Bolsonarista perdeu eleição no Senado para candidato de Lula
Ex-presidente queria formar na câmara alta do Congresso um enclave da oposição mas Rodrigo Pacheco, apoiado pelo governo, reelegeu-se. Na Câmara dos Deputados, Lira bate recorde de votos.
Rodrigo Pacheco, candidato do centrista PSD apoiado pelo governo de Lula da Silva, foi reeleito até 2025 presidente do Senado Federal com 49 votos. Rogério Marinho, do PL, o partido de Jair Bolsonaro, somou apenas 32 e perdeu a hipótese de liderar uma espécie de enclave bolsonarista na câmara alta do Congresso Nacional. A disputa eleitoral, que reavivou o clima de polarização no país e mobilizou as redes sociais ao longo dos últimos dias, foi apelidada em Brasília de "terceira volta" das eleições presidenciais de outubro.
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"Houve uma tentativa de reeditar esse clima", disse Rodrigo Pacheco, em conferência de imprensa já após a vitória. "Mas queremos pacificação, não uma pacificação que se cale diante de atos golpistas, uma pacificação que busque cooperação, lute pela verdade e abandone o discurso de nós contra eles, para isso, a polarização tóxica precisa ser erradicada do nosso país, acontecimentos como os ocorridos aqui neste Congresso Nacional a 8 de janeiro de 2023 não podem, e não vão, repetir-se, a democracia está de pé".
Bolsonaro envolveu-se diretamente na campanha ao pedir voto em Marinho, seu ministro do Desenvolvimento Regional, em telefonema ao vivo reproduzido pela mulher, Michelle Bolsonaro, durante evento partidário. O governo Lula também se empenhou nas eleições ao licenciar, por um dia, quatro ministros que são senadores para votarem antes de voltarem ao executivo logo após o sufrágio.
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Além da força política do cargo, com influência na votação do orçamento e outros temas caros à governação, a presidência do Senado influi no poder judicial - cabe a Pacheco, por exemplo, aceitar ou rejeitar pedidos de impeachment de juízes do Supremo Tribunal Federal, um dos alvos preferenciais do bolsonarismo.
Na Câmara dos Deputados, Arthur Lira foi reeleito, como se esperava, com uma votação recorde desde a redemocratização de 1985 de 464 votos de um total de 513 possíveis.
Apoiado pelo governo, que não se arriscou a lançar uma candidatura de esquerda, provavelmente derrotada, Lira, que foi aliado de Bolsonaro, torna-se assim um dos políticos mais poderosos do Brasil, com palavra a dizer no agendamento, e consequente aprovação ou rejeição, das votações mais decisivas do programa de Lula.
Como reflexo dos amplos apoios, a Mesa Diretora da Câmara sob a presidência de Lira, terá parlamentares lulistas e bolsonaristas.
Chico Alencar, do esquerdista PSOL, e Marcel van Hattem, do liberal Novo, os únicos que se arriscaram a enfrentar o vencedor anunciado, somaram 21 e 19 votos na eleição, respetivamente.
RODRIGO PACHECO
PSD-Minas Gerais
46 anos
Com fama de moderado, o presidente do Senado reeleito não se opôs a Bolsonaro ao longo dos dois anos do primeiro mandato mas aproximou-se de Lula na campanha presidencial, após as eleições e, sobretudo, na sequência dos ataques de 8 de janeiro em Brasília. A sua vitória, batendo o bolsonarista Rogério Marinho, foi vista com alívio no Planalto e mereceu telefonema imediato de "parabéns" de Lula.
ARTHUR LIRA
PP-Alagoas
53 anos
Bateu, por 30 votos, o recorde de votação na Câmara em quase 40 anos de redemocratização. Aliado de Bolsonaro no primeiro mandato, é o líder do "centrão", o grupo de cerca de 200 parlamentares que apoia o governo do momento em troca de cargos e influência, razão pela qual tem um poder quase imbatível na Casa. Por isso, o governo Lula preferiu apoiá-lo a lançar candidatura à esquerda fadada ao insucesso, permitindo-lhe uma vitória esmagadora.
dnot@dn.pt
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