O líder norte-coreano não podia ter sido mais efusivo ao dirigir-se ao anfitrião russo, depois da visita ao cosmódromo de Vostochny, a 8000 quilómetros de Moscovo, ao prometer estar sempre ao lado da Rússia, a qual está, disse, a "travar uma luta sagrada". A ONU e os Estados Unidos mostraram preocupação com esta aproximação, apesar de nada em concreto ter sido firmado. Pouco antes, a força aérea ucraniana infligiu um ataque às docas de Sebastopol, tendo atingido um navio de assalto anfíbio e, pela primeira vez, um submarino.."A Rússia está atualmente a travar uma luta sagrada contra as forças hegemónicas para defender os seus direitos soberanos, a sua segurança e os seus interesses. A República Popular Democrática da Coreia sempre manifestou o seu apoio total e incondicional a todas as medidas tomadas pelo governo russo e aproveito esta oportunidade para reafirmar que estaremos sempre ao lado da Rússia na frente anti-imperialista e na frente da independência", afirmou Kim Jong-un..Diante de Kim, Putin fez um brinde ao "futuro fortalecimento da cooperação" com Pyongyang: "Na Coreia há o provérbio "A roupa nova é boa, e o amigo, velho". No nosso país dizemos "Mais vale um amigo velho do que dois novos"", disse ainda o russo, ao que Kim retrucou estar "convencido de que o "heroico exército russo", o mesmo que iria tomar Kiev em três dias , vai "conquistar uma grande vitória" na "operação militar especial", e que o povo russo vai ser bem-sucedido na "construção de um Estado forte", tendo ainda brindado "às novas vitórias da grande Rússia"..Moscovo e Pyongyang terão encontrado pontos em comum para um acordo segundo o qual a Rússia pode alimentar a sua artilharia com munições e foguetes contra a Ucrânia, e em troca ajudar a Coreia do Norte a lançar satélites e a desenvolver submarinos nucleares, além de fornecer alimentos. A prioridade de Putin é não perder a face na Ucrânia, mas o isolamento internacional levado a cabo pelas sanções económicas limita o país na capacidade de produção de certas armas devido à tecnologia que incorpora, bem como restringe a importação de armamento e munições..Como regime que depende das forças militares, a Coreia do Norte está sentada num imenso barril de pólvora. Além de produzir armamento convencional, Pyongyang armazena stocks de material de guerra soviético. Pode fornecer, por exemplo, foguetes para os lançadores múltiplos Grad, que as forças russas usam na Ucrânia, ou canhões e obuses das décadas de 1950 e 1960..No entanto, se o líder russo foi muito claro ao manifestar interesse em cooperar na área da engenharia espacial, ou em "muitos outros projetos interessantes" nos transportes e na agricultura, deixou a dúvida no que respeita à cooperação militar, ao afirmar que a Rússia está a respeitar as sanções da ONU que proíbem a aquisição de armas a Pyongyang. "Há certas restrições e a Rússia está a cumpri-las todas. Há coisas de que podemos falar, estamos a discutir, a pensar. A Rússia é um país autossuficiente, mas há coisas para as quais podemos chamar a atenção, estamos a discuti-las", afirmou Putin..Sobre esta questão, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que "qualquer forma de cooperação de qualquer país com a Coreia do Norte deve respeitar o regime de sanções que foi imposto pelo Conselho de Segurança". Para os Estados Unidos, A cooperação anunciada durante a visita do líder norte-coreano é "bastante preocupante e pode violar várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller. Em específico, Miller apontou para o facto de os satélites norte-coreanos terem sido utilizados para desenvolver os mísseis balísticos de Pyongyang.."Quaisquer acordos que melhorem as capacidades militares da Coreia do Norte serão certamente motivo de preocupação", comentou por sua vez o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby. Washington, que já havia advertido a Coreia do Norte de que pagaria um preço caso fornecesse armamento à Rússia, disse através do chefe do Gabinete de Coordenação de Sanções do Departamento de Estado que um acordo entre os países violaria as sanções existentes. Em consequência, disse James O"Brien, os EUA iriam tentar identificar os indivíduos e os mecanismos financeiros utilizados para "pelo menos limitar a sua eficácia"..Yohann Michel, analista do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, disse à AFP que há que ver esta aproximação com cautela. "Pode haver um interesse da Rússia. Resta saber se existe para a Coreia do Norte e se os russos estão dispostos a dar o que pedem em troca", uma vez que ambas as partes "ponderam os seus interesses", acrescentou. Para Antoine Bondaz, perito da Fundação Francesa para a Investigação Estratégica, é mais uma "estratégia de comunicação" russa que "visa pressionar Seul", fornecedora de armas de forma indireta à Ucrânia através da Polónia, escreveu no Le Monde..Twittertwitter1701765467738644810.A muitos quilómetros de distância, o chefe da força aérea ucraniana Mykola Oleshchuk agradeceu "o excelente trabalho de combate" dos seus pilotos, sugerindo que as explosões que deixaram em estado irrecuperável o submarino Rostov-na-Don e o navio de assalto anfíbio Minsk nas docas de Sebastopol foram alvo da aviação e que foram usados mísseis de cruzeiro, ou os britânicos Storm Shadow ou os franceses Scalp..cesar.avo@dn.pt