Internacional
17 maio 2022 às 10h16

Mariana Vishegirskaya: "A minha fotografia foi usada para espalhar mentiras sobre a guerra"

Mariana Vishegirskaya, a grávida fotografada após o bombardeamento a uma maternidade em Mariupol em março, que se viu envolvida numa cadeia de desinformação, quebra silêncio à BBC e fala das acusações de que foi alvo por parte da Rússia e das desconfianças do lado ucraniano.

DN

Foi uma das imagens mais icónicas da guerra na Ucrânia. Uma mulher a sair de um hospital bombardeado na cidade de Mariupol em avançado estado de gravidez, embrulhada num cobertor e com a cara cheia de sangue.

A mulher em causa era a blogger ucraniana Mariana Vishegirskaya, que no dia seguinte deu à luz uma menina batizada com o nome de Veronika. E que se viu envolvida numa guerra de desinformação, com as autoridades russas a falarem de encenação, alegando que tinha sido mostrada uma imagem falsa de uma blogger ucraniana e aludindo a "duas imagens diferentes" daquela pessoa como parte da "campanha suja" da Ucrânia.

Twittertwitter1526465156577992704

A guerra de desinformação ganhou novos contornos dias mais tarde, quando Mariana deu uma entrevista a um blogger de Donetsk, região separatista que a Rússia reconheceu como independente, negando que o ataque à maternidade tivesse sido aéreo. O que motivou algumas desconfianças por parte dos ucranianos.

Mais de dois meses depois, Mariana quebrou o silêncio a um órgão ocidental, em declarações à BBC, e revelou as ameaças que de que foi alvo: "Recebi ameaças de que iriam encontrar-me, que eu seria morta, e a minha filha cortada em pedaços."

Mariana recordou depois o dia do bombardeamento da maternidade em Mariupol. "Era tudo a voar à nossa volta, estilhaços e outras coisas. Aquele zumbido ficou nos meus ouvidos durante muito tempo. Tudo o que eu tinha preparado para a minha bebé ficou naquela maternidade", relatou.

A blogger só mais tarde tomou conhecimento das acusações e críticas de que foi alvo, até porque a sua página no Instagram foi inundada com mensagens

"Foi ofensivo ler e ouvir algumas coisas, porque eu de facto vivi aquilo tudo. Os jornalistas [da agência de notícias AP] que colocaram as minhas fotografias nas redes sociais não entrevistaram as outras mulheres grávidas para que elas pudessem confirmar que aquele ataque de facto aconteceu", criticou.

Mariana viu-se entretanto envolvida numa nova polémica, por alegadamente ter dado uma entrevista a um blogue pró-Kremlin onde descreveu os ataques à maternidade, mas disse que não existiram bombardeamentos aéreos. Alguns jornalistas ucranianos manifestaram inclusivamente dúvidas sobre a veracidade da entrevista, sugerindo que pudesse ter sido editada. "A minha fotografia foi usada para espalhar mentiras sobre a guerra", atira.

Sobre este assunto, Mariana foi categórica na resposta à BBC. "O som típico que um avião faz quando sobrevoa é impossível de se esquecer", respondeu, mantendo a versão de que não pensa ter sido um ataque aéreo, algo que ficou posteriormente provado por alguns vídeos e até por uma cratera perto do local: "Eu não vi na altura essa cratera, só depois num vídeo. A verdade é que não posso culpar ninguém porque não vi com os meus próprios olhos de onde as explosões vieram", descreveu.