Bardella está pronto para governar e promete mais lei e ordem em França
O líder da extrema-direita francesa e candidato a primeiro-ministro, Jordan Bardella, garantiu ontem que o seu partido está pronto para governar, prometendo conter a imigração e resolver questões relacionadas com o custo de vida. “Em três palavras: nós estamos prontos”, afirmou o presidente do Reunião Nacional (RN), de 28 anos, numa conferência de imprensa em que revelou o programa do partido para as eleições legislativas antecipadas deste domingo.
Bardella, creditado por ter ajudado o RN a limpar a sua imagem extremista, pediu aos franceses para darem ao seu partido uma maioria absoluta, de forma a poder implementar o seu programa anti-imigração e de lei e ordem. Sondagens divulgadas este fim de semana sugerem que o RN poderá obter 35-36% na primeira volta, à frente da aliança de esquerda Frente Popular, com 27-29,5%, e dos centristas de Macron em terceiro lugar com 19,5-22%.
“Sete longos anos de macronismo enfraqueceram o país”, afirmou, prometendo aumentar o poder de compra, “restaurar a ordem” e mudar a lei para facilitar a deportação de estrangeiros condenados por crimes.
O presidente do RN reiterou ainda os planos para restringir as fronteiras e dificultar a obtenção da cidadania por estrangeiros nascidos em solo francês. “Há 30 anos que os franceses não são ouvidos sobre este assunto”, afirmou Bardella, acrescentando que o RN se concentrará em medidas “realistas” para conter a inflação, principalmente através do corte de impostos sobre a energia.
Do programa eleitoral da extrema-direita, segundo Jordan Bardella, faz também parte um “big bang de autoridade” nas escolas, incluindo a proibição de telemóveis e a introdução experimental de uniformes, uma proposta anteriormente apresentada por Macron.
Sobre a política externa, Bardella garantiu que o RN se opõe ao envio de tropas francesas para a Ucrânia, uma ideia avançada por Macron, mas que continuará a fornecer apoio logístico e material. E sublinhou que o seu partido, que tinha laços estreitos com a Rússia antes da invasão da Ucrânia, estará “extremamente vigilante” face às tentativas de Moscovo de interferir nos assuntos franceses.
O perigo de uma guerra civil
Em contagem decrescente para as eleições, Emmanuel Macron respondeu ontem durante quase duas horas a perguntas no podcast “Génération Do it Yourself”, tendo afirmado que o resultado destas legislativas antecipadas não será “culpa de ninguém”, mas sim a expressão da “responsabilidade dos franceses”. “Além da vossa raiva - ela foi expressa, eu ouvi-a e devolvo-vos a palavra - o que é que vocês pretendem? Vejam os projetos de uns e de outros”, desafiou o líder francês.
O presidente francês voltou a referir entender a surpresa e incompreensão causadas pela sua decisão de dissolver a Assembleia Nacional, tendo em conta a crise que poderá sair destas eleições, admitindo que “é muito difícil”. “Estou ciente disso e muitos estão com raiva de mim. Mas fi-lo porque não há nada maior e mais justo numa democracia do que a confiança no povo”, insistiu.
Macron alertou também que as políticas eleitorais dos seus opositores, tanto da extrema-direita, como da extrema-esquerda poderão levar a uma “guerra civil”.
No dia anterior, numa carta aberta aos eleitores publicada nos media franceses, Macron tinha prometido uma “mudança” no estilo de governo, independentemente de quem vencer as eleições antecipadas. E, apesar da perspetiva de um parlamento bloqueado, garantiu que cumprirá o seu mandato até 2027, desafiando os apelos feitos por Marine Le Pen para renunciar caso o RN saia vencedor.
“O objetivo não pode ser simplesmente continuar como as coisas estavam”, declarou nessa carta aberta. “Ouvi que querem mudança”, prosseguiu, dizendo ainda que “podem confiar em mim para atuar até maio de 2027 como vosso presidente, protetor em todos os momentos da nossa república, dos nossos valores, respeitador do pluralismo e das suas escolhas, ao vosso serviço e da nação”.
Macron insistiu ainda que estas legislativas “não são uma eleição presidencial, nem um voto de confiança no Presidente da República”, mas sim uma oportunidade para responder a “uma única questão: quem deveria governar a França?”. “O novo governo, que refletirá necessariamente o vosso voto, será, espero, semelhante aos vários republicanos que terão demonstrado coragem para se opor aos extremos”.
ana.meireles@dn.pt