Depois de na véspera mais de 100 organizações humanitárias terem denunciado a fome a que a população na Faixa de Gaza está submetida, foi a vez de se juntarem as vozes das agências das Nações Unidas, bem como de vários países da UE a exigirem ação por parte da Comissão Europeia. Além disso, quatro meios de comunicação social de referência alertaram para o risco de vida em que estão os seus jornalistas no terreno.A pressão para que Bruxelas aja tem aumentado nas últimas horas. Primeiro, em abaixo-assinado, 34 antigos embaixadores da UE denunciaram a inação europeia, pediram para “inundar” a Faixa de Gaza com ajuda humanitária e exigiram sanções às chefias civis e militares israelitas. Depois, e mais importante, vários países da UE exigiram “medidas concretas” perante a “situação intolerável” em Gaza, segundo a AFP, citando fontes diplomáticas. Na quarta-feira, representantes dos 27 expressaram preocupação perante o incumprimento do acordo alcançado com Israel, há duas semanas, para um melhor acesso da ajuda humanitária a Gaza. O acordo prevê a passagem diária de 160 camiões com víveres e outros suprimentos. Segundo disseram as autoridades israelitas na quinta-feira, na véspera tinham sido descarregados 70 camiões. Antes da guerra, o enclave recebia entre 500 e 600 camiões por dia. .113Palestinianos morreram de desnutrição aguda desde o início da guerra, em outubro de 2023: 50 no ano passado, 59 durante este ano e quatro em 2023, segundo as autoridades de Saúde de Gaza.. O chefe da agência para os refugiados palestinianos (UNRWA) Philippe Lazzarini disse que a agência dispõe do equivalente a 6000 camiões com ajuda humanitária na Jordânia e no Egito e apelou para “o levantamento do cerco”. Numa mensagem nas redes sociais, Lazzarini partilhou uma mensagem de um funcionário no terreno. “As pessoas em Gaza não estão vivas nem mortas, são cadáveres andantes.” Lembrou ainda que enquanto há quem morra à fome, “a poucos quilómetros dali os supermercados transbordam de comida”. Outra agência da ONU, a OCHA, alerta que “a desnutrição atingiu níveis muito críticos”. A estação britânica BBC e as agências AFP, Reuters e AP fizeram um apelo para Israel permitir a entrada e saída de jornalistas do território porque os seus jornalistas estão em risco de morrer por desnutrição..470 000Habitantes da Faixa de Gaza enfrentam níveis de “fome catastrófica”, afirma o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas.. Diante da falta de progresso, vários países exigiram à Comissão “medidas concretas” contra Israel, cujo governo de extrema-direita nega a crise humana em Gaza e culpa o Hamas por impedir a distribuição de ajuda. Junta-se a pressão de mais de 60 eleitos ao Parlamento Europeu, que endereçaram uma carta à chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, a exigir “ações concretas” contra Israel face à situação humanitária.Um porta-voz da União Europeia repetiu a mensagem da véspera, enunciada por Kallas: “Todas as opções estão em cima da mesa”, referindo-se a medidas de pressão caso Israel continue a não permitir a chegada de alimentos em números dignos ao enclave. As opções podem estar na mesa de Bruxelas, mas a comida não está nas mesas ou no que resta do mobiliário dos palestinianos -- o Haaretz publicou fotografias de satélite que provam o grau de destruição da segunda cidade de Gaza, Khan Yunis. Segundo o jornal israelita, 90 quilómetros quadrados, incluindo de populações vizinhas, foram arrasados, em parte devido à ação de bulldozers e de outra maquinaria que empresas de construção civil estão a usar sob ordens do exército israelita. .Negociações fracassam As delegações de negociadores de Israel e dos Estados Unidos receberam ordens para saírem de Doha, Qatar, após a resposta da delegação do Hamas à proposta de cessar-fogo. Segundo a Reuters, o grupo islamista quer que o acordo de cessar-fogo inclua uma cláusula para que a guerra não volte de forma automática caso não se chegue a um acordo total no prazo de 60 dias, e outra que retire a distribuição de ajuda humanitária à controversa Gazan Humanitarian Foundation, devolvendo esse papel à ONU e a outras ONG. Segundo o enviado especial dos EUA Steve Witkoff, “o Hamas não parece coordenar-se nem agir de boa-fé”. Antes de ter ordenado o regresso da sua equipa, o gabinete do primeiro-ministro israelita garantia estar a “avaliar” a última proposta de cessar-fogo. Mais tarde, Benjamin Netanyahu disse que o Hamas não pode entender a vontade de chegar a acordo como uma “fraqueza”. .Israel rejeita responsabilidade e culpa Hamas pela fome em Gaza