Internacional
05 julho 2022 às 17h07

E agora, Putin? Cinco cenários para a Ucrânia

O presidente russo Vladimir Putin deve agora decidir os seus próximos passos relativos à invasão iniciada em 24 de fevereiro.

DN/AFP

Depois das tropas russas terem capturado a estratégica cidade ucraniana de Lysychansk no domingo, tendo tomado por completo a região de Lugansk, surgem cinco opções diferentes levantadas por especialistas em segurança, e comentadas à AFP.

As forças russas parecem encaminhar-se para assumir o controlo total do Donbass. Capturadas Lysychansk e Severodonetsk, as tropas de Putin "podem esperar tomar Sloviansk e Kramatorsk e as regiões circundantes", disse Pierre Grasser, investigador na Universidade Sorbonne, em Paris.

Sloviansk, em particular, é o lar de "uma população relativamente acolhedora - pelo menos aqueles que lá permaneceram" em vez de fugir aos combates, acrescentou.

Mas pode haver limites à medida em que os russos conseguem penetrar no território. "O seu rolo compressor funciona bem perto das suas fronteiras, dos seus centros logísticos e das suas bases aéreas. Quanto mais se afastam, mais difícil é", disse Pierre Razoux, diretor do instituto francês FMES.

Kherson, no sul, foi uma das primeiras a cair para as forças russas. Mas o domínio de Moscovo na costa do Mar Negro não é seguro. "Os contra-ataques da Ucrânia no sul colocam as forças russas num dilema. Será que sustentam a sua ofensiva a leste, ou reforçam acentuadamente a sul?", questiona Mick Ryan, antigo general do exército australiano.

A questão é tanto mais premente quanto "a guerra no sul é uma frente de maior importância estratégica" do que a do Donbass. A reivindicação de território ao longo da costa poderia permitir a Moscovo criar uma ponte terrestre para a península da Crimeia, anexada em 2014, enquanto ambos os lados querem controlar os portos ucranianos do Mar Negro.

A segunda maior cidade da Ucrânia fica perto da fronteira nordeste com a Rússia. "Se os ucranianos entrarem em colapso e Kharkiv estiver completamente isolada, os russos poderiam forçá-los a escolher entre empenharem-se em defender a cidade ou retirar a pressão no sul em direção a Kherson", disse Pierre Razoux.

Caberia ao presidente Volodymyr Zelensky e aos comandantes ucranianos "destacar as suas unidades de modo a evitar um grande avanço no verão" que poderia cercar Kharkiv, acrescentou.
Lar de 1,4 milhões de pessoas em tempo de paz, um cerco de Kharkiv poderia resultar num assalto mortífero que duraria até um ano, estimou Razoux.

Embora o Ocidente tenha mantido até agora uma frente unida de sanções e de apoio à Ucrânia, os contínuos avanços russos poderiam desunir as opiniões dos aliados sobre os seus interesses.
"O objetivo para a Rússia é continuar a destruir as forças ucranianas no campo de batalha, enquanto se espera que a vontade política de apoiar a Ucrânia desapareça entre os países ocidentais", disse Colin Clarke, diretor de investigação no grupo de reflexão Soufan Center, em Nova Iorque.

As entregas de ajuda militar ocidental têm sido demasiado lentas e demasiado pequenas para virar a batalha de forma decisiva a favor de Kiev.

Entretanto, o impacto inflacionário da guerra em aspectos básicos como a alimentação e a energia pode gradualmente desviar a opinião pública do forte apoio inicial à Ucrânia. "Os norte-americanos poderiam dizer aos ucranianos 'não podem continuar'", alvitra Alexander Grinberg, analista do Instituto de Segurança e Estratégia de Jerusalém.

A Rússia também está a sofrer pesados custos devido a sanções ocidentais, baixas no campo de batalha e perdas de material militar. "Putin será forçado a negociar a dada altura, ele deu um passo maior do que as pernas", comentou Colin Clarke.

Em finais de junho, o porta-voz do Kremlin Dmitri Peskov voltou a considerar a opção de conversações, na condição de se "aplicar todas as condições estabelecidas pela Rússia", que continuam a ser inaceitáveis para Kiev.

O controlo do Kremlin sobre a informação na Rússia significa que o líder pode dizer que os seus objetivos foram alcançados e justificar uma pausa nos combates.

Um desafio maior poderá ser a divisão do lado ucraniano.Os adeptos da linha dura e os líderes militares "recusariam qualquer compromisso com a Rússia", mesmo que Zelensky estivesse disposto a fazer um acordo, crê Pierre Razoux. "Eles poderiam tolerar um conflito em suspenso, mas não uma derrota."