Com a identificação do corpo do tailandês Sudthisak Rinthalak, trabalhador agrícola de 42 anos, horas depois de ter sido entregue pela Jihad Islâmica a Israel, o acordo de devolução de todos os sequestrados do 7 de outubro de 2023 fica a um corpo de estar cumprido. O que se segue, a segunda fase do plano norte-americano, não é claro, apesar das declarações de Donald Trump. O tailandês - um dos 31 daquela nacionalidade que foram sequestrados, além dos 46 que foram mortos - trabalhava no kibutz Beeri quando foi assassinado e levado de seguida para a Faixa de Gaza pela Jihad Islâmica, disse o exército israelita. A sua morte tinha sido declarada em maio do ano passado. Resta ao Hamas e aos seus grupos armados devolverem o corpo de Ran Gvili, um polícia de 24 anos que foi morto enquanto combatia os invasores no kibutz Alumim depois de ter ajudado pessoas a fugir do festival Nova. Desde o início do cessar-fogo iniciado em 10 de outubro, 20 reféns sobreviventes e os restos mortais de outros 27 foram devolvidos a Israel via Cruz Vermelha. Em troca, Israel libertou os corpos de centenas de palestinianos para Gaza. O regresso de todos os reféns era um ponto crucial da primeira fase do cessar-fogo repetidamente violado. Se Israel acusa o Hamas de ter morto três soldados desde 10 de outubro - e o último ataque, na quarta-feira, ter causado ferimentos a outros cinco - o Hamas acusara as forças israelitas de terem morto 366 pessoas, com um bombardeamento na cidade de Gaza a matar cinco pessoas, duas das quais crianças, e a ferir outras 32. Acresce a morte, na quinta-feira, do líder de uma milícia que combatia o Hamas. Yasser Abu Shabab foi morto em Rafah. O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu admitiu em junho que o seu país estava a armar clãs que se opunham ao grupo islamista. Argumentou então que iria pôr a salvo vidas dos seus soldados.Mas a morte de Shabab sinaliza os limites para a segunda fase do plano dos Estados Unidos. Este previa o desarmamento do enclave, mas até agora nada disso aconteceu. Israel, que tinha como uma das metas da guerra exterminar o Hamas, estima existirem cerca de 20 mil combatentes afiliados ao grupo em cerca de metade do território. A outra metade foi para onde o exército israelita retirou: ergueu uma “linha amarela” formada por blocos de betão à qual responsáveis de Telavive chamam de Muro de Berlim, dando a entender que foi criado um obstáculo duradouro. O documento assinado quer por Israel quer pelo Hamas em 9 de outubro dizia respeito apenas às questões da primeira fase. Não há qualquer entendimento sobre a segunda fase, cujas questões tratam da gestão de Gaza no pós-guerra. Além do desarmamento do Hamas, prevê o estabelecimento de uma autoridade tecnocrática supervisionada por um Conselho da Paz presidido por Trump, cuja segurança estará assegurada por uma força internacional. E será a essa força que as tropas israelitas entregarão o território, segundo o ponto 16 do plano de 20 pontos para pôr fim ao conflito. Ainda que mandatado por uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o envio de tropas é um dos temas sensíveis. A Indonésia e o Azerbaijão, por exemplo, sinalizaram que poderiam participar se a Turquia também fizer parte da missão. Mas Israel opõe-se, devido a uma alegada ligação entre Ancara e o Hamas. Nada que tire o otimismo ao presidente dos EUA. “Temos paz no Médio Oriente. As pessoas não se apercebem disso. A fase dois está a avançar. Vai acontecer bastante em breve”, promete Trump.