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Internacional
As oito datas que marcam Chernobyl. Da construção da central nuclear ao drone que explodiu no arco de proteção
Um drone com explosivos atingiu o arco de proteção do reator n.º 4 da antiga central nuclear. A acidentada história de Chernobyl em oito momentos.
1972
Inicia a construção da central nuclear Vladimir Lenine, 15 quilómetros a noroeste da cidade de Chernobyl, na margem direita do rio Prypiat, um afluente do Dniepre. Prypiat foi também o nome dado à cidade construída junto da central atómica para hospedar os seus trabalhadores.
1977
Foi a oitava central nuclear a entrar ao serviço na União Soviética, a primeira na República Socialista Soviética da Ucrânia e a terceira com o sistema RMBK (ou seja, reator de canal de alta potência), um reator arrefecido a água com canais de combustível individuais e que utiliza grafite como moderador de neutrões. De acordo com a Associação Nuclear Mundial, o design "invulgar" deste tipo de reatores tinha "várias deficiências" que contribuíram para a falta de segurança. No ano seguinte, o reator n.º 2 entrou ao serviço. Em 1983 ficaram a funcionar os quatro reatores, cada um com capacidade para produzir 1000 megawatts de eletricidade.
1982
Em setembro de 1982, devido a uma válvula de refrigeração defeituosa, ocorreu uma fusão parcial do núcleo do reator n.º 1. Apesar da libertação de radiações, e de terem sido efetuadas limpezas dentro e à volta da central, o acidente só foi tornado público anos mais tarde. O reator esteve a ser reparado durante oito meses, conta o jornalista britânico Adam Higginbotham no livro Midnight in Chernobyl.
1986
Em 26 de abril de 1986, o reator n.º 4 sofreu uma fusão que resultou numa explosão do núcleo, o que levou à libertação de grandes quantidades de materiais radioativos na atmosfera e nos terrenos circundantes -- muito mais do que as libertadas pelo bombardeamento de Nagasáqui e Hiroxima. Reza a história que o maior desastre nuclear ocorreu na sequência de uma experiência mal concebida. Os técnicos desligaram o sistema de regulação da potência do reator e os seus sistemas de segurança de emergência e retiraram a maior parte das barras de controlo do núcleo, permitindo que o reator continuasse a funcionar a 7% da potência. A reação em cadeia no núcleo de grafite ficou fora de controlo e várias explosões rebentaram com a tampa de aço e betão do reator. A URSS só admitiu a existência do acidente depois de as autoridades suecas terem registado níveis elevados de radioatividade. As autoridades evacuaram as localidades em redor, criaram uma zona de exclusão com um raio de 30 quilómetros e construíram um sarcófago de betão e aço para tentar conter as radiações.
2000
Foi o ano em que a central de Chernobyl deixou de produzir eletricidade, com o desligar do reator n.º 3. O reator n.º 2 foi desligado em 1991 na sequência de um incêndio; em 1996 foi a vez do reator n.º 1 cessar operações.
2017
Anunciado em 2003 e iniciado a construção em 2010, só em 2017 é que ficou concluído o novo sarcófago. A estrutura de aço em forma de arco tem 100 metros de altura, 270 metros de largura e 150 metros de comprimento num total de 31 mil toneladas e um custo de 2,15 mil milhões de euros. À sua volta, onde antes viviam mais de 100 mil pessoas, a zona de exclusão entretanto alargada tornou-se num paraíso para a fauna, com populações crescentes de alces, corças, javalis, lobos, ursos, raposas, linces, bisontes e até uma espécie de cavalo em perigo (cavalo-de-przewalski), como um em 2016.
2022
Até à invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022, cerca de 6 mil pessoas trabalhavam na central para monitorizar a radioatividade: há 200 toneladas de combustível nuclear, 30 toneladas de poeiras contaminadas e 16 toneladas de urânio e plutónio. Na central também se processa o combustível nuclear usado de outras centrais na Ucrânia e na Europa. No entanto, as operações ficaram comprometidas com a invasão e consequente pilhagem e vandalismo dos soldados russos, inclusive de software único, como os seus responsáveis deram conta numa reportagem do.
2025
Um drone russo carregado de explosivos atingiu o sarcófago (ou arco para os franceses que o construíram) do antigo reator n.º 4 da central nuclear de Chernobyl, disse a presidência da Ucrânia. Quer Kiev quer a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) disseram que os danos provocados não causaram aumento da radiação. Além do perigo de radiação caso o arco protetor fosse destruído, existe outro perigo no complexo: o combustível usado, em milhares de barras, está armazenado em piscinas para arrefecer a temperatura. Caso haja uma falha de eletricidade duradoura, a água das piscinas evapora, o revestimento das barras de combustível usado fica exposto ao ar e incendeia-se.
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