Um Donald Trump maravilhado com a opulência das arábias chega esta quinta-feira aos Emirados Árabes Unidos, a última paragem prevista na viagem ao Médio Oriente. Entre contratos e anúncios de investimentos, o empresário nova-iorquino rompeu com a tradição diplomática do país e encontrou-se com um homem que até há seis meses era procurado por terrorismo pelas autoridades norte-americanas. Na reunião, o presidente do EUA pediu a Ahmed al-Sharaa para que este normalize as relações com Israel. Antes de partir da Arábia Saudita, Trump encontrou-se com o líder da Síria, horas depois de ter anunciado que iria levantar as sanções económicas contra o país aniquilado por 14 anos de guerra. De acordo com declarações de Trump a caminho do Qatar, este ficou impressionado com o “tipo jovem e atraente” que combateu Bashar al-Assad com o nome de guerra al-Jolani. “Um tipo duro. Um passado muito forte. Lutador”, disse, ao que acrescentou ver no homem que teve ligações à Al-Qaeda “potencial” para ser bem-sucedido. “É um verdadeiro líder. Liderou um ataque [contra o regime anterior] e é espantoso.” Disse também que a reunião, na qual participaram o príncipe saudita Mohammed bin Salman e o presidente turco Recep Erdogan (à distância), foi “ótima”.Segundo a porta-voz da Casa Branca, o presidente norte-americano pediu a al-Sharaa para o seu país reconhecer Israel, aderindo aos Acordos de Abraão, instrumento diplomático através do qual Emirados, Bahrein, Marrocos e Sudão estabeleceram relações com Telavive. Karoline Leavitt disse também que Trump pediu a Sharaa para dar ordem de expulsão de todos os “terroristas estrangeiros”, impedir o ressurgimento do Estado Islâmico (EI), e assumir o controlo das prisões e campos de detenção em que estão detidos cerca de 9 mil militantes do EI. Até agora, estes centros estão sob a alçada das forças curdas (Forças Democráticas Sírias), que têm sido apoiadas pelos EUA. Já no primeiro mandato Trump tentou retirar as tropas naquele país - o que levou à demissão do secretário da Defesa Jim Mattis -, um objetivo que parece agora alcançável. Na reunião, Erdogan, interessado em enfraquecer os curdos na Síria após o grupo PKK ter anunciado a dissolução, voluntariou-se para ajudar a gerir os centros de detenção.Segundo o representante Marlin Stutzman, que fez parte da delegação norte-americana que se encontrou com o líder sírio no final do mês passado, al-Sharaa está disposto a engrossar a lista dos países árabes que reconhecem Israel. A aproximação dos EUA à Síria é vista com desconfiança pelo governo israelita - Damasco e Telavive combateram-se em três ocasiões e desde dezembro que forças israelitas ocupam uma zona de segurança e têm levado a cabo bombardeamentos no território. Mas Trump disse que os israelitas nada têm a temer. “Isto é bom para Israel, ter uma relação como a que tenho com estes países, os países do Médio Oriente, essencialmente todos eles.”.A caminho do Qatar, o avião presidencial foi escoltado por aviões de caça do pequeno e rico estado, um sinal do fausto que se seguiria em terra, e que iria deixar Trump maravilhado, entre guardas de honra montados a cavalo e camelo e o mármore do palácio em Doha. “Como uma pessoa da construção, estou a ver mármore perfeito. Isto é o que se chama perfecto”, comentou antes da cerimónia de assinatura de acordos, incluindo a aquisição, por parte do Qatar, de 160 aviões à Boeing. Destituição e aviãoEm Washington, o representante democrata Shri Thanedar avançou com um pedido de votação de sete artigos na Câmara dos Representantes para um processo de destituição do presidente. O artigo 6.º, suborno e corrupção, acusa Trump de ter aceitado pagamentos estrangeiros para benefício pessoal, o que poderá inclui a oferta do avião 747-8, avaliado em 400 milhões de dólares, por parte da família real catariana. Em conferência de imprensa, Thanedar reconheceu que muitos no seu próprio partido estão em desacordo com o momento da iniciativa, mas alegou que “nunca é a altura errada para fazer a coisa certa”. Já o presidente da Câmara dos Representantes, instado a comentar a controversa transferência do avião do Qatar, disse que Trump “não tem nada a esconder”. Segundo o republicano Mike Johnson, “não é uma oferta ao presidente, é aos EUA” e, continuou, “muitos outros países dão presentes a toda a hora”. No entanto, depois de os democratas terem bloqueado as audições de nomeações políticas do Departamento de Justiça no Senado, em protesto, um grupo de dez senadores escreveu uma carta ao inspetor-geral do Departamento de Defesa a pedir uma investigação à oferta que, segundo a Casa Branca, será alocada ao Pentágono para uso de Trump e, uma vez terminado o mandato, reverter para a biblioteca presidencial. “O Departamento de Defesa corre o risco de se envolver numa tentativa descarada de contornar as limitações constitucionais à aceitação de presentes pessoais de governos estrangeiros sem a aprovação do Congresso”, alertam. Trump, depois de ter dito que seria “estúpido” não aceitar a aeronave descrita como “palácio no céu”, voltou à carga: “Damos presentes para defender países que nem sequer existiriam em todo o mundo, países que nem sequer existiriam. Achei que foi um gesto bonito”, disse à Fox News. Em 2016, o então candidato à presidência criticou Hillary Clinton porque a Fundação Clinton aceitava doações dos países do Golfo, “países que oprimem mulheres, homossexuais e pessoas com outras religiões”. E meses depois disse que o Qatar tem sido “historicamente um financiador de terrorismo a um nível muito elevado”.