outras questões podem surgir nessa chamada, tendo em conta os vários pontos de tensão na relação bilateral”, concluiu a vice-presidente do Asia Society Policy Institute..ConcessõesCanadáJustin Trudeau anunciou um plano para a fronteira de 1,3 mil milhões, que inclui 10 mil funcionários, drones e helicópteros; uma força de intervenção conjunta com os EUA para combater o crime organizado, o tráfico de fentanilo e o branqueamento de capitais -- o que já tinha sido revelado em dezembro. As novidades são a criação de um comissário para o fentanilo, designar os cartéis terroristas e investir 200 milhões numa “diretiva de informação” sobre o fentanilo.MéxicoA presidente Claudia Sheinbaum anunciou o envio de 10 mil agentes da Guarda Nacional para a fronteira do norte do país - onde estão estacio- nados 15 mil militares - e disse que Trump concordou em lutar contra o tráfico de armas dos EUA para o México. ColômbiaGustavo Petro não autorizou a aterragem de aviões militares dos EUA com deportados, mas a ameaça de taxas aduaneiras e a revogação de vistos fê-lo recuar. Indignado com o tratamento dos compatriotas, o presidente colombiano enviou aviões para ir recolher imigrantes e encara a hipótese de, no futuro, irem navios de cruzeiro. PanamáCom a ameaça de “retomar o Canal do Panamá” por parte de Trump, e a exigência de “reduzir a influência da China”, o presidente José Raúl Mulino rejeitou as pretensões dos EUA e o controlo chinês da via marítima. No entanto, acionou uma auditoria à empresa de Hong Kong que gere dois portos no local e disse que não vai renovar o acordo com Pequim da Nova Rota da Seda. .Moscovo contra negócio de minerais críticosTrump mostrou interesse em manter assistência militar à Ucrânia em troca de terras raras.A Rússia criticou a proposta comentada na véspera por Donald Trump de continuar a prestar assistência militar à Ucrânia em troca de minerais raros. “Se considerarmos as coisas como elas são, trata-se de uma proposta para comprar ajuda - por outras palavras, não para a dar incondicionalmente, ou por outras razões, mas especificamente para a fornecer numa base comercial”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. “É claro que seria melhor que a ajuda não fosse prestada de todo, pois isso contribuiria para o fim deste conflito.”Na segunda-feira, o presidente norte-americano anunciou querer negociar com Kiev. “Estamos a tentar fazer um acordo com a Ucrânia, onde eles vão garantir o que lhes estamos a dar com as suas terras raras e outras coisas”, disse Trump aos jornalistas. “Estamos a investir centenas de milhares de milhões de dólares. Eles têm excelentes terras raras. Eu quero segurança para as terras raras, e eles estão dispostos a fazê-lo”, acrescentou. Com efeito, uma fonte do gabinete do presidente ucraniano confirmou ao Kyiv Independent que o “plano de vitória”apresentado por Volodymyr Zelensky aos aliados - incluindo ao então candidato republicano, em setembro passado - incluía a partilha dos recursos ucranianos com os aliados. A Ucrânia tem reservas de 24 dos 34 minerais e metais considerados críticos ou de importância estratégica pela UE, como o titânio, urânio, berílio ou grafite, mas alguns deles, como o lítio - a Ucrânia tem os maiores depósitos na Europa -, situam-se no Donbass, no leste ocupado pela Rússia.