Rússia lançou mais de 40 mísseis contra setor da energia na Ucrânia. Alerta aéreo em todo o país
André Luís Alves / Global Imagens

Rússia lançou mais de 40 mísseis contra setor da energia na Ucrânia. Alerta aéreo em todo o país

O alerta é declarado um dia depois de a Ucrânia ter lançado um ataque contra infraestruturas militares em território russo, que Kiev considerou a maior ofensiva desde o início da guerra.
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A Rússia disparou esta quarta-feira mais de 40 mísseis contra o setor energético da Ucrânia, anunciou o Presidente ucraniano, com as autoridades locais a darem conta de terem sido atingidas infraestruturas essenciais no oeste do país.

"Em pleno inverno, o alvo dos russos mantém-se inalterado: o nosso setor energético", escreveu Volodymyr Zelensky nas redes sociais, citado pela agência francesa AFP.

"Entre os alvos estão as infraestruturas de gás e as instalações de energia que garantem uma vida normal à população", acrescentou.

A Rússia tem vindo a atacar a rede elétrica e outras infraestruturas ucranianas desde que invadiu a Ucrânia há quase três anos, provocando regularmente cortes de energia generalizados em todo o país, sobretudo no inverno.

As autoridades ucranianas disseram que os ataques desta quarta-feira atingiram infraestruturas essenciais no oeste da Ucrânia.

"Duas infraestruturas essenciais foram atingidas nos distritos de Drogobytch e Stryi", declarou o governador da região de Lviv, Maksym Kozytsky, num comunicado citado pela AFP.

O governador acrescentou que um míssil caiu perto de uma casa na aldeia de Sknyliv, criando uma cratera de seis metros de largura, sem causar quaisquer vítimas.

Na região vizinha de Ivano-Frankivsk, o ataque visou "locais de infraestruturas essenciais", sem causar vítimas, segundo a governadora do território, Stitlana Onychtchouk.

"O inimigo não para de aterrorizar os ucranianos", declarou o ministro da Energia, Herman Halushchenko, nas redes sociais.

O operador nacional de eletricidade Ukrenergo anunciou também cortes de energia de emergência em sete regiões ucranianas do leste, centro e sul.

As autoridades ucranianas declararam esta quarta-feira alerta aéreo em todo o país face ao perigo de um ataque de mísseis russos, informaram 'media' locais que citam fontes das forças armadas do país.

O alerta é declarado um dia depois de a Ucrânia ter lançado um ataque contra infraestruturas militares em território russo, que Kiev considerou a maior ofensiva desde o início da guerra.

O ataque teve como alvo a República do Tartaristão e a região de Saratov, no Volga, bem como a região fronteiriça de Bryansk e ainda Tula, perto de Moscovo.

"As forças de defesa ucranianas realizaram os ataques mais massivos contra alvos militares (...) a uma distância de 200 a 1.100 quilómetros no interior da Rússia", indicou o Estado-Maior Ucraniano.

Os ataques atingiram com sucesso um depósito de petróleo em Engels, que já tinha sido alvejado em 08 de janeiro, provocando na altura um incêndio de cinco dias, que causou a morte de dois bombeiros russos.

Noutro alvo, as forças ucranianas reclamaram ter visado a fábrica química de Seltso, na região de Bryansk, que, segundo Kiev, produz componentes para artilharia, lançadores múltiplos de 'rockets', aviação e mísseis.

A mesma fonte apontou também ataques a uma fábrica de produtos químicos na região de Tula, a um depósito de munições num aeródromo em Engels, em Saratov, e a uma refinaria de petróleo na mesma região.

O Ministério da Defesa russo afirmou que o ataque ucraniano foi realizado com recurso a seis mísseis norte-americanos ATACMS e seis mísseis britânicos Storm Shadow, acrescentando que todos os projéteis foram abatidos sem causar vítimas.

As forças ucranianas intensificaram os ataques aéreos contra depósitos de combustível, refinarias e instalações militares na Rússia nos últimos meses para dificultar a logística das forças russas que combatem no seu território.

