Presidente do Conselho Europeu, António Costa
Presidente do Conselho Europeu, António CostaJOSÉ COELHO/LUSA

António Costa: Não está no "horizonte da Rússia" a disponibilidade "para negociar a paz"

No que se refere ao Médio Oriente, Costa garante que a UE tem “uma panóplia” de decisões com “consequências concretas” que pode tomar sobre a relação com Israel devido à violação dos direitos humanos.
Publicado a
Atualizado a

O presidente do Conselho Europeu defende que o bloco comunitário deve continuar a pressionar o Kremlin com mais sanções pois “não há no horizonte” disponibilidade da Rússia para negociar um cessar-fogo com vista à paz na Ucrânia.

“A Rússia recusou o cessar-fogo, a Rússia recusou participar em alto nível nos esforços de negociação e a Rússia tem, aliás, intensificado os ataques à Ucrânia e, portanto, isso significa que não parece que esteja no horizonte da Rússia a predisposição para negociar a paz”, diz António Costa, em entrevista à agência Lusa em Bruxelas.

Quando assinala seis meses no cargo de líder da instituição que junta os chefes de Governo e de Estado da UE, o antigo primeiro-ministro português salienta: “O ideal era a guerra não ter começado, o segundo ideal era a guerra acabar no próximo segundo, [mas] a realidade é que, apesar do apoio que todos temos dado aos esforços do presidente [norte-americano, Donald] Trump para procurar um acordo de paz, esses esforços não têm tido a menor correspondência do lado da Rússia.”

Presidente do Conselho Europeu, António Costa
Putin e Macron discutem Ucrânia na primeira conversa em três anos

18.º pacote de sanções. UE deve “não só continuar a apoiar a Ucrânia", como "aumentar a pressão sobre a Rússia”

Numa altura em que a UE está prestes a aprovar o seu 18.º pacote de sanções à Rússia pela guerra da Ucrânia, António Costa defende que o bloco comunitário deve “não só continuar a apoiar a Ucrânia, como […] aumentar a pressão sobre a Rússia”.

Este novo pacote de medidas restritivas – que vai incluir novas listagens de entidades e indivíduos abrangidos pelas sancoes, reforço do combate à frota fantasma do petróleo russo e alargamento das limitações ao sistema bancário russo – está, de acordo com o presidente do Conselho Europeu, a ser ultimado e será coordenado “com os Estados Unidos, com o Canadá e com os outros parceiros internacionais”.

“Esta tem de ser uma pressão global para poder ter eficácia”, considera.

Apesar de a guerra persistir, António Costa vinca que as sanções europeias estão a funcionar dada a “situação de grande debilidade” da economia russa.

Esta entrevista à Lusa ocorre quando se tentam conversações de paz com mediação norte-americana e nas quais a UE entende que a Ucrânia deve estar na posição mais forte possível antes, durante e depois das negociações para pôr termo à guerra.

A Ucrânia detém também, desde 2022, o estatuto de país candidato à UE e, para António Costa, “é impressionante” como, “no meio de uma guerra, tem medo de conseguir realizar o conjunto de reformas que são essenciais” para tal adesão.

No passado dia 1 de dezembro de 2024, António Costa começou o seu mandato de dois anos e meio à frente do Conselho Europeu, sendo o primeiro socialista e português neste cargo.

Passou esse primeiro dia em funções em Kiev para garantir apoio europeu à Ucrânia.

Desde o início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, a UE concedeu 138,2 mil milhões de euros à Ucrânia e, em termos de ajuda financeira, o bloco europeu contribuirá com 30,6 mil milhões de euros para Kiev em 2025.

A UE também tem avançado com pesadas sanções contra a Rússia, nomeadamente económicas ou diplomáticas visando milhares de pessoas e entidades, com a proibição de viajar para a UE, o congelamento de bens e a indisponibilidade de acesso a fundos que provenham do espaço comunitário.

