Apelos a novos protestos após alegada abolição da polícia da moralidade do Irão
Em quase três meses de protestos, mais de 400 pessoas morreram e pelo menos duas mil foram detidas e acusadas de vários crimes por participarem nas mobilizações, entre as quais seis foram condenadas à morte.
Ativistas iranianos convocaram esta segunda-feira protestos para os próximos três dias, com mobilizações e greves, após o procurador-geral do Irão ter anunciado que a polícia da moralidade, na origem de meses de protestos no país, "foi encerrada".
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"A unidade é um dos fatores para a vitória", disse um grupo de jovens dos bairros da capital, Teerão, nas redes sociais, apelando a uma greve hoje, seguida de manifestações nos subúrbios, na terça-feira, e de uma reunião na praça central de Azadi, na quarta-feira.
O Irão tem sido afetado por meses de protestos, que culminaram em apelos ao derrube dos líderes religiosos da República Islâmica, após a morte de Masha Amini, 22 anos, que tinha sido detida pela polícia da moralidade por uso incorreto do véu islâmico.
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Em quase três meses de protestos, mais de 400 pessoas morreram e pelo menos duas mil foram detidas e acusadas de vários crimes por participarem nas mobilizações, entre as quais seis foram condenadas à morte.
No sábado, o procurador-geral Mohamed Jafar Montazeri revelou que a polícia da moralidade "foi encerrada", indicou a agência noticiosa ISNA. A agência não forneceu detalhes e os 'media' estatais não se referiram a esta suposta decisão.
A agência noticiosa Associated Press (AP) não conseguiu confirmar o atual estatuto da força, estabelecida em 2005 com a tarefa de deter e questionar pessoas que violassem o código de vestuário islâmico em vigor.
Desde setembro que diversos relatos indicam uma redução do número de polícias da moralidade nas cidades iranianas e um aumento do número de mulheres que surgem em público sem o véu islâmico, mesmo que ainda contrarie a lei iraniana.
O procurador-geral Montazeri não especificou sobre o futuro da polícia da moralidade, ou se a sua extinção era aplicável a nível nacional e de forma permanente. No entanto, acrescentou, o sistema judiciário iraniano "continuará a examinar o comportamento a nível da comunidade".
Na sexta-feira, a ISNA reproduziu declarações de Montazeri nas quais assegurou que o Governo estava a rever a lei obrigatória sobre o uso do hijab para as mulheres.
"Estamos a trabalhar rapidamente sobre a questão do hijab e a fazer o nosso melhor para garantir uma solução sensata para abordar este fenómeno que fere o coração de qualquer pessoa", disse Montazeri, sem adiantar mais detalhes.