Alemanha bate o pé e não acelera decisão sobre tanques para Kiev

Apesar dos apelos da Ucrânia e da pressão dos aliados, Berlim não tomou ainda ​​​​​​​a decisão de fornecer os Leopard ou deixar que outros forneçam os que têm nos seus arsenais.

A reunião do Grupo de Contacto da Ucrânia terminou com promessas de um "potente" pacote de ajuda militar a Kiev, mas nenhuma decisão em relação ao envio de tanques pesados de fabrico alemão aos ucranianos. Berlim não cedeu às pressões dos últimos dias dos aliados para fornecer os seus Leopard, nem desbloqueou a hipótese de outros países enviarem aqueles que têm no seu arsenal (eles têm que dar luz verde a essa eventual transferência). "O tempo continua a ser uma arma russa", lembrou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, dizendo que "não há alternativa" ao envio dos tanques.

"Hoje ainda não podemos dizer quando uma decisão será tomada, e qual será essa decisão, em relação aos tanques Leopard", afirmou o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, há menos de uma semana no cargo. Num intervalo da reunião na base aérea norte-americana de Ramstein, na Alemanha, onde estiveram representantes de 50 países, o ministro lembrou que a ideia de que "há uma coligação unida" e que Berlim "está a meter-se no caminho é errada", alegando que "há muitos aliados que dizem partilhar a visão" alemã.

A Polónia, um dos países que já mostrou disponibilidade para fornecer os seus próprios Leopard à Ucrânia (Zelensky diz que Portugal é outro), está convencida de que os aliados acabarão por formar essa coligação para ceder os tanques pedidos por Kiev. "Estou convencido que a formação desta coligação será um sucesso", indicou o ministro da Defesa polaco, Mariusz Blaszczak. Mas a decisão ainda não foi tomada em Ramstein. "Há boas razões a favor da entrega e há boas razões contra", tinha referido o alemão Pistorius, dizendo que é preciso pesar os prós e contras.

O secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, considera que "todos podemos fazer mais" pela Ucrânia, mas em relação à posição alemã reiterou que Berlim é um "aliado confiável". Os próprios EUA não têm em cima da mesa o envio dos seus tanques pesados Abrams, com os alemães a rejeitar a notícia de que o envio dos Leopard estaria dependente de Washington decidir também enviar os seus Abrams. Austin lembrou que a Alemanha vai enviar blindados Marder e que o sucesso ucraniano "não depende de uma única plataforma", mas de um "esforço combinado" de todos.

O Pentágono, que admitiu que será "muito difícil" expulsar as tropas russas da Ucrânia este ano, anunciou na véspera da reunião um novo pacote de ajuda militar no valor de 2,5 mil milhões de dólares para Kiev, que inclui 90 veículos de combate Stryker e mais 59 blindados Bradley. Zelensky agradeceu esta "poderosa" ajuda, tal como o 12.º pacote de apoio da Finlândia, no valor de 400 milhões de euros. Alemanha e Países Baixos vão enviar sistemas de mísseis Patriot. Portugal vai enviar mais 14 viaturas blindadas M113 e, sobre os Leopard, está disponível para treinar os militares para os usar e "identificar, de forma coordenada com os seus parceiros, formas de apoiar a Ucrânia com esta capacidade".

O Kremlin mostrou-se convencido de que a entrega de tanques à Ucrânia "não mudará em nada" a situação no terreno, acusando o Ocidente de manter a "dramática ilusão" de que é possível uma vitória militar de Kiev. "É preciso não exagerar a importância da entrega de tais armas, nem a sua capacidade em mudar alguma coisa. Não mudarão nada no que diz respeito ao progresso do lado russo no cumprimento dos seus objetivos", referiu o porta-voz, Dmitry Peskov.

susana.f.salvador@dn.pt

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