Internacional
16 agosto 2022 às 19h13

Bolsonaro inicia campanha onde "renasceu" e Lula "à porta da fábrica"

Os dois principais candidatos às presidenciais de outubro optaram por locais simbólicos para dar o tiro de partida oficial para as eleições. Ex-presidente lidera as sondagens.

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, começou esta terça-feira oficialmente a campanha para um segundo mandato com um desfile de mota ("motociata") e um discurso em Juiz de Fora, reiterando que esta eleição é a "luta do bem contra o mal" no local onde, em 2018, foi alvo de um atentado e "renasceu". Também num regresso às origens, o favorito à vitória - as sondagens não afastam a hipótese que possa ser logo na primeira volta, a 2 de outubro -, o ex-presidente Lula da Silva, deu o pontapé de saída para os 46 dias de campanha "à porta da fábrica" no seu berço político, São Bernardo do Campo.

Bolsonaro, de 67 anos, agradeceu a Deus pela sua "segunda vida" naquela que o seu filho, Flavio, apelidou de sua "segunda cidade natal". O presidente foi a Juiz de Fora, em Minas Gerais (segundo maior estado em número de eleitores, mais de 16,2 milhões), precisamente para passar a ideia do "renascimento", tanto do ponto de vista religioso como das sondagens, que não lhe têm sido favoráveis. Daí que tenha discursado precisamente na mesma esquina onde foi esfaqueado a 6 de setembro de 2018, por um homem com problemas psiquiátricos. Para evitar a repetição do ataque, a segurança dos candidatos foi reforçada.

A estrela do comício foi a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que o presidente disse ser "mais importante" do que ele. Ovacionada pela multidão, pediu aos eleitores para "não entregarem o país nas mãos dos nossos inimigos" e rezou em cima do trio elétrico. Mais cedo, à chegada à cidade, Bolsonaro tinha sido questionado sobre a celebração dos 200 anos de independência do Brasil, dizendo que não haverá desfile militar mas uma "motociata" e um "palanque" no Rio de Janeiro, apelando aos brasileiros para saírem à rua a 7 de setembro.

No Twitter, Bolsonaro, que vai a votos com o número 22 (é o que tem que ser inserido nas urnas eletrónicas), resumiu a sua mensagem de início de campanha: "É preciso estar atento. A partir de hoje, mais do que nunca, os que amam o vermelho passarão a usar verde e amarelo, os que perseguiram e defenderam fechar igrejas se julgarão grandes cristãos, os que apoiam e louvam ditaduras socialistas se dirão defensores da democracia", acusando Lula de mentir para ganhar votos e dizendo que ele tem "o privilégio de não precisar de enganar o povo".

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Ainda antes do primeiro evento oficial de campanha, Lula (o número 13 na urna) partilhou um vídeo nas suas redes sociais lembrando que "falta pouco para a esperança vencer de novo" o medo, retomando a imagem que marcou a sua eleição, há 20 anos. E com um apelo aos apoiantes: "Tenho viajado muito, levado uma mensagem de esperança e fé ao nosso povo. Mas o Brasil é imenso. Por isso, eu conto com vocês como sempre contei. Onde minhas pernas não puderem me levar, eu andarei pelas pernas de vocês. Onde minha voz não puder chegar, eu falarei pela voz de vocês. Vamos juntos."

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Esta terça-feira, voltou "ao lugar onde tudo começou: a porta da fábrica". Lula foi líder de um sindicato de metalúrgicos em São Bernardo do Campo, na região de São Paulo. À porta da fábrica da Volkswagen (um primeiro evento noutra fábrica foi cancelado alegadamente por falta de segurança), o ex-presidente de 76 anos lembrou que foi ali que se tornou "gente" e adquiriu "consciência política". Lula disse que "o Brasil está hoje pior" do que era quando foi eleito pela primeira vez e apelou ao voto. "Nós vamos ganhar porque este país precisa de nós", defendeu, não poupando críticas a Bolsonaro que acusou de mentir e de ser "genocida".

Este foi o primeiro de 46 dias de campanha eleitoral (o período mais reduzido desde 1994), durante a qual os candidatos estão autorizados a apelar ao voto. Numa campanha cada vez mais feita pelas redes sociais e com regras mais apertadas para tentar combater a divulgação de informações falsas, continua a haver espaço para o tempo de antena, às terças, quintas e sábados - que depende dos apoios que cada candidato tem na Câmara dos Deputados. Lula, cuja aliança conta com 141 parlamentares, terá o maior tempo de antena, cerca de 3 minutos e 21 segundos, enquanto Bolsonaro só terá 2 minutos e 42 segundos, por ter o apoio de 101 deputados.

Segundo a sondagem Ipec para a TV Globo, divulgada segunda-feira, Lula tem 44% das intenções de voto na primeira volta, contra 32% de Bolsonaro. Sem contar com os votos em branco ou nulos, o ex-presidente teria 52%, face aos 37% do atual titular. Para vencer na primeira volta, um candidato tem que ter mais de 50% dos votos válidos, algo que este cenário prevê. Mas caso seja necessário ir à segunda volta, prevista para 30 de outubro, as pesquisas de opinião também colocam Lula à frente com 51% das intenções de voto, face a 35% de Bolsonaro.

O primeiro dia oficial de campanha devia terminar, para os dois favoritos, com a cerimónia de tomada de posse do novo presidente do Tribunal Supremo Eleitoral, Alexandre de Moraes, em Brasília. Bolsonaro foi convidado pessoalmente, mas não era certo que estivesse presente no evento às 19.00 locais (23.00 em Lisboa). O juiz tem defendido o sistema eleitoral e o voto eletrónico, chocando com o presidente que tem insistido em lançar as dúvidas sobre o processo de votação. Bolsonaro também apelidou no passado o juiz de "canalha" e já disse que só sai do poder "preso ou morto". Quando foi escolhido para liderar o tribunal, Moraes deixou claro que "a Justiça Eleitoral não tolerará que milícias pessoais ou digitais desrespeitem a vontade soberana do povo e atentem contra a democracia do Brasil", pelo que se preveem mais choques nos próximos meses.

susana.f.salvador@dn.pt