O Café Pai d’Égua abriu há umas horas, mas pelas 10 da manhã só um cliente está sentado nas mesas ao ar livre com vista para o novo Parque da Cidade de Belém, no Pará, um dos palcos que vai receber a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP30). A dias da abertura do evento, que decorre entre 10 e 22 de novembro, a azáfama ainda era muita. No interior do parque, onde parecia impossível que tudo pudesse ficar pronto a tempo, mas também no exterior, onde os funcionários da prefeitura aparam a relva e dão os últimos retoques estéticos na cidade antes da chegada dos milhares de delegados..Trump, Xi ou Modi: ausências de peso na Cúpula de Líderes antes do arranque da COP30.Clayton, Cristiane e Ranyelle ainda não sabiam se iam ser autorizados a ficar ali no seu posto, tendo sido informados que, por questões de segurança, podiam ter que mover a banquinha. “A gente queria ficar aqui durante a COP”, conta Clayton ao DN, ainda assim pouco preocupado se for obrigado a sair. “Depois da COP a gente volta para aqui e vai ter mais pessoas por estes lados.” Esta família só vê coisas positivas a acontecer na cidade à sua volta e acredita que, depois da COP30, esta zona de Belém ficará muito mais movimentada graças ao novo parque de 500 mil metros quadrados, que nasceu no local de um antigo aeroclube. Já foi assim quando ele abriu, em julho, para que os paraenses pudessem aproveitar o espaço antes de as estruturas temporárias da COP30 serem montadas. . Muita gente não acreditou que Belém e o Pará fossem capazes de organizar a conferência, incluindo muitos ministros. “Se eu não consegui renovar o meu apartamento em dois anos, como é que Belém, em um ano e meio, vai ficar pronta para a COP?”, ouviu o ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho (irmão do governador do Pará, Helder Barbalho), numa reunião do Governo.“Se a COP vai acontecer em Belém é por uma absoluta teimosia, convicção e determinação do presidente Lula da Silva”, explicou o ministro da Casa Civil, Rui Costa, na inauguração do novo hotel Vila Galé Collection Amazônia, em Belém, que nasceu em 11 meses para ajudar a fazer face à falta de alojamento na cidade - um dos problemas de infraestruturas que dificultou a organização do evento. .Vila Galé inaugura 13.° hotel no Brasil: “Sou um viciado em recuperar património histórico”.O ministro contou que houve muita resistência dentro e fora do país. “Muitos dentro do Governo, muitos dentro da sociedade, muitos dentro do eixo Rio-São Paulo, muitos no exterior, muitos representantes internacionais, inclusive da ONU, queriam tirar a COP daqui”, lembrou. “E o presidente Lula repetiu de forma enfática, se é o Brasil que escolhe, se sou eu que escolho, a COP será em Belém. Porque não é possível falar de meio ambiente, falar da Amazónia sem pisar na Amazónia, sem olhar o povo da Amazónia e as condições de vida que aquele povo vive”, indicou. “E portanto aqui estamos.” As mudanças na cidade não são apenas estéticas, como a nova pintura do histórico mercado Ver-o-Peso - uma porta aberta para a culinária paraense, onde pode ver como é o peixe pirarucu antes de o comer frito com açaí (que nada se assemelha ao que se come em Portugal) ou provar frutos amazónicos como o forte cupuaçu ou o mais suave taperebá. As mudanças são mais profundas, segundo o Governo: “Nós estamos botando nessa cidade aqui, do governo federal, seis bilhões de reais de investimento em macrodrenagem, em saneamento, em infraestrutura, em aeroporto, em portos…”, contou o ministro da Casa Civil. .Mas ainda há problemas: entre o mercado de Ver-o-Peso e o Forte do Presépio, construído pelos portugueses no século XVII, os urubus sobrevoam o lixo que se acumula, tal como noutras áreas da cidade, que fora das zonas de lazer ou cultura parece suja. A oferta hoteleira continua a ser pouca, com preços inacessíveis a algumas das delegações dos países mais pobres, apesar de dois navios de cruzeiros que vão acomodar os delegados terem já atracado num novo porto que nasceu em apenas cinco meses. Há paraenses que tecem elogios ao trabalho do governador Helder Barbalho, que consideram um homem de visão e acreditam ser um dos responsáveis por Belém estar pronta para a COP30. “Este é um momento extraordinário em que o mundo nos enxerga, em que o mundo passa a descobrir a Amazónia a partir de Belém”, contou também na inauguração, defendendo que “a cidade precisa melhorar e está melhorando, os serviços precisam melhorar e estão melhorando”. O governador diz não ter a menor dúvida de que “entre tantos legados que a COP traz para nós, e legados que já estão a ser usufruídos por nós, um legado que irá ficar certamente é o posicionamento do nosso estado para a atividade turística”, falando numa “nova economia que se abre”. Mas se Barbalho tem muitos fãs, há outros que consideram que os investimentos e as mudanças já deviam ter vindo há mais tempo. Leonardo conduz um Uber e diz que, nem falando do trânsito, na periferia ainda há muito a fazer, mesmo se na costa da baía de Guajará o velho porto esteja a dar lugar a novos espaços de lazer e de convívio. O novo CAIXA Cultural Belém, um espaço de espetáculos, ou o Museu das Amazónias. A capital do Pará apresenta-se na COP30 como a capital da Amazónia, mas no museu que abriu no início de outubro e que tem sido um sucesso entre os paraenses que fazem fila para o visitar, descobrimos que não há uma Amazónia, mas muitas. São nove os estados brasileiros e nove os países sul-americanos tocados pela maior floresta tropical do mundo que Sebastião Salgado fotografou sem igual. A exposição do fotógrafo brasileiro, que morreu em maio, está pela primeira vez na Amazónia, neste museu.A COP30 tem sido batizada como a COP das florestas, com o festival Global Citizen - que colocou Anitta a cantar com Chris Martin, que por sua vez serviu de percussionista para Seu Jorge - a angariar mil milhões de dólares para vários projetos como a restauração de 31 milhões de hectares da floresta tropical. No festival, que decorreu no sábado em Belém, vários índios brasileiros tomaram a palavra para pedir a demarcação das terras indígenas e criticar o facto de Lula (a dias da COP) ter permitido a exploração petrolífera na foz do Amazonas. A COP pode ser das florestas, mas a família Schürman quer que os delegados não se esqueçam também dos mares. A família brasileira de velejadores que já realizaram pelo menos três voltas ao mundo têm um projeto de conservação marinha intitulado Voz dos Oceanos que, durante a cimeira, toma conta de um dos famosos edifícios de Belém: a Casa das Onze Janelas. Na fachada haverá videomapping e o veleiro do casal e dos três filhos poderá ser visitado, estando previstas também palestras. A jornalista viajou a convite do grupo Vila Galé e da TAP