A COP30 ainda decorre em Belém do Pará, no Brasil, mas as atenções já estão viradas para quem irá acolher a COP31 em 2026. A batalha é renhida entre a Austrália, que quer organizar a Conferência do Clima das Nações Unidas em conjunto com as ilhas do Pacífico, e a Turquia, que está focada no financiamento para os países em desenvolvimento e considera mais eficiente um encontro no Mediterrâneo. Nenhum dos países parece disposto a ceder e, caso não haja acordo até ao final da COP30, na sexta-feira (21 de novembro), a Alemanha pode acabar por ter que organizar o evento - mesmo não querendo.“Teríamos de o fazer, mas não queremos”, disse aos jornalistas em Belém o secretário de Estado do Ambiente alemão, Jochen Flasbarth. “Não é uma tarefa fácil. A Alemanha precisa de mais tempo para a conferência. Por isso, estamos todos a insistir para que a Austrália e a Turquia cheguem a um acordo, para que esta solução técnica não seja necessária”, acrescentou. Segundo as regras das COP - iniciais em inglês de Conferência das Partes de quem assinou a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de 1992 (UNFCCC, na sigla inglesa) -, que preveem uma rotação na organização do evento entre regiões, o próximo país terá que vir da área da Europa Ocidental e Outros (onde está incluída a Austrália). Este grupo tem que decidir por consenso, apresentando depois a sua proposta para a validação de todos.Caso não haja acordo entre os candidatos, a Alemanha, que em 1995 organizou a primeira COP em Berlim e acolhe o secretariado da UNFCCC em Bona, terá que receber a reunião. Seria a primeira vez que isso aconteceria, tendo sempre havido consenso antes. Curiosamente, já há país organizador para a COP32, no continente africano. A candidatura da Etiópia conseguiu bater a da Nigéria, faltando apenas uma confirmação final.Se o organizador do encontro de 2027 já está decidido, para 2026 a luta é entre Austrália, que quer o evento em Adelaide, e a Turquia, que espera receber os milhares de delegados em Antália. O Brasil gostaria que a decisão tivesse sido tomada antes do início da COP30, não querendo que o debate interferisse nas discussões na capital paraense, mas isso não aconteceu e há quem considere que não é coincidência os pavilhões dos dois países estarem lado a lado em Belém. A organização da COP representa um custo elevado (cerca de 560 milhões de euros), mas que pode ser recuperado com o reforço do turismo. E isso não é tudo. O país organizador estabelece a agenda e lidera os esforços diplomáticos para alcançar acordos globais, angariando ainda investimento para novas iniciativas ecológicas, lembra a Reuters.A Austrália há muito que era considerada a favorita, querendo reforçar as suas ambições de se tornar numa “superpotência em energias renováveis” e destacar os problemas que as nações insulares do Pacíficos (que seriam coorganizadoras) sentem com as alterações climáticas. Além disso, seria uma forma de melhorar as relações com estes países, numa área cada vez mais sob influência chinesa. Para um país que está a querer afastar-se do carvão (é o maior exportador do mundo) e do gás, a organização representaria também um investimento essencial em minerais críticos ou no chamado aço verde.Mas a Turquia, que já desistiu de organizar a COP26 (realizou-se em Katowice, na Polónia), não quer voltar a ceder. Tem apostado na ideia de uma reunião centrada no financiamento dos esforços climáticos dos países em desenvolvimento, ao mesmo tempo que quer demonstrar o seu progresso em direção à meta de emissões zero até 2053. Além disso, alega que, pela sua localização, haveria menos emissões nas viagens dos milhares de delegados. A ligação dos turcos tanto à Rússia como à Arábia Saudita, que tem frustrado o debate sobre alterações climáticas, também poderia ser uma mais valia.Na quinta-feira (13 de novembro), o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, que foi reeleito com a promessa de organizar a COP31, disse aos jornalistas em Sydney que tinha enviado uma carta ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Este tinha respondido que a Turquia “mantém a sua posição em resposta à Austrália manter a sua posição”, indicou o primeiro-ministro. Apesar do interesse dos dois países, nem Albanese nem Erdogan estiveram em Belém para a Cúpula de Líderes, que antecedeu a COP30. Já o chanceler alemão, Friedrich Merz, viajou até ao Brasil. .COP30: Calor extremo mata 540 mil pessoas por ano, avisa OMS