Cerco ao principal opositor de Erdogan
Um dia depois de a Universidade de Istambul ter revogado o título universitário de Ekrem Imamoglu, uma aparatosa operação policial deteve o presidente de Câmara da maior cidade turca, junto com outras cem pessoas. O ministro da Justiça disse ser “extremamente perigoso e errado” que a investigação judicial seja vista como um golpe político, e advertiu contra as manifestações nas ruas, que foram proibidas em toda a província até domingo, dia em que Imamoglu deveria ser eleito candidato à presidência nas primárias do Partido Republicano do Povo (CHP).
Segundo o comunicado do procurador de Istambul, Imamoglu e os restantes detidos (colaboradores, membros do CHP e eleitos locais) estão acusados de corrupção. Mas o autarca é também acusado de extorsão, tendo sido designado chefe de uma “organização criminosa com fins lucrativos”. Imamoglu, de 53 anos, é suspeito de liderar uma rede que solicitava subornos a empresários, emitia faturas falsas e contratava pessoal para cargos fictícios.
Além disso, Imamoglu e outras seis pessoas são suspeitas de “terrorismo” e de “colaboração com o PKK”, a organização política curda cujo líder histórico, Abdullah Ocalan, apelou há três semanas para o fim da luta armada. Esta acusação está a ser vista com especial ceticismo, uma vez que se refere às eleições municipais do ano passado, altura em que Imamoglu e o CHP concorreram a sós, ao contrário de 2019, quando inclui curdos na sua lista.
Num vídeo publicado nas redes sociais, Imamoglu lamentou o abuso da sua “querida polícia” para deter o representante de 16 milhões de istambulenses. “Enfrentamos a tirania, mas eu nunca desistirei. Confio-me ao meu povo. Que todos saibam que me manterei firme”, afirmou. O presidente do CHP, Özgur Özel, denunciou “um golpe” a decorrer para “impedir o país de decidir o próximo presidente” da Turquia, e condenou a obstrução da “vontade do povo”. Em 2023, Imamoglu foi impedido de concorrer às presidenciais em virtude de ter sido condenado por ter alegadamente insultado um dirigente da comissão eleitoral turca. Para lá das acusações que enfrenta, a anulação do diploma universitário - uma exigência constitucional para concorrer às presidenciais - é suficiente para deixar Recep Tayyip Erdogan sem o seu principal rival político.