Internacional
24 maio 2022 às 11h15

Kissinger diz que Kiev deve ceder território e pede à Europa para não insistir em esmagar a Rússia

Para o antigo chefe da diplomacia norte-americana, a guerra deve ter um fim rápido e sugere que a Ucrânia deve ceder território para que seja alcançado um acordo de paz. "Espero que os ucranianos correspondam ao heroísmo que demonstraram com sabedoria", defendeu.

DN

Antigo chefe da diplomacia dos EUA, Henry Kissinger, de 98 anos, defende que a Europa deve parar de insistir numa derrota esmagadora das forças russas na Ucrânia, justificando com os efeitos desastrosos que tal traria para a estabilidade europeia a longo prazo. No Fórum Económico Mundial de Davos, na Suíça, Kissinger sugeriu que a Ucrânia deveria ceder território, de modo a ser alcançado um acordo de paz num conflito que dura há já três meses.

No seu testemunho, na segunda-feira, Kissinger, que foi o secretário de Estado dos EUA no tempo da Guerra Fria, pediu o fim rápido do conflito na Ucrânia e defendeu o início de negociações de paz "dentro de dois meses", antes que se criem "tensões e dificuldades que depois serão mais difíceis de ultrapassar", segundo o The Telegraph.

Negociações que, "idealmente, devem ter como linha divisória o regresso ao status quo que existia", dando a entender que os líderes mundiais deviam convencer a Ucrânia a ceder território para que seja possível alcançar um acordo de paz.

Uma posição contrária à da Ucrânia. Ainda esta semana, Mykhailo Podolyak, conselheiro de presidente Volodymyr Zelensky rejeitou qualquer cedência de território ucraniano a Moscovo.

"Prolongar e insistir na guerra muito mais tempo levará a que passe a ser não uma questão de liberdade da Ucrânia mas, sim, uma nova guerra contra a própria Rússia", defendeu Kissinger, referindo que o Ocidente não pode esquecer a importância de Moscovo no equilíbrio de poder na Europa e no mundo.

"Espero que os ucranianos correspondam ao heroísmo que demonstraram com sabedoria", sublinhou o antigo chefe da diplomacia norte-americano, considerando que a Ucrânia deve desempenhar o papel de Estado neutral, independente, não devendo ser a fronteira da Europa.

Kissinger explicou que a Rússia foi uma parte essencial da Europa durante mais de quatro séculos e, nesse sentido, os líderes europeus não devem perder de vista a relação a longo prazo com Moscovo nem arriscar e colocar a Rússia numa aliança permanente com a China.