Assalto à siderurgia de Mariupol após saída da caravana de civis
Com o bebé de seis meses nos braços, Anna Zaitseva chegou a Zaporíjia oriunda da siderurgia Azovstal. "Estamos muito gratos a todos os que nos ajudaram. Houve um momento em que perdemos a esperança, pensávamos que todos se tinham esquecido de nós", disse à AFP. Zaitseva e o filho fazem parte do grupo de 101 pessoas retiradas com sucesso do complexo industrial de Mariupol, após semanas de isolamento e ataques russos. A chegada deste grupo a salvo coincidiu com um novo assalto das forças invasoras a Azovstal, onde ainda estarão ainda mais de 200 civis e os últimos militares ucranianos na cidade.
Apesar de Vladimir Putin ter dado instruções para que "nem uma mosca" pudesse sair da siderurgia, o homólogo francês Emmanuel Macron pediu que se criem condições para que a retirada prossiga, e que as pessoas possam decidir o seu destino.
Após descer de um autocarro, a idosa Olga Savina disse que o sol queimou-lhe os olhos depois de tantos dias no subsolo e queixou-se dos russos: "Estive em Azovstal durante dois meses e meio e eles atacaram-nos de todos os lados", testemunhou ao New York Times. Às 101 mulheres e crianças de Mariupol juntaram-se outras 58 de Mangush, nos arredores daquela cidade, numa viagem de três dias que atravessou uma faixa controlada pela Rússia e dezenas de postos de controlo, e organizada pelas Nações Unidas e pela Cruz Vermelha Internacional, na sequência da visita de António Guterres a Moscovo.
As duas organizações planeiam continuar a retirada de civis, mas por ora as hostilidades regressaram. Segundo o capitão Svyastoslav Palamara, do batalhão Azov, o bombardeamento noturno matou duas mulheres e feriu outras dez pessoas. Ao que se seguiu "um poderoso assalto ao território da fábrica Azovstal" com o apoio de veículos blindados e tanques. Numa mensagem vídeo, o militar ucraniano disse ainda que as forças russas estavam também a tentar "desembarcar infantaria em grande número", tendo apelado para "ações imediatas"com o objetivo de se retirar os civis restantes.
O exército russo confirmou que as suas forças e os separatistas pró-Moscovo estavam a atacar Azovstal com artilharia e aviões, e acusaram os ucranianos de utilizarem uma pausa nos combates para tomarem posições de combate. Neste mundo ao contrário, o líder russo disse que o Ocidente poderia ajudar a pôr fim às "atrocidades", "exercendo uma pressão determinante sobre as autoridades de Kiev, bem como ao suspender o fornecimento de armas à Ucrânia".
No telefonema entre Putin e Macron - que durou duas horas, segundo a BFMTV - o líder russo acusou as forças ucranianas de cometerem crimes de guerra e alegou que a União Europeia os estava a "ignorar". Quanto à via negocial entre o invasor e invadido, Putin disse que Kiev não está pronto para "um trabalho sério" para terminar o conflito.
Do Eliseu, além do apelo para uma trégua em Mariupol para que a retirada prossiga, Putin ouviu o reeleito presidente manifestar disponibilidade para ajudar a levantar o bloqueio russo às exportações de alimentos ucranianos através do Mar Negro, em conjunto com organizações internacionais, "tendo em conta as suas consequências para a segurança alimentar mundial".
Nas últimas horas o momento mais mortífero na Ucrânia deu-se num acidente rodoviário, na autoestrada entre Kiev e Chop, tendo causado a morte a pelo menos 17 pessoas, mas registaram-se ataques russos em Kharkiv e arredores, bem como nas regiões de Zaporíjia e Donetsk. Pelo menos 10 pessoas foram mortas e 15 ficaram feridas num ataque a uma fábrica de coque na cidade de Avdiivka. A leste de Odessa, o centro de Mykolaiv foi atingido durante a noite e em Lviv; horas depois, mísseis danificaram duas subestações elétricas, deixando às escuras partes da cidade.
Segundo o Ministério da Defesa russo, as suas forças atingiram um centro logístico num aeródromo militar nos arredores do porto de Odessa, que estaria a ser utilizado para o armazenamento de armas. Segundo Moscovo, foram destruídos drones turcos Bayraktar, bem como mísseis e munições provenientes dos Estados Unidos e da Europa. Kiev, por seu lado, diz ter destruído um posto de comando e três paióis em Kherson e Mykolaiv.
Twittertwitter1521513051811426306
O primeiro-ministro britânico dirigiu-se ao parlamento de Kiev em videoconferência, tendo elogiado a resistência da Ucrânia como a sua "melhor hora", uma citação de Winston Churchill, "num conflito sem ambiguidade moral, é o certo contra o errado". Boris Johnson anunciou um novo pacote de ajuda militar de 358 milhões de euros.
O governo israelita tinha exigido uma retratação do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, pelas declarações em que alega que Hitler tinha "sangue judeu" e que os "maiores antissemitas são geralmente judeus", porém a resposta de Sergei Lavrov foi no sentido inverso. "Tomámos nota das declarações anti-históricas do ministro dos Negócios Estrangeiros [israelita] Yair Lapid, que em grande parte explicam a decisão do atual governo de apoiar o regime neonazi em Kiev", acusou o MNE russo. Segundo o Haaretz, Israel planeia agora aumentar a ajuda militar à Ucrânia.