Moscovo prometeu responder sistematicamente a qualquer ataque de mísseis ocidentais no seu território e ameaçou atingir o centro de Kiev ou utilizar o seu novo míssil hipersónico experimental Oreshnik.

Kiev e Moscovo intensificaram os ataques nos últimos meses e querem reforçar as suas posições antes de o republicano Donald Trump regressar à Casa Branca, na próxima segunda-feira, tendo o presidente eleito dos Estados Unidos indicado que quer trabalhar para parar a guerra assim que tomar posse.

Zelensky esperado na Polónia após acordo sobre massacres de há 80 anos

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, viajou esta quarta-feira para a Polónia, depois de os dois países terem chegado a acordo sobre a exumação das vítimas polacas de massacres cometidos por nacionalistas ucranianos na Segunda Guerra Mundial.

O gabinete do primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, anunciou que vai receber Zelensky ao final da manhã e que os dois darão uma conferência de imprensa conjunta pouco depois do meio-dia (hora local).

A visita surge poucos dias depois de Tusk ter anunciado progressos na questão das exumações, uma questão que tem vindo a afetar as relações entre Varsóvia e Kiev há vários anos.

"Finalmente, um avanço. Há uma decisão sobre as primeiras exumações das vítimas polacas da UPA", escreveu Tusk nas redes sociais na sexta-feira, referindo-se ao Exército Insurgente Ucraniano.

"Agradeço aos ministros da Cultura da Polónia e da Ucrânia pela sua boa cooperação. Estamos à espera de novas decisões", acrescentou, segundo a agência norte-americana AP.

A viagem de Zelensky foi anunciada por Tusk numa altura em que a Ucrânia estava em alerta aéreo devido a um ataque de grande envergadura russo contra infraestruturas de energia do país.

O encontro entre Tusk e Zelensky ocorre também poucos dias depois de a Polónia ter assumido a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, à qual a Ucrânia é candidata à adesão.

A organização não-governamental Fundação Liberdade e Democracia disse na segunda-feira que vai iniciar os trabalhos de exumação das vítimas na Ucrânia em abril.

Apesar de a Polónia ser um dos mais fortes apoiantes da Ucrânia desde que o país foi invadido pela Rússia há quase três anos, a questão das vítimas polacas que jazem em valas comuns em solo ucraniano deixou uma amargura persistente entre muitos polacos.

Também exerceu pressão sobre Tusk, que procura mostrar progressos numa questão que continua a ser importante para muitas pessoas na Polónia.

A questão remonta a 1943-44, quando a Europa estava em guerra.

Os nacionalistas ucranianos massacraram na altura cerca de 100.000 polacos em Volhynia e noutras regiões que se situavam na Polónia oriental, sob ocupação alemã nazi, e que hoje fazem parte da Ucrânia.

Aldeias inteiras foram incendiadas e os habitantes mortos pelos nacionalistas que procuravam criar um Estado independente na Ucrânia.

A Polónia considera os acontecimentos um genocídio e tem vindo a pedir à Ucrânia que lhe permita exumar as vítimas para lhes dar um enterro adequado.

Estima-se que 15.000 ucranianos tenham sido mortos em retaliação.

A questão é difícil para a Ucrânia porque alguns dos nacionalistas ucranianos do tempo da Segunda Guerra Mundial são considerados heróis nacionais devido à luta pela criação do Estado ucraniano.

Enquanto as duas partes tentavam resolver a questão, o presidente do parlamento ucraniano proferiu em maio de 2023 palavras de reconciliação no parlamento polaco.

"A vida humana tem o mesmo valor, independentemente da nacionalidade, raça, sexo ou religião", disse Ruslan Stefanchuk aos deputados polacos na altura.

"Com esta consciência, cooperaremos convosco, caros amigos polacos, e aceitaremos a verdade, por mais intransigente que seja", acrescentou.

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