Boris critica acordo de Sunak e Bruxelas: "Isto não é o Reino Unido a recuperar o controlo"

Ex-primeiro-ministro, que assinou o protocolo da Irlanda do Norte, diz que será "muito difícil" votar a favor.

O antigo primeiro-ministro britânico Boris Johnson, que admitiu esta quinta-feira ser "muito pouco provável" que vá ter de novo um papel significativo na política, criticou o acordo alcançado entre o atual chefe de governo, Rishi Sunak, e Bruxelas em relação ao protocolo da Irlanda do Norte. "Isto não é o Reino Unido a recuperar o controlo", disse Johnson. "Isto é a União Europeia [UE] graciosamente inflexível para nos permitir fazer o que queremos fazer no nosso próprio país, não pelas nossas leis, mas pelas deles", acrescentou o responsável pelo acordo de Brexit.

Num discurso na Cimeira Global de Soft Power, em Londres, o ex-primeiro-ministro admitiu "sentimentos mistos" quando olha para o acordo anunciado na segunda-feira por Sunak e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Windsor. Este acordo-quadro elimina os controlos aduaneiros para as mercadorias que circulam entre Inglaterra, Escócia e Gales e a Irlanda do Norte, embora os mantenha para os bens que vão para a República da Irlanda - isto é, que entram na União Europeia.

Por um lado, Johnson disse perceber porque é que existe a atração em "aceitar o compromisso" e espera que os unionistas do DUP da Irlanda do Norte possam "encontrar uma forma de se reconciliarem com este resultado". Por outro, receia que a região continue demasiado sujeita às regras europeias. E explicou que será "muito difícil" votar a favor - não é obrigatório esse voto, mas Sunak está sob pressão para levar o debate ao Parlamento britânico. "Vou ter muita dificuldade, porque eu próprio acredito que devíamos ter feito algo diferente."

O ex-primeiro-ministro prefere o romper total com as regras sem o consentimento europeu, mesmo correndo o risco de uma guerra comercial, tendo introduzido durante o seu governo uma proposta de lei nesse sentido. "Não tenho dúvida que essa legislação foi o que levou a UE a negociar seriamente", afirmou, após Sunak confirmar que vai retirar a proposta.

No discurso, Johnson assumiu "totalmente a responsabilidade" pelo texto inicial do protocolo, fonte de tensões políticas por ter causado divisão entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido - por causa dos controlos aduaneiros - na tentativa de evitar uma fronteira física entre as duas Irlandas. "Pensei que os controlos não seriam onerosos", referiu.

Entretanto, o ex-presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker, que estava no cargo durante as negociações do Brexit, descreveu Johnson como "uma bela encomenda", alguém que "não podemos categorizar em nenhuma categoria normal", admitindo contudo que "gostava dele como pessoa". Juncker disse, contudo, que tinha com Johnson a pior relação entre os cinco primeiros-ministros britânicos com os quais trabalhou.

O antecessor de Ursula von der Leyen considera o acordo de Windsor, que revê o protocolo para a Irlanda do Norte, como "um avanço real", mas avisou que as instituições europeias terão um papel maior do que muitos no Reino Unido gostariam. "Acho que, apesar de o acordo dar resposta a grandes preocupações britânicas, há uma parte da União Europeia no acordo que alguns no Reino Unido tentam esconder", considerou.

susana.f.salvador@dn.pt

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