Assad nega ter planeado fugir e diz que a Síria está “nas mãos de terroristas”
O ex-presidente sírio Bashar al-Assad revelou esta segunda-feira, num comunicado publicado no Telegram, que nunca planeou fugir do país e que queria continuar a lutar. Contudo, foi retirado por Moscovo depois de a base russa onde se encontrava no oeste da Síria ter sido atacada pelos rebeldes, que entraram vitoriosos em Damasco na noite de 7 para 8 de dezembro. Assad, cuja família governou o país durante cinco décadas, alega que o país caiu “nas mãos dos terroristas” e critica que se esteja a “reformular o terrorismo internacional como uma revolução de libertação na Síria” no texto em que conta a sua versão dos acontecimentos.
“A minha saída da Síria não foi planeada nem ocorreu nas últimas horas da batalha, como alguns alegaram”, afirma através da antiga conta de Telegram da presidência síria. Sobre as “circunstâncias” que levaram à sua saída do país, Assad explica que só deixou Damasco no dia 8, quando os rebeldes islamitas do Hayat Tahrir al-Sham, que tinham lançado uma operação surpresa 12 dias antes a partir de Idlib, se estavam a aproximar.
O seu destino foi a base russa de Khmeimim, de onde tinha previsto “supervisionar as operações de combate”. Contudo, ao chegar, apercebeu-se que as forças sírias tinham retirado de todas as suas posições e os rebeldes já estavam em Damasco.
O ex-presidente alega que partiu com destino à Rússia depois de “ataques intensos” com drones contra a base russa o terem deixado sem alternativa. “Sem meios viáveis para deixar a base, Moscovo solicitou que o comando organizasse uma evacuação imediata para a Rússia na noite de domingo, 8 de dezembro”, lê-se no comunicado.
Assad alega que, desde o primeiro momento da guerra, recusou comprometer o seu povo em troca de numerosas ofertas e tentações - tentando calar os que o acusam de corrupção - e sempre esteve ao lado dos soldados na linha da frente. Da mesma forma, “a pessoa que nunca abandonou a resistência na Palestina e no Líbano nem traiu os seus aliados, que ficaram ao seu lado, não pode ser a mesma pessoa que iria abandonar o seu próprio povo e trair o exército e a nação à qual pertence”, afirmou, terminando o texto com a “esperança” de que a Síria “possa uma vez mais ser livre e independente”.
“Em nenhum momento durante estes acontecimentos considerei demitir-me ou procurar refúgio, nem essa proposta me foi feita”, indicou o ex-presidente que, junto com a família, recebeu asilo na Rússia (a informação foi avançada pelos media russos, mas não confirmada oficialmente). “A única linha de ação era continuar a lutar contra o ataque terrorista”, defendeu Assad.
Os rebeldes que conquistaram Damasco são considerados um grupo terrorista por parte da ONU, dos EUA e da União Europeia, apesar de há anos terem cortado os laços com a Al-Qaeda e moderado o discurso. Tanto a ONU como Bruxelas já estabeleceram um primeiro contacto querendo apoiar uma “transição política credível e inclusiva”.
susana.f.salvador@dn.pt