As armas não se calaram no segundo aniversário do ataque do 7 de Outubro, com relatos de bombardeamentos na cidade de Gaza - o mais recente alvo das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla inglesa) - mas também alertas em Israel por causa de um rocket lançado desde a Faixa de Gaza e drones desde o Iémen. Tudo enquanto os israelitas assinalavam os dois anos da tragédia, os palestinianos os dois anos do início da guerra e as negociações indiretas para a paz prosseguiam em Sharm el-Sheikh, no Egito. Vários líderes mundiais, desde o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lembraram o “horror” do 7 de outubro de 2023 - no qual 1200 pessoas morreram e 451 foram feitas reféns (48 ainda estão na Faixa de Gaza). E apelaram a aproveitar o plano de paz de 20 pontos do presidente dos EUA, Donald Trump, para alcançar o fim da guerra, que segundo as contas das autoridades de saúde de Gaza, controladas pelo Hamas, já matou mais de 67 mil pessoas. .No segundo aniversário do ataque do Hamas a Israel, líderes mundiais lembram o "horror" e apelam à paz.As negociações prosseguem no resort egípcio, mas podem não ser tão rápidas quanto Trump deseja. O grupo terrorista palestiniano, que esta terça-feira (7 de outubro) lembrou o “dia glorioso” que representou um “ponto de viragem na região”, disse também querer chegar a um acordo com base no plano de Trump. Mas revelou as suas exigências para que isso aconteça.“A delegação que participa nas negociações no Egito está a trabalhar para ultrapassar todos os obstáculos e chegar a um acordo que vá ao encontro das aspirações do nosso povo em Gaza”, disse um alto-representante do Hamas, Fawzi Barhoum, em declaração televisiva. O responsável disse que o acordo deve garantir o fim da guerra, a retirada total de Israel da Faixa de Gaza (algo que os israelitas têm recusado) e o início imediato de um processo de reconstrução abrangente sob supervisão de um “órgão tecnocrático nacional” palestiniano.Uma fonte ligada às negociações, que pediu o anonimato, disse à EFE que o grupo terrorista terá aceitado entregar as suas armas a forças de segurança palestinianas que estarão a ser formadas no Egito e Jordânia, mas rejeita a presença do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair como “governador” da Faixa de Gaza. O plano de Trump prevê que o próprio presidente norte-americano ficaria à frente de um Comité de Paz (no qual estaria Blair) para supervisionar um governo de transição tecnocrata palestiniano. O Hamas só aceita que Blair tenha um papel de supervisão remota, não no enclave.Outra fonte falou ao canal árabe Al-Jazeera do que esteve em causa no segundo dia de negociações: o mapa da retirada israelita e o calendário para a libertação dos reféns, com a delegação do Hamas a exigir uma ligação entre ambos. “A libertação do último refém deve coincidir com a retirada final das forças de ocupação”, indicaram, querendo ainda garantias internacionais para o cessar-fogo final. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar (um dos países mediadores) lembrou que Israel já devia ter parado as operações em Gaza - o presidente dos EUA tinha pedido que parassem os bombardeamentos, diante da disposição do Hamas de libertar os 48 reféns. Majed al-Ansari também lembrou que Israel modificou a proposta inicial na reunião de Trump com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. Ainda assim concordou que “todas as partes estão a pressionar para chegar a um acordo”, apesar de admitir que não será rápido.Do lado israelita, o silêncio é total em relação às negociações, que a partir desta quarta-feira (8 de outubro) devem contar também com a presença do enviado especial da Casa Branca para o Médio Oriente, Steve Witkoff, além do genro de Trump e antigo enviado, Jared Kushner. “Estamos muito perto de um acordo. Acho que existe a possibilidade de podermos ter paz no Médio Oriente”, insistiu Trump esta terça-feira na Sala Oval, falando do impacto para lá de Gaza.Lembrar a tragédiaNo segundo aniversário do ataque do Hamas, vários amigos e familiares das vítimas visitaram os locais da tragédia, nomeadamente o do festival Nova, onde mais de 370 pessoas morreram e que foi transformado em memorial. Dezenas foram feitos reféns, alguns ainda estão no enclave palestiniano. Um minuto de silêncio foi assinalado às 6h29, a hora precisa a que o Hamas lançou o seu ataque, quando centenas de pessoas dançavam nesta zona de deserto do Negev junto à fronteira com a Faixa de Gaza.Muitos não conseguem fazer totalmente o luto, não só porque ainda há reféns no enclave, como permanecem muitas perguntas sobre o que aconteceu naquele dia. “Onde estavam as forças de resgate? Onde estava o Estado? Como é que vocês estiveram aqui horas e ninguém se salvou?”, disseram as famílias em comunicado, segundo a emissora pública israelita Kan. “E, no entanto, dois anos depois, ainda não temos respostas. Todas as investigações que nos apresentaram são deitar sal na ferida e areia nos olhos das famílias”, acrescentaram.O presidente israelita, Isaac Herzog, lembrou aquele “dia sombrio”, falando num dia “em que a alma de Israel foi dilacerada” por um “mal indizível contra homens, mulheres e crianças”. Mas destacou também a “coragem” dos soldados, o “heroísmo” dos cidadãos e “a unidade de um povo que se recusou render”. O presidente insiste que o país não descansará enquanto os reféns não estiverem todos de volta. “Israel continua a ser um farol de liberdade e democracia numa região turbulenta, e acredito verdadeiramente que, da dor destes anos, poderá ainda nascer uma nova era de cooperação e prosperidade partilhada”, escreveu numa mensagem no X. “Das profundezas da dor, extraímos força; das cinzas da tragédia, construímos a renovação. A história de Israel é a história da resiliência, de um povo que nunca desistirá, nunca cederá e nunca deixará de acreditar que a luz vencerá as trevas”, acrescentou, agradecendo aos amigos e parceiros e especialmente a Trump pelos seus esforços para trazer os reféns de volta e a paz ao Médio Oriente.No aniversário, as armas que soam há dois anos (os períodos de cessar-fogo foram curtos) não se calaram. Tanto na cidade de Gaza, no norte, como em Khan Yunis, no sul, houve relatos de novos ataques israelitas às primeiras horas da manhã. As IDF indicaram ainda que foram lançados rockets contra Israel, fazendo soar as sirenes como há dois anos. Anunciaram ainda que dois soldados israelitas ficaram feridos com gravidade durante combates no sul da Faixa de Gaza. Os Houthis também não ficaram fora do aniversário, lançando pelo menos quatro drones numa única hora durante a tarde, que fizeram soar os alarmes.