Começa hoje, na cidade russa de Kazan, a cimeira que marca a transição da liderança do Grupo BRICS da Rússia para o Brasil. Se o presidente brasileiro, Lula da Silva, falha a participação presencial no evento, após sofrer um acidente no Palácio do Planalto, em Brasília, a liderança feminina do país no bloco marca posição e recebe, pessoalmente, o sinal verde para as ações que vão decorrer ao longo de 2025. A empresária Mônica Monteiro é a presidente do capítulo brasileiro do WBA - Women’s Business Alliance (Aliança de Mulheres de Negócios, em tradução livre) e assume a liderança das iniciativas deste segmento em todos os países que integram o grupo..Em Kazan, Mônica Monteiro apresentou um relatório sobre resultados de ações atuais e recomendações para o futuro no âmbito da atuação das mulheres empreendedoras nos países BRICS. A agenda do bloco tem sido escrutinada a nível internacional, especialmente em relação a um acordo de paz na guerra da Rússia contra a Ucrânia e a uma possível utilização de moedas alternativas ao dólar norte-americano nas transações comerciais entre os países que integram o grupo. “Se isso acontecer, vai ser a longo prazo”, afirma a brasileira ao DN..A discussão está em cima da mesa, para os BRICS, como uma forma de reduzir a dependência em relação aos Estados Unidos e pode ter sido um dos fatores a motivar, na semana passada, uma declaração da campanha do candidato republicano à Presidência daquele país. Donald Trump disse que pretende punir quem decidir deixar o dólar e prometeu “taxas a 100%” para estes casos..Para Mônica Monteiro, a questão serve para que a brasileira se demarque de posições que suscitem alguma dúvida. “Vai ser em que moeda? Na da China? Da Rússia? E como equiparar tudo isso? Os presidentes dos bancos centrais estiveram em reunião, mas essa não é a minha pauta. O meu objetivo é transformar contactos em contratos. Promover missões efetivas com empresárias mulheres. É isso o que o Brasil vai estar a fazer na sua presidência”, afirma a executiva..Agenda feminina alargada.De acordo com o relatório apresentado pela brasileira, 40% de todo o consumo no mundo está nas mãos de mulheres, 50% das casas no Brasil são geridas por mulheres e 45% das empresas tornam-se mais competitivas quando apostam na diversidade de género, por isso a agenda feminina é estratégica para o bloco..Entre as recomendações apontadas no documento, a maior necessidade é garantir acesso financeiro às mulheres empreendedoras, o que, segundo Mônica Monteiro, “ainda é um gargalo no mundo todo”, e não apenas nos BRICS. “Para que mulheres acedam a financiamentos ainda há perguntas do tipo: ‘Se você engravidar, quem vai pagar essa conta?’ Isso, por parte das instituições financeiras”, explica..A agenda da presidência brasileira do bloco vai ter o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, com discussões sobre promoção do multilateralismo; combate à fome e à pobreza; redução das desigualdades sociais e promoção do desenvolvimento sustentável..No âmbito do segmento liderado por Mônica Monteiro, o primeiro evento multissetorial está marcado para o mês de março, na cidade de Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais, com o WeForum, que vai alargar convites a empresárias da Europa. “Os nossos negócios não são só entre países dos BRICS. Vamos convidar europeias para que estejam connosco, que conheçam os produtos. O meu objetivo é fortalecer as empresas que já estão no Brasil, trazendo novos produtos e tecnologias, ou montando novas empresas com quem vem de fora. Há muitas oportunidades no Brasil”, completa..Esta é a primeira Cimeira dos BRICS depois de, neste ano, se terem juntado ao Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que dão o nome ao bloco, o Egito, Irão, Emirados Árabes Unidos e Etiópia.