Al-Sharaa pede “unidade nacional” após massacres de civis alauitas
O presidente interino sírio apelou este domingo à unidade nacional e à paz depois de confrontos entre militantes ligados ao antigo regime de Bashar al-Assad e as novas forças de segurança terem desencadeado ataques de vingança contra a minoria alauita (à qual pertence o presidente deposto há três meses). Pelo menos 1300 pessoas, a maioria civis, terão morrido em três dias de massacres, com Ahmed al-Sharaa a criar uma comissão independente para investigar os acontecimentos.
“Temos de preservar a unidade nacional e a paz civil tanto quanto possível e, se Deus quiser, seremos capazes de viver juntos neste país”, disse Al-Sharaa num discurso numa mesquita em Damasco. “O que está a acontecer atualmente na Síria está dentro dos desafios esperados”, acrescentou. O presidente interino é o antigo líder do grupo radical sunita Hayat Tahrir al-Sham (classificado como terrorista pela União Europeia e os EUA), que liderou a coligação rebelde que derrubou Assad a 8 de dezembro. O ex-presidente fugiu para Moscovo.
A violência começou na quinta-feira, após um ataque coordenado de combatentes pró-Assad contra as forças de segurança em Jableh. Em resposta, os apoiantes do novo governo sunita atacaram, por vingança, localidades em duas regiões costeiras - Latakia (onde fica Jableh) e Tartus - parte do histórico Estado alauita (que durou entre 1922 e 1936). As autoridades enviaram reforços para a área, para apoiar as forças de segurança, com milhares de pessoas - incluindo cristãos que também temem tornar-se alvos - a fugirem para as montanhas.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, pelo menos 830 civis alauitas morreram, a maioria executados a tiro a curta distância. Do lado das forças de segurança há registo de 231 mortos, enquanto entre os militantes pró-Assad terão morrido 250. As autoridades não forneceram qualquer balanço oficial.
De acordo com a AP, que cita várias testemunhas, muitas casas de alauitas foram saqueadas e incendiadas. Fala-se em “assassinatos por vingança” pelos crimes cometidos pelo regime de Assad - os alauitas ocuparam lugares de topo nas agências de segurança e nos militares. O alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, falou de informações “extremamente preocupantes” da morte de famílias inteiras.
O líder sírio ordenou este domingo a criação de uma Comissão Nacional Independente, composta por cinco juízes, um advogado e um brigadeiro-general, para investigar a violência dos últimos dias. A comissão tem como objetivo não só apontar as causas, circunstâncias e condições que levaram aos ataques, como identificar os responsáveis e entregá-los à Justiça. As agências governamentais têm que colaborar com a investigação, cujas conclusões têm de ser reveladas no prazo máximo de 30 dias.
Desde que chegou ao poder, Al-Sharaa tem tentado conquistar o apoio da comunidade internacional e tranquilizar as minorias no país, tendo pedido às suas forças que exercessem contenção e evitassem qualquer violência sectária. Os acontecimentos dos últimos dias não vão ajudar à sua missão.
Em comunicado, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, reagiu à violência condenando os “terroristas islâmicos radicais” responsáveis, expressando o seu apoio às minorias sírias e defendendo que o governo interino deve “responsabilizar os perpetradores destes massacres”.