O presidente dos Estados Unidos mostrou-se otimista quanto ao fim da guerra em Gaza ao apresentar o plano desenvolvido pela sua administração no final do encontro com o primeiro-ministro israelita, o qual se mostrou de acordo com o documento. “É possivelmente um dos maiores dias da civilização”, começou por dizer Donald Trump aos jornalistas, numa comunicação sem direito a perguntas. Se o Hamas concordar, os cativos que mantêm há quase dois anos serão libertados no prazo máximo de 72 horas, Israel suspenderá as operações militares e também irá soltar prisioneiros; o grupo islamista aceitará depor as armas, entrará ajuda humanitária sem restrições e um novo governo entrará em funções, sem ligações ao Hamas nem à Autoridade Palestiniana. Caso contrário, Israel “vai acabar o seu trabalho”, garantiram ambos os líderes.A voz abatida de Donald Trump contrastava com o tom da sua mensagem: “É um dia histórico para a paz”, disse, embora sem quaisquer certezas de que o documento irá receber o aval do Hamas. “Ouvi dizer que o Hamas também quer que isto se concretize, e isso é positivo”, afirmou. “Tenho um pressentimento de que vai haver uma resposta positiva.” No entanto, se o grupo extremista que há quase 20 anos comanda o enclave não estiver de acordo, há luz verde da Casa Branca “para Israel fazer o que tem de fazer”. O chefe do governo israelita também salientou essa hipótese. “Estamos a dar uma hipótese de fazer isto de forma pacífica, mas se o Hamas rejeitar o plano ou supostamente concordar e não o fizer iremos acabar o trabalho. Da maneira difícil ou da maneira fácil, mas temos de fazê-lo”, garantiu Netanyahu. .Afinal são 20 os pontos do plano de Trump para Gaza.Trump, que mostrou esperança de que no futuro o Irão se junte a outros nos acordos de Abraão, fez questão de agradecer o papel dos líderes dos países árabes e muçulmanos na primeira linha das negociações e que, segundo o norte-americano, estão “comprometidos em desmilitarizar Gaza e em acabar com as organizações terroristas” no enclave. “Os países árabes e muçulmanos vão lidar com o Hamas.” Disse, por outro lado, que a ocupação militar israelita irá acabar de forma faseada enquanto o futuro Conselho de Paz, presidido pelo próprio Trump e no qual o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair “quer estar presente”, irá trabalhar de perto com o Banco Mundial e com um governo tecnocrático composto por palestinianos mas não só. “Muitos palestinianos querem viver em paz. Convoco os palestinianos a assumirem a responsabilidade pelo seu destino e a condenarem o terrorismo”, disse Trump antes de se virar para a Autoridade Palestiniana e dizer que esta terá de passar por um processo de reformas antes de poder assumir as rédeas do enclave. Um ponto que Netanyahu realçou como positivo, como aliás o plano no seu todo. “É um passo crucial para acabar com a guerra em Gaza e promover a paz de forma decisiva no Médio Oriente.” O israelita - apodado de “guerreiro” pelo anfitrião - aproveitou para acertar contas com quem o criticava por nunca ter apresentado um plano concreto sobre o futuro de Gaza. “Aqui está o plano.”. Trump confirmou a notícia de que ambos tinham falado ao telefone com o primeiro-ministro do Qatar, tendo Netanyahu aproveitado para expressar o “profundo arrependimento” pela violação de soberania e pela morte de um catariano no bombardeamento às instalações onde se encontravam os negociadores do Hamas. À Al Jazeera, uma fonte diplomática confirmou que os mediadores do Qatar e do Egito entregaram o plano de Trump à equipa de negociação do Hamas.Benjamin Netanyahu viu a pressão aumentar nos últimos dias. O próprio admitiu que o seu país iria enfrentar um período de “isolamento”. Ao nível doméstico, os partidos à sua direita anseiam pela anexação da Cisjordânia, e a sociedade civil exige um acordo que permita a libertação dos reféns mantidos pelo Hamas há quase dois anos. No plano externo, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovara dias antes uma resolução não vinculativa em favor da Declaração de Nova Iorque, de apoio à solução dos dois Estados. Uma dezena de países, entre os quais Reino Unido, França e Portugal, reconheceram a Palestina. .Palestina é o “maior elefante na sala” da Assembleia Geral da ONU.Na semana de alto nível, o seu discurso a prometer que iria “terminar o trabalho” na guerra em Gaza foi boicotado por dezenas de diplomatas que abandonaram o salão da Assembleia Geral. À margem da semana de debate, na reunião que Trump manteve com oito líderes árabes e muçulmanos, este assegurou que não permitiria a anexação da Cisjordânia. O próprio confirmou-o dois dias depois. “Não vou permitir. Não vai acontecer”, afirmou. Foi nesta reunião com os dirigentes da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Indonésia, Jordânia, Paquistão, Qatar e Turquia que foi apresentado pela primeira vez o plano da administração Trump para a paz em Gaza, e que entretanto recebeu várias alterações. “Acredito que aborda as preocupações de Israel e, igualmente, as preocupações de todos os vizinhos na região”, disse o enviado especial e amigo de Trump Steve Witkoff. Este encontrou-se no domingo com o primeiro-ministro israelita no hotel em que este estava alojado em Washington, junto com o genro de Trump, Jared Kushner. Segundo a imprensa israelita, estes reuniram-se durante duas horas para convencer Netanyahu a aprovar o plano. Ambos são empresários do setor imobiliário, e o marido de Ivanka Trump teve um papel importante no plano dos acordos de Abraão - a normalização de relações de vários estados com Israel. Um destes países, os Emirados, fez saber através do ministro dos Negócios Estrangeiros, xeque Abdullah bin Zayed, numa reunião com o líder israelita, que os acordos de Abraão ficariam feridos de morte caso o governo israelita avançasse com a anexação da Cisjordânia. Segundo a Reuters, o xeque também pressionou Netanyahu para aceitar o acordo.