Internacional
25 setembro 2022 às 18h25

Iranianos protestam pela décima noite consecutiva, apesar das ameaças

Pelo menos 41 pessoas já morreram desde o início dos protestos contra a morte da jovem curda Mahsa Amini

DN/AFP

Os iranianos saíram este domingo às ruas pela décima noite consecutiva, desafiando uma advertência dos oficiais de Justiça, para protestar contra a morte da jovem curda Mahsa Amini, que morreu sob custódia da polícia moral do país.

Pelo menos 41 pessoas já morreram desde o início dos protestos, a maioria manifestantes, mas também alguns membros das forças de segurança da república islâmica, de acordo com uma informação oficial, embora outras fontes digam que o número real é maior.

O grupo Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, disse na noite de domingo que o número de mortos era de pelo menos 57, mas observou que os apagões contínuos na Internet estavam a dificultar cada vez mais a confirmação de mortes num contexto em que os protestos liderados por mulheres se espalharam nas últimas noites para dezenas de cidades.

Ecoando um aviso do dia anterior por parte do presidente Ebrahim Raisi, também a principal figura da Justiça do país, Gholamhossein Mohseni Ejei, enfatizou neste domingo "a necessidade de uma ação decisiva sem tolerância" contra os principais instigadores dos "motins".

Centenas de manifestantes, ativistas reformistas e jornalistas foram presos desde que começaram as manifestações, principalmente noturnas, após a morte de Amini em 16 de setembro.

Amini, cujo primeiro nome curdo era Jhina, foi detids três dias antes de morrer por supostamente violar as regras sobre o uso adequado do hijab, o véu islâmico.

Imagens divulgadas pelo IHR mostraram manifestantes nas ruas de Teerão, gritando "morte ao ditador", supostamente após o anoitecer deste domingo. Testemunhas disseram à AFP que há protestos em curso em vários locais.

Algumas manifestantes iranianas removeram e queimaram os seus hijabs e cortaram os cabelos, ao longo dos últimos dias, algumas dançando perto de grandes fogueiras sob aplausos de multidões que gritavam "zan, zendegi, azadi" ou "mulher, vida, liberdade".

O mundo soube da violência nas ruas iranianas em grande parte por meio de imagens filmadas por telemóvel e publicadas nas redes sociais, mesmo quando as autoridades limitaram o acesso à Internet.

O monitor da Web NetBlocks observou "apagões contínuos" e "restrições generalizadas da plataforma de internet", com WhatsApp, Instagram e Skype já bloqueados, o que se seguiu a proibições mais antigas no Facebook, Twitter, TikTok e Telegram.

Também no exterior do Irão têm sido realizados diversos protestos em solidariedade com as mulheres iranianas, de Atenas a Berlim, Bruxelas, Istambul, Madrid, Nova Iorque e Paris, entre outras cidades.

Em Paris, a polícia francesa teve de lançar gás lacrimogéneo quando os manifestantes se tentaram aproximar da embaixada do Irão, fortemente protegida.

O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, lamentou este domingo a resposta das forças de segurança iranianas, catalogando-a como "desproporcional... injustificável e inaceitável".

O Irã - que é governado pelo líder supremo ayatollah Ali Khamenei, de 83 anos, e que foi atingido por duras sanções económicas por causa de seu programa nuclear - culpou "interferências estrangeiras" pelos distúrbios.

O Irã também organizou grandes manifestações em defesa do hijab e dos valores conservadores. Comícios pró-governo foram realizados no domingo, com o evento principal a ocorrer na Praça Enghelab (Revolução), no centro de Teerão, onde manifestantes mostraram apoio às leis obrigatórias do hijab.

"Mártires morreram para que este hijab estivesse nas nossas cabeças", disse a manifestante Nafiseh, 28 anos, acrescentando que se opunha a tornar o uso do hijab voluntário.

Outro manifestante, o estudante Atyieh, de 21 anos, pediu "uma ação forte contra as pessoas que lideram" os protestos.

O principal grupo reformista dentro do Irão, a União do Partido Popular Islâmico do Irão, no entanto, pediu a revogação do código de vestimenta obrigatório.

As autoridades iranianas ainda não declararam a causa da morte de Amini, que, segundo ativistas, morreu como resultado de um golpe na cabeça.

O ministro do Interior, Ahmad Vahidi, disse que Amini não foi espancada e que "devemos esperar pela opinião final do médico legista".