Israel bombardeou esta terça-feira a liderança do Hamas em Doha, a capital do Qatar. O grupo terrorista palestiniano, cujos líderes políticos vivem há anos no emirado, indicou que o ataque não foi bem sucedido, alegando que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, provou que não está interessado em negociar a libertação dos reféns e o cessar-fogo. Os EUA defenderam que atingir o Hamas é “um objetivo nobre”, mas que “bombardear unilateralmente o Qatar”, seu aliado e mediador, “não promove os objetivos de Israel nem dos Estados Unidos”.O negociador-chefe do Hamas, Khalil al-Hayya, seria o alvo principal de Israel, mas sobreviveu assim como o resto da liderança do grupo terrorista. O seu filho está contudo entre os cinco mortos que eram membros do Hamas, revelou o grupo num comunicado. “O ataque à delegação negociadora, no momento em que se discutia a mais recente proposta do presidente norte-americano, Donald Trump, confirma, sem sombra de dúvida, que Netanyahu e o seu Governo não desejam chegar a qualquer acordo”, indicou o Hamas.Segundo o grupo terrorista palestiniano, o Governo israelita está “a trabalhar deliberadamente para frustrar todas as oportunidades e esforços internacionais” de chegar a uma solução - horas antes o chefe da diplomacia israelita, Gideon Sa’ar, afirmara que Israel tinha aceitado a proposta em cima da mesa - , “sem ter em conta as vidas dos seus prisioneiros mantidos pela resistência, a soberania dos Estados ou a segurança e estabilidade da região”. E considerou a Administração norte-americana igualmente responsável.A Casa Branca também reagiu: “Bombardear unilateralmente o Qatar, uma nação soberana e aliada próxima dos EUA que está a trabalhar arduamente e corajosamente a correr riscos connosco para negociar a paz, não promove os objetivos de Israel nem dos Estados Unidos”, disse a porta-voz, Karoline Leavitt. Trump repetiu o mesmo na Truth Social. “No entanto, eliminar o Hamas, que lucrou com a miséria dos que vivem em Gaza, é um objetivo nobre”, acrescentou, dizendo que a Administração foi alertada pelos militares dos EUA (que terão sido avisados antes) e tentou avisar Doha do ataque.Um porta-voz do Governo do Qatar, Majed Al-Ansari, informou contudo que o telefonema chegou quando as explosões já estavam a ser ouvidas em Doha. Além dos membros do Hamas, foi morto também um membro das forças de segurança do Qatar. Doha garantiu que não vai tolerar o “comportamento irresponsável de Israel, condenando o “ataque criminoso cobarde que constitui uma violação flagrante de todas as normas e leis internacionais”. E ameaçou responder.O emir Tamim bin Hamad Al Thani e o primeiro-ministro Mohammed Abdulrahman Al Thani avisaram Trump, num telefonema após os factos, que o ataque só vai prejudicar os esforços de garantir um cessar-fogo e a libertação dos reféns - são ainda 48, dos quais 20 estarão vivos. E anunciaram a suspensão dos esforços de mediação.As famílias desses reféns acusaram também Netanyahu de meter em risco a sua vida. “Um grande receio paira agora sobre o preço que os reféns poderão pagar”, segundo um comunicado do Fórum de Reféns e Famílias dos Desaparecidos. “A hipótese de os trazer de volta enfrenta agora uma incerteza ainda maior”, acrescentaram.Netanyahu assumiu a responsabilidade, dizendo num evento na embaixada dos EUA em Jerusalém que “acabaram os dias em que os líderes terroristas podiam usufruir de qualquer tipo de imunidade”. Insistindo que não permitirá que isso aconteça - também matou o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, num ataque em Teerão, além de ter bombardeado Líbano, Síria ou Iémen -, alegou que a ação de Israel em Doha pode “abrir uma porta para o fim da guerra”.Netanyahu disse ainda que tomou a decisão de lançar o ataque depois de, na segunda-feira, seis israelitas terem sido mortos por dois palestinianos num ataque a uma paragem de autocarro em Jerusalém. Um ataque reivindicado ontem pelas Brigadas Al-Qassam, do Hamas. E quatro soldados israelitas terem sido mortos na Faixa de Gaza.O ataque israelita a Doha foi criticado a nível internacional. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, denunciou uma “violação flagrante da soberania e integridade territorial do Qatar”. Já a Arábia Saudita condenou a “agressão brutal” e avisou para “graves consequências” da persistência de Israel “nas suas transgressões criminosas e na sua flagrante violação dos princípios do direito internacional e de todas as normas internacionais”. Também no continente europeu se ouviram críticas e condenações a Israel, de Londres a Paris, passando por Lisboa.