Jair Bolsonaro atribuiu neste domingo, 23 de novembro, a tentativa de derreter a pulseira eletrónica com um ferro de soldar a “uma alucinação” de que o dispositivo eletrónico tinha uma escuta, segundo consta do relatório da audiência de custódia ao ex-presidente que se decidiu pela manutenção da prisão preventiva. Segundo Bolsonaro, os novos remédios que tem estado a tomar causaram-lhe um surto paranóico. Eis um trecho da ata da audiência: “questionado sobre a tentativa de violar a pulseira, Bolsonaro respondeu que teve uma 'certa paranóia' em razão de medicamentos que tem tomado, receitados por médicos diferentes e que, segundo ele, reagiram de forma inadequada (...) Ele também disse que tem o sono ‘picado’ e que não dorme direito. Por isso, resolveu, com um ferro de soldar, mexer na pulseira, porque tem curso de operação desse tipo de equipamento”.Ainda segundo o texto, “Bolsonaro relatou que mexeu na pulseira por volta da meia-noite mas depois ‘caiu na razão’ e parou de usar a solda, momento em que teria se comunicado com os agentes de custódia”. Também disse que não se lembra “de ter um surto dessa natureza noutra ocasião” e que começou “a tomar um dos remédios cerca de quatro dias antes dos factos que levaram à sua prisão". “Ele justificou que todo o ato foi causado por uma ‘alucinação’ de que tinha alguma escuta na pulseira, tentando então abrir a tampa do dispositivo com o ferro”, continua o relatório da audiência.Bolsonaro desmentiu ainda perante o juiz que planeasse fugir aproveitando uma vigília marcada pelo filho, diz a ata: “Quando foi perguntado especificamente sobre uma possibilidade de fuga causada pela vigília convocada pelo filho, o senador Flávio Bolsonaro, na região da casa dele, onde estava detido preventivamente, Bolsonaro negou qualquer tentativa de escapar”.Na véspera, foi tornado público um trecho do interrogatório a Bolsonaro em que o político admite às autoridades ter utilizado um ferro de soldar para tentar queimar a pulseira eletrónica. “Eu meti o ferro quente aí. Curiosidade”, disse o ex-presidente brasileiro, de acordo com um vídeo gravado por uma agente e divulgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). No vídeo em causa é possível verificar a danificação da pulseira eletrónica causada pela tentativa de Bolsonaro.Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, foi detido pela Polícia Federal (PF) a pedido do STF na manhã de sábado, 22 de novembro. A medida não se refere ainda ao cumprimento de pena e sim a uma medida cautelar.Bolsonaro foi levado para a Superintendência da PF, sem oferecer resistência, segundo fontes policiais citadas pela Globo News. A prisão foi motivada pela necessidade de garantir a ordem pública, depois de, na sexta-feira, Flávio Bolsonaro, ter convocado uma vigília de apoio ao ex-presidente à porta do condomínio deste num vídeo em que pergunta aos apoiantes do pai se vão acompanhar a situação no conforto de casa pelo telemóvel ou se vão tomar uma atitude. A manifestação, diz Flávio, tinha como objetivo “lutar pela volta da democracia ao Brasil”. Mas, segundo o juiz do STF que relata o processo, Alexandre de Moraes, a vigília visava perturbar a ordem pública e prejudicar a atuação da polícia no caso de uma ação no local, representando “risco de fuga”. Moraes citava ainda que “o Centro de Integração de Monitoração Integrada do Distrito Federal” comunicara a citada “violação do equipamento de monitoramento eletrónico do réu Jair Messias Bolsonaro”. “A informação”, continua Moraes, “constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrónica para garantir êxito na sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada pelo filho”.O juiz cita ainda os casos de Alexandre Ramagem, outro dos já condenados por golpe de estado, gravado nesta semana na Florida, nos EUA, sem aviso ao tribunal e o de Carla Zambelli, deputada bolsonarista condenada noutro caso, que escapou para Itália, também via Florida.Além disso, há registo de uma tentativa de fuga do próprio Bolsonaro, que chegou a dormir duas noites em fevereiro de 2024 na embaixada da Hungria, a apenas 13 km de distância do condomínio do ex-presidente, com o objetivo de pedir asilo ao governo do aliado Viktor Orban. A defesa de Bolsonaro negou, na altura, intenção de fuga.Bolsonaro deve ficar preso numa sala da Superintendência da PF em Brasília, com direito a cama, casa de banho, mesa de trabalho e um pequeno frigorífico. O ex-presidente, que vem apresentando problemas de saúde, terá direito a atendimento médico em tempo integral, decidiu ainda Moraes.A visita de Michelle e a reação de LulaHoras depois da audiência de custódia, Bolsonaro recebeu a visita de Michelle, ex-primeira dama, que não estava presente no momento da detenção.Entre as muitas reações à prisão, destaque para a de Lula da Silva, atual presidente, para quem “todo o mundo sabe o que ele fez”. “Não comento decisões do STF, foi ano e meio de investigação, de delação e de julgamento, ele teve todo o direito à presunção da inocência, então se a justiça decidiu, está decidido”.O próximo passo do processo é a votação no STF sobre a detenção, nesta segunda-feira, 24. Caso a maioria dos juízes confirme a decisão de Moraes, o ex-presidente fica detido por tempo indeterminado, mas com reavaliação a cada 90 dias.Esta detenção, preventiva, acontece nas vésperas de Jair Bolsonaro começar a cumprir pena, uma vez que os recursos apresentados pela defesa já estão esgotados. O ex-presidente do Brasil foi condenado em setembro a 27 anos e três meses pela tentativa de golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022. Está em prisão domiciliária desde 4 de agosto e proibido de fazer declarações públicas e comentários nas redes sociais. .Jair Bolsonaro confessa ter tentado derreter a pulseira eletrónica: "Meti o ferro quente aí. Por curiosidade"