Adeus ao Médio Oriente. Trump tenta acordo “mais ou menos” com o Irão e uma “zona livre” em Gaza
Antes de seguir para os Emirados Árabes Unidos, última etapa da sua visita ao Médio Oriente, Donald Trump começou esta quinta-feira o dia no Qatar onde discursou para as tropas americanas na base aérea de Al Udeid. No centro de um palco ladeado por um F-15 e um drone, o presidente dos EUA garantiu: “Se formos ameaçados, as forças armadas norte-americanas responderão aos nossos inimigos sem sequer pestanejar.” E acrescentou: “A minha prioridade é pôr fim a conflitos, não começá-los”.
Nesse espírito “pacifista”, pouco antes, num encontro com empresários, Trump afirmou o Irão aceitou “mais ou menos” os termos de um acordo sobre o seu programa nuclear. “Quero que eles tenham sucesso. Quero que acabem por ser um grande país. Mas não podem ter a arma nuclear. Na verdade, é muito simples”, afirmou.
Quanto à possibilidade de um ataque dos EUA contra solo iraniano, Trump garantiu: “Não vamos produzir poeira nuclear no Irão. Penso que estamos quase a chegar a um acordo sem ter de o fazer.”
As declarações do presidente americano reforçaram as notícias de que o seu enviado especial para o Médio Oriente, Steve Witkoff, entregou à equipa de negociadores iranianos em Omã as linhas principais de uma proposta que Abbas Araghchi, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, terá levado para Teerão. Araghchi foi instado pelos mediadores americanos a aceitar o enriquecimento zero de urânio por até três anos para construir confiança. Este período terminaria com o Irão a voltar a enriquecer a 3,75%, o nível estabelecido no acordo nuclear de 2015, ao qual Trump renunciou em 2018. Entretanto, a Rússia poderia fornecer ao Irão urânio para o seu programa nuclear civil.
As autoridades iranianas garantiram, no entanto, não ter recebido qualquer nova proposta dos EUA. E, apesar de alguns meios de comunicação terem dado conta de que um alto responsável iraniano teria afirmado que o seu país estava disposto a fazer concessões em relação ao seu programa nuclear em troca do levantamentos das sanções de que é alvo, o presidente Masoud Pezeshkian considerou Trump “ingénuo por pensar que pode vir à nossa região, ameaçar-nos e esperar que recuemos em relação às suas exigências”.
Futuro de Gaza
Enquanto os palestinianos assinalavam os 77 anos da Nakba (literalmente a “Catástrofe), o êxodo palestiniano durante e após a guerra árabe-israelita de 1948, Israel voltou esta quinta-feira de manhã a lançar um ataque contra a Faixa de Gaza. Ao final da tarde, o balanço era de mais de cem vítimas mortais, reduzindo as esperanças de que a visita de Trump à região - durante a qual ignorou Israel, deixando no ar um arrefecimento na relação com o velho aliado Benjamin Netanyahu - acelerasse um cessar-fogo em Gaza.
Em Doha, Trump garantiu que os EUA querem transformar a Faixa de Gaza numa “zona livre”, sem especificar em que aspeto. “Ficaria orgulhoso se os EUA se envolvessem no projeto e transformassem [Gaza] numa zona livre”, afirmou o presidente, que já antes defendera transformar o enclave palestiniano, onde vivem mais de dois milhões de pessoas, na Riviera do Médio Oriente.