Uma hora antes do encontro com Xi Jinping na Coreia do Sul, Donald Trump anunciou que os Estados Unidos iriam retomar os testes nucleares, 33 anos depois do último. A declaração caiu mal junto das outras duas maiores potências nucleares e foi recebida com críticas por parte dos peritos. “Devido aos programas de testes de outros países, instruí o Departamento da Guerra a iniciar testes das nossas armas nucleares em igualdade de condições. Esse processo terá início imediatamente”, disse o presidente norte-americano na sua rede social, Truth Social. Questionado pelos jornalistas sobre o momento de tal anúncio, Trump não respondeu. Mas disse o seguinte: “Acredito que a desescalada, eles chamam de desnuclearização, seria algo tremendo. Na realidade, estamos a falar com a Rússia sobre isso, e a China seria incluída se fizermos alguma coisa”, disse já a bordo do avião presidencial. Ano do último teste nuclear1990 União Soviética1991 Reino Unido1992 Estados Unidos1996 França e China1998 Índia e Paquistão2017 Coreia do Norte A mensagem deixou várias dúvidas, tendo até em conta que na mesma afirmou que os EUA são o país com mais armas nucleares - os números estimados pelos organismos internacionais apontam para que a Rússia tenha mais. O argumento usado para retomar os testes também não foi compreensível, uma vez que o último teste nuclear ocorreu em 2017, e pela Coreia do Norte de Kim Jong-un. Por fim, também levantou muitas dúvidas sobre o que queria de facto dizer. É que não cabe ao Departamento da Guerra (ex-Departamento de Defesa), mas a uma agência do Departamento da Energia tratar da energia nuclear, testes incluídos. .1032Testes nucleares foram realizados pelos EUA, de um total de 2056, entre 1945 e 1996, data do tratado que proíbe os testes..“A publicação de Trump não é clara quanto a saber se está a falar de testes de explosivos nucleares (que seriam realizados pela Administração Nacional de Segurança Nuclear) ou de testes de voo de mísseis com capacidade nuclear (que são da competência do Departamento de Defesa)”, escreveu no X o diretor da ONG Associação de Controlo de Armamento. “A política de Trump é incoerente: um dia pede conversações sobre desnuclearização, no outro ameaça com testes nucleares”, disse Daryl Kimball, concluindo que o regresso à política de testes poderia “desencadear uma reação em cadeia de testes nucleares por parte de adversários dos EUA”. Kimball disse ainda que seriam necessários três anos para se criarem condições para novos testes. “É uma forma muito trumpista de comunicar sobre todo o tipo de questões políticas, incluindo questões potencialmente desestabilizadoras e perigosas, como a política norte-americana de armas nucleares”, considerou Nick Ritchie, professor de Relações Internacionais na Universidade de Iorque. À New Scientist, disse ainda acreditar que o norte-americano se referia a testes de mísseis com capacidades nucleares e não a testes nucleares..179Megatoneladas de energia libertada pelos testes nucleares dos Estados Unidos, de um total de 510 megatoneladas entre os oito países com testes conhecidos..A publicação de Trump surgiu dias depois de o presidente russo Vladimir Putin ter anunciado os testes bem-sucedidos de um míssil de cruzeiro com propulsão nuclear e de um drone subaquático com capacidade nuclear. “O presidente Trump mencionou que outros países estão alegadamente a realizar testes com armas nucleares, mas não estávamos cientes de que alguém estivesse a realizá-los até agora”, reagiu o porta-voz do Kremlin. “Se ele se está a referir aos testes do Burevestnik [míssil de cruzeiro], então estes não são testes nucleares”, disse Dmitri Peskov. “Gostaria de relembrar a declaração do presidente Putin, que tem sido repetida várias vezes: se alguém se desviar da moratória, a Rússia agirá em conformidade”, acrescentou. Também Pequim, pelo porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, disse esperar que os EUA cumpram o tratado de não proliferação nuclear e a moratória sobre testes nucleares..Trump ordena início de testes de armas nucleares dos Estados Unidos