Avançou também para o congelamento de bens, num total de 24,9 mil milhões de euros de bens privados congelados no espaço comunitário e de 210 mil milhões de euros de bens do Banco Central da Rússia bloqueados.

Ao nível comercial, as medidas restritivas europeias visam 48 mil milhões de euros em exportações proibidas para a Rússia e 91,2 mil milhões de euros em importações proibidas provenientes da Rússia.

A Ucrânia tem também contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais.

Os aliados de Kiev têm decretado sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra na Ucrânia.

UE tem "panóplia de decisões" a tomar sobre relação com Israel 

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, garante que a UE tem “uma panóplia” de decisões com “consequências concretas” que pode tomar sobre a relação com Israel devido à violação dos diretos humanos em Gaza.

“Pela primeira vez temos uma panóplia de decisões a tomar com consequências concretas no nosso relacionamento com Israel e fruto não da vontade de termos um conflito com Israel, mas da constatação daquilo que é a realidade que ninguém pode deixar de ver”, diz António Costa.

Quando assinala seis meses no cargo de líder da instituição que junta os chefes de Governo e de Estado da UE, o antigo primeiro-ministro português destaca que, “pela primeira vez, há um relatório oficial da União Europeia constatando a violação dos direitos humanos em Gaza e o Conselho Europeu mandatou o Conselho [da UE] para tirar as conclusões adequadas desses factos em relação ao acordo de associação com Israel”.

“Agora, se vamos aplicar sanções aos ministros, se vamos aplicar sanções a Israel, se vamos suspender o acordo, se vamos simplesmente convocar o conselho de associação [UE-Israel]… Eu não me vou antecipar àquilo que é o debate próprio que os ministros dos Negócios Estrangeiros vão fazer”, enumera.

António Costa tem sido um dos líderes da UE mais vocais a condenar a situação humanitária em Gaza e, na quinta-feira, levou o tema à reunião do Conselho Europeu, a terceira ordinária por si presidida após ter iniciado funções em 1 de dezembro passado.

Na ocasião, António Costa afirmou que a UE "não deve ficar impávida" sobre a situação humanitária em Gaza, face à ofensiva israelita, defendendo diálogo com "o amigo" Israel para cessar-fogo.

Nas conclusões aprovadas na cimeira europeia, os chefes de Governo e de Estado da UE "deploraram a terrível situação humanitária" na Faixa de Gaza, perpetrada por Israel, considerando "inaceitável o número de vítimas civis e os níveis de fome" com o bloqueio à entrada de camiões no enclave palestiniano, segundo as conclusões escritas aprovadas.

No texto, o Conselho Europeu disse também tomar "nota do relatório sobre o cumprimento do Artigo 2.º do acordo de associação entre Israel e a UE", que dá conta de violações dos direitos humanos por parte de Telavive, e anunciou que em julho vai começar a discutir como proceder.

Na entrevista à Lusa, António Costa admite que “cada um destes 27 Estados-membros tem, relativamente a si próprio e relativamente ao mundo, uma história e uma tradição bastante diversas”, com países como Alemanha, República Checa e Áustria a terem fortes laços com Israel.

“Infelizmente, a trágica realidade humanitária que Israel causou em Gaza […] obviamente levou a que ninguém hoje em dia se possa opor a sinalizar que a situação humanitária em Gaza é verdadeiramente dramática e que é urgente o cessar-fogo de Israel em Gaza, é urgente terminar com os colonatos ilegais na Cisjordânia, é urgente permitir a assistência humanitária e é urgente salvar a população de Gaza”, vinca.

A posição surge numa altura em que se registam mais de 56 mil mortos e mais de 127 mil feridos desde o início da guerra entre Israel e o grupo islamita Hamas em outubro de 2023.

É também estimado que cerca de 470 mil pessoas estejam em risco de fome severa, com dezenas de civis mortos enquanto esperavam ajuda humanitária nas últimas semanas.

Presidente do Conselho Europeu, António Costa
Trump afirma que Israel aceitou cessar-fogo de 60 dias em Gaza e intima Hamas

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt