Jeanette Jara, membro do Partido Comunista mas com um discurso de centro-esquerda, e José Antonio Kast, apelidado de “Trump” pela imprensa americana e de “Bolsonaro” pela brasileira, mas também em tom mais moderado ao longo da campanha, foram os candidatos mais votados da primeira volta das eleições presidenciais do Chile, cujos resultados foram divulgados já na segunda-feira, dia 17. A 14 de dezembro, data da segunda volta, embora Jara tenha obtido 26%, o favorito é Kast, que somou 24%.Fundador do Partido Republicano e candidato pela terceira vez, Kast já tem o apoio formal do quarto e da quinta mais votados, o ultradireitista Johannes Kaiser e a candidata da direita tradicional Evelyn Matthei, que alcançaram 14% e 13%, respectivamente. O terceiro mais votado, Francisco Parisi, da direita populista disse que Kast tem de conquistar os 19% do seu eleitorado.Aí reside a esperança, ténue, segundo a maioria dos observadores, de Jara, que é ministra do Trabalho de Gabriel Boric, o presidente cessante, impedido de se recandidatar pela lei chilena. Em 2021, quando Boric bateu Kast na segunda volta, as sondagens revelaram que, assim como a maioria dos eleitores da direita clássica, mais de dois terços dos apoiantes de Parisi, também terceiro mais votado na ocasião, optaram pelo candidato de centro-esquerda. “Não deixem que o medo congele os vossos corações, o medo deve ser combatido dando mais segurança às famílias e não inventando soluções imaginárias que vêm de mentes que criam ideias radicais e têm de se esconder atrás de vidros à prova de balas”, disse Jara, 51 anos, após o fecho das urnas, aludindo ao adversário, que apareceu no comício de encerramento protegido por vidros blindados.“À terceira é de vez”, afirmou, pouco depois, Kast, 59 anos, referindo-se ao quarto lugar que alcançou em 2017 e ao segundo posto de 2021, logo depois de revelar que quer unificar os votos da oposição.Advogado católico nascido na região metropolitana de Santiago, é o mais novo de dez filhos de Michael Kast, cujo passado como membro do partido de Adolf Hitler, foi um dos temas de campanha. “A história da minha família é o mais distante do nazismo que se possa imaginar”, defendeu-se o candidato que, porém, elogia Augusto Pinochet e nega abusos do regime militar chileno, o que fez reavivar fantasmas do passado da sociedade chilena. Kast disse ainda que se o presidente norte-americano lhe perguntasse se devia invadir a Venezuela, responderia “vá em frente” e que pretende deportar mais estrangeiros sem documentos do que Trump. Na segurança, um dos principais temas de campanha, pediu “mais Bukele e menos Boric”, aludindo à política dura do presidente de El Salvador na área. Na economia repetiu ideias do vizinho argentino Javier Milei.Jeanette Jara, por sua vez, além de defender o aumento do salário mínimo e o reforço dos direitos dos trabalhadores, também falou de segurança ao prometer construir mais prisões e modernizar a polícia. Natural de Santiago, formou-se em direito e em administração pública e, embora se tenha inscrito logo aos 14 no Partido Comunista e sido líder estudantil na juventude, gaba-se de vir de uma família sem ligação à política. “Venho do Chile real!”, afirma. Mais velha de cinco irmãos e membro dos executivos de Boric, e também de Michelle Bachelet, é a primeira militante do Partido Comunista a chegar a uma segunda volta no Chile..Boric. De líder estudantil a presidente do Chile em dez anos