Apresentador de televisão costa-marfinense suspenso após reconstituição de violação em direto

Yves de Mbella convidou um violador condenado na noite de 30 de agosto, tendo-o convidado a encenar, com recurso a um manequim, o seu <em>modus operandi</em>
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O apresentador de televisão costa-marfinense Yves de Mbella foi suspenso na terça-feira por 30 dias pela Alta Autoridade de Comunicação Audiovisual do país (HACA), por ter solicitado, em direto, a reconstituição de uma violação a um violador.

"Esta reconstrução de um ato de violação pelo seu autor, ao vivo e em horário nobre com o apoio de comentários obscenos, constitui uma validação da violação e atenta gravemente contra a dignidade da mulher, a moral e a sensibilidade dos jovens" escreveu a HACA num comunicado citado esta quarta-feira pela agência noticiosa Efe.

De Mbella, apresentador do programa La Télé d'Ici Vacances, na estação de televisão privada Nouvelle Chaîne Ivoirienne (NCI), convidou um violador condenado na noite de 30 de agosto, tendo-o convidado a encenar, com recurso a um manequim, o seu modus operandi.

A HACA registou que a violação é um crime para o código penal costa-marfinense e que a sua banalização e protagonismo "de um ex-recluso condenado por este delito é absolutamente intolerável".

A entidade expressou também a sua solidariedade para com as vítimas de violação - tanto mulheres como homens - e com todas as pessoas, associações e organizações que promovem os direitos humanos e combatem a violência contra as mulheres.

O programa da noite de 30 de agosto provocou uma onda de indignação na sociedade costa-marfinense, levando várias figuras políticas a manifestarem-se.

A Liga da Costa do Marfim para os Direitos das Mulheres condenou o número "com a máxima energia", considerando que foi "humilhante e degradante para as mulheres".

O ministro da Comunicação da Costa do Marfim, Amadou Coulibaly, considerou "lamentável que um assunto tão sério e grave como uma violação tenha sido tratado tão levianamente", tendo elogiado a medida implementada pela HACA.

Por sua vez, De Mbella reagiu na terça-feira na sua conta na rede social Facebook, lamentando "sinceramente ter chocado ao tentar sensibilizar".

"Peço desculpa a todas as vítimas de violação, pelas quais sempre senti compaixão, que ficaram ofendidas por algumas das coisas que foram ditas ontem [segunda-feira] à noite", disse.

De Mbella acrescentou que acolheu no seu programa um violador arrependido que foi libertado da prisão há 21 anos "para partilhar as suas mágoas na prisão e os seus sábios avisos sobre este assunto sensível".

Um grupo de mulheres reunidas fora da estação de televisão exigiram que esta "criasse um espaço horário para dar voz às vítimas" e "sensibilizasse para a violação e violência sexual".

"É um canal muito popular num país com uma elevada taxa de analfabetismo. As pessoas veem coisas na televisão e reproduzem-nas", disse à agência France-Presse (AFP) Fatim Sylla, membro da associação para o desenvolvimento das mulheres e das crianças Allo Bénévoles.

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