Internacional
02 dezembro 2022 às 17h19

Presidente chinês sugere possível flexibilização da política 'covid zero'

O descontentamento com a estratégia de saúde do governo provocou protestos no fim de semana passado de uma magnitude sem precedentes em décadas.

DN/AFP

O presidente Xi Jinping sugeriu que a variante omicron, menos letal, poderá permitir uma flexibilização da política de "covid zero" na China, onde várias cidades puseram fim a algumas das restrições de saúde mais rígidas esta sexta-feira.

As manifestações dos últimos dias para exigir o levantamento das restrições ocorrem porque as pessoas estão "frustradas" após três anos de pandemia, disse o líder chinês ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, numa conversa realizada na quinta-feira, afirmaram autoridades europeias sob anonimato.

Xi, acrescentou a fonte, disse ao responsável europeu que "agora a epidemia na China é basicamente omicron, menos letal, e isso abre a possibilidade de mais abertura nas políticas sanitárias".

Altos funcionários do governo chinês sugeriram que podem amenizar a política "covid zero".

A vice-primeira-ministra Sun Chunlan reconheceu na quarta-feira, num discurso à Comissão Nacional da Saúde, que a variante omicron é menos perigosa e afirmou que a taxa de vacinação aumentou no país, segundo a agência estatal Xinhua.

A maneira da China lidar com o vírus está "diante de novas circunstâncias", disse.

Figura central da estratégia chinesa de combate à pandemia, Sun não fez qualquer menção à política de tolerância zero à covid, dando a entender que talvez esta política, que afeta há três anos a vida da população e a economia do país, possa ser suavizada em breve.

O descontentamento com a estratégia de saúde do governo provocou protestos no fim de semana passado de uma magnitude sem precedentes em décadas.

As autoridades chinesas reagiram rapidamente para reprimir o movimento, com um significativo destacamento policial nas ruas e vigilância reforçada nas redes sociais. Mas isso não impediu que houvesse protestos esporádicos.

Em imagens publicadas na noite de quinta-feira na internet e geolocalizadas pela AFP, dezenas de pessoas são vistas diante de agentes em trajes de proteção em frente a uma escola em Yicheng, na província de Hubei (centro).

Segundo a pessoa que publicou o vídeo, são pais de menores que testaram positivo e foram levados para instalações de quarentena.

Em teoria, qualquer pessoa contaminada com covid-19 na China deve ser isolada num centro de quarentena. Mas isso parece estar a mudar.

Numa análise publicada esta sexta-feira pelo Diário do Povo, jornal do Partido Comunista, especialistas em saúde apoiaram as medidas anunciadas por algumas autoridades regionais para permitir que as pessoas que testam positivo para covid façam a quarentena em casa.

Responsáveis por vários bairros do distrito de Chaoyang, em Pequim, indicaram que esta medida já foi aplicada nos seus setores.

A cidade industrial de Dongguan (sul) anunciou na quinta-feira que pessoas com "condições específicas" devem ser autorizadas a ficar em casa durante o isolamento. Essas condições não foram especificadas.

A megalópole tecnológica de Shenzhen (sul) começou a aplicar uma política semelhante na quarta-feira.

A partir de segunda-feira, os habitantes de Pequim voltarão a poder andar de autocarro ou metro sem ter de apresentar um resultado negativo do teste PCR com menos de 48 horas, anunciou na sexta-feira o gabinete do autarca.

Agora será necessário apenas um passaporte sanitário com a cor verde, que confirma que a pessoa não passou por nenhuma área de "risco elevado". A mesma medida entrou em vigor, na sexta-feira, em Chengdu (sudoeste).

Na capital, as autoridades solicitaram aos hospitais que parem de rejeitar pacientes que não apresentem um exame PCR negativo com menos de 48 horas.

A China registou várias mortes por atrasos nos tratamentos médicos provocados pelas medidas anticovid. Este foi o caso de um bebé de quatro meses que faleceu recentemente pela exigência de permanecer em quarentena com o pai.

As manifestações do fim de semana passado voltaram a recordar estas mortes. Nas redes sociais, uma mensagem muito partilhada tem uma lista de nomes de pessoas que faleceram vítimas de negligências motivadas pelas restrições sanitárias.

Outras cidades, também afetadas por novos surtos de coronavírus, começaram a autorizar a reabertura de restaurantes, centros comerciais e escolas, deixando de lado as medidas severas que estavam em vigor.

Na cidade de Urumqi, capital da região de Xinjiang (noroeste), cenário de um incêndio que motivou as primeiras manifestações, as autoridades anunciaram esta sexta-feira que supermercados, hotéis, restaurantes e estações de esqui serão reabertos de forma gradual.