Os EUA chegaram a oferecer uma recompensa de 10 milhões de dólares pela cabeça de Abu Mohammad al-Julani, mas esta segunda-feira (10 de novembro) preparam-se para estender a passadeira vermelha para receber Ahmed al-Sharaa na Casa Branca. Al-Julani e Al-Sharaa são a mesma pessoa, mas o primeiro era o nome de guerra de um terrorista, que esteve preso numa prisão norte-americana no Iraque e liderou um grupo ligado à Al-Qaeda, e o segundo é o homem que derrubou o regime de Bashar al-Assad em dezembro e assumiu a presidência da Síria.“Esta é uma visita histórica. É a primeira de um presidente sírio à Casa Branca em mais de 80 anos”, disse o chefe da diplomacia síria, Asaad al-Shaibani. “Haverá muitos assuntos na ordem do dia, a começar pelo levantamento das sanções e pela abertura de um novo capítulo nas relações entre os EUA e a Síria. Queremos estabelecer uma parceria muito sólida entre os dois países”, acrescentou. O enviado especial dos EUA para a Síria, Tom Barrack, contou ao site Axios que Al-Sharaa deverá assinar um acordo para se juntar à aliança liderada por Washington contra o Estado Islâmico. O atual presidente sírio, que é de uma família sunita do sul do país mas nasceu na Arábia Saudita há 43 anos, juntou-se à Al-Qaeda no Iraque pouco antes da invasão de 2003. Acabaria por ser detido e passou vários anos na prisão americana de Camp Bucca - onde conheceu o futuro líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, e fez outras ligações cruciais para a guerra civil síria.Após ser libertado, voltou à Síria e criou a Frente Al-Nusra (apoiada pela Al-Qaeda), com o objetivo de derrubar o regime de Assad - Bashar governava desde 2000, tendo sucedido ao pai Hafez que estava no poder desde 1970. Al-Sharaa entrou depois em choque com o Estado Islâmico, resistindo a uma tentativa de Al-Baghdadi de juntar os dois grupos. Em 2016, cortou também os laços com a Al-Qaeda e renunciou à ideia de uma jihad (guerra santa) contra o Ocidente. Um ano depois, juntou-se a outros grupos sírio na Hay’at Tahrir al-Sham (HTS, Organização pela Libertação do Levante) que acabaria por governar em Idlib. Foi nessa altura que os EUA ofereceram uma recompensa de dez milhões de dólares por informações que levassem à sua detenção. Em dezembro, foi a partir desta região que liderou (com o apoio da Turquia) a ofensiva de 11 dias que acabaria por ter sucesso em derrubar Assad, assumindo a presidência do país. Esta será a primeira visita oficial aos EUA de um líder sírio desde a independência em 1946, mas não será o primeiro encontro entre Al-Sharaa e o presidente norte-americano. Em maio, numa visita ao Médio Oriente, Trump esteve com ele na Arábia Saudita. “Um tipo jovem, atrativo. Um tipo duro. Passado forte, passado muito forte. Combatente.” Foi assim que Trump descreveu Al-Sharaa aos jornalistas. .Trump elogia líder sírio e pede-lhe para que reconheça Israel.Na altura, os EUA levantaram todas as sanções contra a Síria, sendo que já em dezembro tinham retirado a recompensa que havia por informações que levassem à sua captura. Em junho, retiraram também a HTS da lista de organizações terroristas. O líder sírio festejou o levantamento das sanções norte-americanas, tendo na última quinta-feira (6 de novembro) visto as Nações Unidas aprovarem também o levantamento das suas sanções à Síria.O embaixador dos EUA na ONU, Mike Waltz, disse que esta organização enviou um “forte sinal político” reconhecendo que a Síria está numa “nova era” desde a queda de Assad.Em setembro, Al-Sharaa foi o primeiro líder sírio em quase 60 anos a discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas. No seu discurso, disse que a Síria estava a “recuperar o lugar que lhe cabe entre as nações do mundo”. Mas nem tudo é positivo para o líder sírio, que não tem conseguido responder de forma firme à violência religiosa no seu país. Há relatos de massacres e torturas contra minorias como os cristãos, os alauítas (ligados a Assad) ou os drusos, apesar das promessas de proteção de Al-Sharaa..Desmilitarização a sul de Damasco e proteção dos drusos: as “linhas vermelhas” de Israel na Síria.Os ataques aos drusos levaram Israel a intervir, não apenas com bombardeamentos contra Damasco, mas também a incursão de tropas no sul do país e nos Montes Golã. Síria e Israel estarão em negociações para um acordo que permita reverter a situação. Al-Sharaa tem rejeitado contudo qualquer ideia de aderir aos chamados Acordos de Abraão, que levaram vários países árabes a estabelecer relações diplomáticas com Israel.